Carta arqueológica vai reunir património cultural subaquático do litoral alentejano

Projecto Um Mergulho na História venceu o Orçamento Participativo Portugal de 2018 e vai financiar dezenas de acções de prospecção nesta zona da costa.

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Em Fevereiro do ano passado os arqueólogos recolheram peças de uma embarcação do século XVII em Melides

O património cultural subaquático do Alentejo Litoral vai ser recuperado e inventariado e constar de uma carta arqueológica, a elaborar no âmbito de um projecto da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) quer resulta de uma proposta vencedora do vencedor do Orçamento Participativo Portugal (OPP) 2018.

De acordo com os promotores, o projecto, intitulado “Um Mergulho na História” (UMH) vai permitir caracterizar, ao longo de dois anos, os vestígios arqueológicos do património cultural náutico e subaquático da região do litoral alentejano. O objectivo é “elaborar uma carta arqueológica subaquática” onde vão ser identificados “os sítios e os vestígios de arqueologia náutica subaquática”, explicou à agência Lusa António Batarda, chefe da divisão da DGPC dedicada ao património arqueológico.

“Há muito trabalho feito já em arquivo, mas também a partir de dados que são adiantados pela comunidade ribeirinha, como pescadores, mergulhadores, pessoas que frequentam a praia e associações locais, que vão dando conta de algumas descobertas”, indicou. Segue-se uma “fase de validação e de visita a alguns sítios” e “de georreferenciação” para que, com estas ferramentas, seja possível “construir uma carta para esta região” que “identifique estes vestígios de arqueologia náutica subaquática”, adiantou o responsável da DGPC.

Com uma dotação financeira de 300 mil euros, estão previstas “dezenas” de missões de prospecção e de localização de sítios arqueológicos submersos nos concelhos de Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém e Sines, no distrito de Setúbal, e Odemira (Beja). Segundo o coordenador, o processo passou por “várias fases” e, em 2020, depois de assinado o protocolo de colaboração entre a DGPC e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), surgiram momentos de “incerteza”, devido à pandemia de covid-19, que impediram o seu desenvolvimento.

O projecto UMH é oficialmente apresentado esta sexta-feira, em Alcácer do Sal, durante uma oficina de arqueologia fluvial que, durante três dias, vai reunir especialistas nacionais e estrangeiros nesta área. “Já existem alguns trabalhos que estão a ser feitos no litoral alentejano”, como campanhas de “prospecção geofísica” no rio Sado e de “trabalhos arqueológicos” na zona de Tróia, mas “é a partir de agora, com a cerimónia de lançamento, que o projecto arranca oficialmente”, explicou o responsável. Também na Lagoa de Melides, no concelho de Grândola, “participámos na identificação dos destroços arqueológicos de um navio holandês do século XVII”, em 2021, indicou.

O projecto da DGPC engloba também o desenvolvimento de um sistema de informação geográfico que suporte os processos de decisão e gestão do património cultural subaquático do Alentejo e o registo de análise e inventariação dos sítios arqueológicos do litoral alentejano. Outros dos objectivos são a caracterização dos vestígios arqueológicos relacionados com o património cultural náutico e subaquático decorrente dos trabalhos de campo, a criação de conteúdos em formato digital, virtual e realidade aumentada e a participação e o envolvimento com as comunidades locais.

Na vertente de ensino, está igualmente previsto “proporcionar formação e treino em arqueologia náutica e subaquática a alunos do ensino superior” da Universidade Nova de Lisboa e da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (UP). O projecto é desenvolvido com o apoio dos municípios de Alcácer do Sal, Grândola e Sines, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Instituto de Arqueologia e Paleociências da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, Universidade de Évora e Faculdade de Engenharia da UP.

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