Seca faz disparar casamento infantil na Etiópia, alerta UNICEF

Enquanto o país enfrenta a seca mais severa desde 1981, muitos pais estão a tentar encontrar maridos para as suas filhas adolescentes ou pré-adolescentes. Querem que elas se casem com membros de famílias mais ricas, que sejam capazes de as alimentar e proteger.

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As taxas de casamento infantil na Etiópia são das maiores à escala planetária Reuters/MOHAMED NURELDIN ABDALLAH

Enquanto a Etiópia enfrenta uma das piores secas dos últimos 40 anos, o casamento infantil está a disparar nalgumas das regiões do país mais afectadas pela crise. O alerta foi feito recentemente por Catherine Russell, directora executiva da Unicef.

Após três estações chuvosas ao longo das quais pouco choveu, milhões de pessoas no Corno de África estão a passar fome. Etiópia, Somália, Quénia e Djibouti são alguns dos países afectados por uma crise que, frisava em Fevereiro deste ano o Programa Alimentar Mundial da Organização das Nações Unidas, é a mais severa desde 1981.

As colheitas de milhões de agricultores estão destruídas e muitos animais domésticos morreram. Perante este cenário, muitas famílias abandonaram as suas casas, o que tem provocado um aumento de conflitos intercomunitários.

A Unicef afirma que a taxa de casamento infantil está a crescer de forma acentuada nas zonas da região administrativa de Oromia — província que rodeia a capital de Etiópia, Adis Abeba — que mais têm sentido os efeitos da seca. Segundo dados de governos locais que a organização humanitária recebeu na semana passada, foram registados, nessas zonas, 672 casos de casamento infantil entre Fevereiro e Agosto do ano passado. O número salta para 2282 quando se considera o período entre Setembro de 2021 e Março de 2022.

Catherine Russell classifica este aumento como “muito dramático”, estimando também que mais de 600 mil crianças terão deixado os estudos devido à seca. Desesperados, muitos pais estão a tentar encontrar maridos para as suas filhas adolescentes ou pré-adolescentes, relata o jornal britânico The Guardian. Querem que elas se casem com membros de famílias mais ricas, que sejam capazes de as alimentar e proteger.

As taxas de casamento infantil na Etiópia são das maiores à escala planetária. “Segundo dados demográficos de 2016, 40% das raparigas etíopes casam-se antes dos 18 anos e 14% antes dos 15”, destaca ainda o artigo no jornal britânico.

A seca também está a provocar casos de desnutrição severa. Catherine Russell, que visitou sítios onde a Unicef está a acompanhar crianças desnutridas, disse que há pessoas que, devido à crise, estão a ser forçadas a beber água contaminada. Isto, repara, aumenta o risco de virem a contrair cólera.

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