Quem é Andrea Fuentes, a treinadora que saltou para a piscina e salvou uma vida?

O nome da espanhola, de 39 anos, correu mundo, esta semana, depois de ter resgatado Anita Alvarez, que desmaiou durante uma prova nos Mundiais de Natação.

pessoas,impar,campeonato-mundo,natacao,hungria,
Fotogaleria
Andrea Fuentes, com Gemma Mengual atrás de si, venceu a medalha de prata em Pequim, na prova de duplas YVES HERMAN (arquivo)
pessoas,impar,campeonato-mundo,natacao,hungria,
Fotogaleria
Esta é a segunda vez que Anita Alvarez é resgatada por Fuentes EPA/Zsolt Szigetvary
pessoas,impar,campeonato-mundo,natacao,hungria,
Fotogaleria
O resgate não esperou pela decisão dos árbitros EPA/Zsolt Szigetvary
pessoas,impar,campeonato-mundo,natacao,hungria,
Fotogaleria
A nadadora saiu da água sem respirar Reuters/LISA LEUTNER

Ao ver que Anita Alvarez desaparecia dentro de água, em vez de subir à tona, Andrea Fuentes agiu rapidamente, saltando para dentro da piscina e salvando a atleta de natação artística, durante o Campeonato Mundial de Natação, em Budapeste, na Hungria.

Na sequência do salvamento, o nome da treinadora, de 39 anos, chegou às bocas do mundo. Mas quem é Andrea Fuentes? A espanhola é nada mais, nada menos do que a nadadora com mais medalhas na história da equipa nacional de Espanha.

Ao longo da sua carreira de 14 anos, de 1999 a 2013, conquistou quatro medalhas olímpicas, para além de outras 16 em campeonatos mundiais e 11 em campeonatos europeus. Como nadadora sincronizada, competiu nos Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas, de 2008, em Pequim, e de 2012, em Londres.

Antes da natação, a atleta praticava patinagem artística e ginástica. Mas, um encontro com a nadadora sincronizada Anna Tarrés, que visitou a sua escola perto de Barcelona, quando tinha 9 anos, viria a mudar o seu percurso desportivo. Em 1992, deixou de lado as modalidades que praticara até então e dedicou-se à natação sincronizada, conta-se no site da própria. Quatro anos depois decidiu começar a treinar para ser atleta de competição, o que se viria a concretizar em 1999.

Desde que se reformou, em 2013, que é não só treinadora de natação, como também se dedica à nutrição, área na qual se formou, e fundou o grupo Olympias, dedicado a espectáculos aquáticos. É ainda colunista no jornal El Mundo e, desde 2018 (ano marcado pela morte da sua irmã, Tina Fuentes, também atleta de natação sincronizada), é treinadora principal da selecção nacional dos EUA, tendo como parceira de trabalho a egípcia Reem Abdalazem.

Andrea Fuentes é casada com o ginasta catalão Víctor Cano, de quem tem um filho, Kilian.

Duas vezes heroína

Desde o salvamento que as reacções se têm multiplicado, incluindo da própria treinadora. “Tive de tirar uma das pessoas que mais amo da água e lutar para ela respirar”, contou Andrea Fuentes ao site Olympics.com. A antiga atleta medalhada lembra-se de ter visto a nadadora profissional a “descer” na piscina em vez de subir, o que a preocupou. “Queria que ela estivesse em segurança o mais depressa possível, e fui o mais rápido que pude” para dentro de água, explica.

“Agarrei-a e trouxe-a para a superfície”, continua. Quando as duas saíram da água, Fuentes reparou que a atleta “não respirava e que tinha a boca fechada”, disse a treinadora no programa El Larguero, da rádio espanhola Cadena SER. Por isso, decidiu dar-lhe “duas bofetadas e um grito para ela respirar”. Entretanto, acabou por chegar um socorrista, mas este “colocou-a com a boca para cima”, quando devia ter posto a nadadora com “o corpo de lado”. “Quase que tive de salvar os dois”, suspira.

À BBC, Fuentes contou que a primeira reacção da atleta foi apenas perguntar “porquê?”. No entanto, o incidente não demove Anita Alvarez ​de querer continuar a competir. “Ela quer terminar em força”, afirmou a treinadora à BBC. Garante, contudo, que só vai deixar a nadadora competir “se os médicos estiverem de acordo com isso”.

As imagens do salvamento correram mundo e a nadadora norte-americana, quando as viu, ficou chocada. Mas agora tem um outro olhar, que partilhou com o jornal El País: “Agora, acho as fotografias, de certo modo, bonitas. Ver-me debaixo de água, tão tranquila e calma, e ver a Andrea a mergulhar com o braço estendido, a tentar alcançar-me, como uma super-heroína.”

Alvarez acrescenta que o episódio só lhe reforçou a ideia de que “o lugar mais tranquilo do mundo é debaixo de água”. “Quando nos sentamos no fundo da piscina em silêncio, sentimo-nos leves e centrados em nós próprios”, resumiu.

A atleta começou a sua carreira profissional em 2014, depois de se graduar. E esta não é a primeira vez que é resgatada por Fuentes. No ano passado, aquando da qualificação para os Jogos em Barcelona, a nadadora dos Estados Unidos também desmaiou na piscina e foi salva pela treinadora.

Apesar do afogamento na actual prova, a atleta conseguiu concluir a sua série em sétimo lugar, com 87.6333 pontos. Entretanto, a Federação Internacional de Natação (Fina) anunciou, na quinta-feira, que irá rever os regulamentos actuais que impedem a intervenção de salva-vidas sem um sinal do árbitro.


Texto editado por Carla B. Ribeiro

Sugerir correcção
Comentar