“Venho votar porque tenho esse direito”

Em Metz, no Nordeste de França, a votação de manhã atraiu um bom número de pessoas que recusam reforçar os já elevados números da abstenção.

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Nuno Ferreira Santos

Com os níveis de abstenção (às 17h locais a taxa de participação era de 65%, contra 69,42% em 2017) a assombrar a primeira volta das presidenciais francesas, este domingo, “Madame Ladjani”, como a própria se apresenta, é rápida a explicar porque veio votar: “Porque tenho esse direito. Em França as mulheres só têm o direito de voto desde 1944. Tenho 58 anos e sempre votei. É o meu dever de cidadã”.

A assembleia de voto que funciona na Mairie de Metz, no departamento de Moselle, Nordeste da França, não tem muita gente de manhã cedo, mas, a partir de uma certa hora, enche e a fila ocupa a escadaria, chegando à rua. “São as pessoas que saíram agora da missa”, explica uma funcionária. A catedral de Saint Étienne fica mesmo em frente da Mairie e para muitos dos que vivem nesta cidade de 118 mil habitantes, esse é o momento ideal para ir votar.

É também a altura escolhida pelo presidente da Câmara, François Grosdidier, para exercer o seu direito. “Penso que a abstenção aqui será próxima da média nacional”, diz ao PÚBLICO, enquanto aguarda a sua vez. “Em geral é sempre um pouco mais elevada nas grandes cidades do que nas pequenas.”

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François Grosdidier, presidente da Câmara de Metz Nuno Ferreira Santos

O panorama a meio da manhã parece-lhe bastante bom, mas aconselha cautela. “A mobilização parece-me forte, mas intensidade da votação a uma hora determinada não é necessariamente representativa do que será ao longo de todo o dia”, diz, explicando que em Metz a população é um pouco mais velha no centro da cidade e mais jovem em alguns bairros, e geralmente a votação é mais forte no centro do que na periferia.”

Num das mesas está Graça, portuguesa a viver em Metz e que é voluntária das equipas de apoio às eleições. Ajuda a identificar nos cadernos eleitorais os eleitores que de seguida devem retirar as folhas, colocadas em cima de uma mesa, com os nomes de cada um dos candidatos. Têm a opção de retirar todas as folhas (são 12 os candidatos nesta primeira volta) ou, no mínimo, duas.

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Outro dos funcionários explica que há uma vigilância apertada por parte de quem está nas mesas para que não se perceba em que candidato cada pessoa vai votar. Espera, no entanto, que no futuro, como prometido, o sistema venha a mudar. “Assim gasta-se muito papel”, diz, referindo-se às folhas com os nomes de todos os candidatos rejeitados que vão parar ao balde do lixo. “É a França”, ironiza.

A sair de uma das cabines, Juliette Garban vem rodeada de quatro crianças, que, uns minutos antes, se divertiam enrolando-se nas cortinas. “Viemos votar porque esta é uma eleição muito importante e temos consciência da nossa dívida cidadã”, declara. “Nem sempre temos uma oportunidade de mostrar o que pensamos. Nem sequer sigo especialmente a campanha, mas vimos sempre votar, e fazemos questão de trazer as meninas para elas perceberem um pouco o que são umas eleições. Não somos pela abstenção, é verdade que ela também diz alguma coisa, mas não conta.”

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Juliette Garban e a família, depois de votar na Mairie de Metz Nuno Ferreira Santos

As crianças entusiasmam-se. “Vamos sair num jornal de Portugal?”. O marido de Juliette aproxima-se. Também ele acabou de votar. Antes de se despedir, conta que estiveram de férias em Portugal e adoraram Lisboa: “Vão acompanhar a noite eleitoral, é? Ah, bien, vai ser quente.”

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