Pogacar gastou a segunda “bala” no Tour. Resta-lhe uma

O ciclista esloveno até ganhou a etapa (e ganha quatro segundos por via das bonificações), mas acaba por ser uma vitória agridoce, porque o que realmente importava, deixar Jonas Vingegaard para trás, não aconteceu.

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Pogacar e Vingegaard seguem juntos na estrada Reuters/CHRISTIAN HARTMANN

Após a etapa 16 da Volta a França escreveu-se “média-montanha nesta terça-feira, chegadas em alto na quarta e na quinta. Estas eram as oportunidades que Tadej Pogacar tinha para atacar Jonas Vingegaard na Volta a França, mas a primeira foi um tiro ao lado”.

Após a etapa 17, a ideia é mesma, mas acrescenta-se mais um tiro ao lado – e sobra apenas uma “bala” em terreno montanhoso, antes do contra-relógio. O ciclista esloveno até ganhou a etapa (ganhou quatro segundos por via das bonificações e está a 2m18s), mas parece ser uma vitória agridoce, porque o que realmente importava, deixar Vingegaard para trás, não aconteceu.

Porquê? Podem ser traçados vários cenários. Ou simplesmente não conseguiu, porque o ritmo foi forte nesta etapa montanhosa, ou porque está resignado com a falta de fraqueza de Vingegaard – improvável no esloveno, sempre ofensivo e ousado – ou uma terceira hipótese é estar a fazer um tremendo bluff, procurando desgastar Vingegaard com um ritmo alto antes de um ataque agressivo na última etapa montanhosa, agendada para esta quinta-feira.

O mais relevante deste dia acabou por ser a forma como Geraint Thomas selou virtualmente as contas do pódio, ganhando bastante tempo a todos os rivais nessa luta.

Emirates cresce

Esta etapa mostrou que de forma surpreendente – e até bizarra –, a Emirates parece melhorar à medida que lhe tiram ciclistas. Iniciou a etapa desta quarta-feira sem Rafal Majka, que não alinhou à partida, por lesão, deixando Tadej Pogacar com apenas três dos sete domestiques que levou ao Tour.

Ficou, curiosamente, em igualdade com Greg LeMond, que venceu a edição de 1989 e chegou a Paris com apenas três colegas – ganhando o Tour, Pogacar vai igualar esse recorde.

Apesar de estar com apenas três ajudantes – e Hirschi, que descola com os sprinters, nem conta como tal –, Pogacar não teve pudor em enviar Bjerg para a cabeça do pelotão a cerca de 50 quilómetros da meta. E foi até uma grande surpresa que o ciclista da Emirates tenha aguentado tanto tempo a impor ritmo e, sobretudo, um ritmo tão alto – reduziu muito o pelotão, que rolava com cerca de 15 ciclistas.

Quando entrou McNulty ao serviço começaram a cair nomes como Yates, Quintana (volta a falhar após uma boa etapa, tal como na segunda semana) e Gaudu.

Mais à frente havia uma fuga que chegou a ser um duo com duas “trutas”:Thibaut Pinot e Alexey Lutsenko, ambas “caçadas” mais tarde pelo grupo dos favoritos ao triunfo no Tour.

E o que realmente importava passava-se mesmo nesse grupo, já que McNulty pareceu ter ido buscar forças não se sabe bem onde, após um par de etapas em que mostrou fragilidades. Deixou cair Bardet, Thomas e Kuss, ficando apenas com Pogacar e Vingegaard – e num ápice, apesar de ter apenas quatro ciclistas em prova, a Emirates fazia o que parecia uma quimera: um dois contra um frente a Vingegaard. Caricaturando a situação, quanto menos ciclistas tem, melhor fica a equipa de Pogacar.

Ataques tímidos

O primeiro ataque de Pogacar chegou não a subir, mas apenas no cume da penúltima montanha, com o esloveno a tentar ganhar terreno na descida antes da escalada final. Tentativa 1: sem sucesso.

E ficava por saber se esta subida tinha sido uma oportunidade desperdiçada por Pogacar – e já não restavam muitas mais neste Tour – ou se tinha sido útil para desgastar Vingegaard antes da ofensiva final na escalada a Peyragudes (oito quilómetros a 8% de inclinação).

Não sendo uma subida especialmente longa, Pogacar teria, em tese, de atacar cedo, mas foi adiando até aos últimos metros da etapa. Tentativa 2: sem sucesso. Serviu “apenas” para ser o vencedor do dia – e “vencedor” é um conceito discutível, porque se houve vencedor foi Vingegaard, que sobreviveu a mais um dia montanhoso sem qualquer problema.

Para esta quinta-feira está agendada mais uma etapa de alta montanha – a última que permitirá a Pogacar mexer na corrida antes de um contra-relógio no qual poderá ganhar tempo a Vingegaard, mas dificilmente 2m18 segundos.

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