Porto quer usar linhas de água da cidade para responder às alterações climáticas

Maioria das ribeiras do Porto estão entubadas. Município traçou plano de três anos para adaptar território e responder às alterações climáticas. Novos parques urbanos são parte da solução

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O Porto tem 85 quilómetros de linhas de água Paulo Pimenta

Quando chuvas intensas caírem no Porto nos próximos tempos, a linha de metro junto ao hospital de São João dificilmente será inundada. A protecção é conferida pelo Parque Central da Asprela, inaugurado há dias naquela zona, que se transforma numa grande bacia de retenção quando episódios desses acontecem. A solução de base natural é uma das apostas do Plano de Valorização e Reabilitação das Linhas de Água do Município do Porto (PVRLA), apresentado esta quinta-feira. Se as medidas pensadas forem executadas, diz o vice-presidente da autarquia, Filipe Araújo, o território estará “muito mais adaptado às alterações climáticas” e, dessa forma, haverá “custos sociais e económicos muito inferiores”.

A necessidade de olhar para o tema é antiga. E na empresa municipal Águas do Porto é um trabalho com já 15 anos, sublinhou o administrador executivo Rúben Fernandes. O caminho por fazer é, apesar disso, muito longo, admitiu: “Queremos fazer muito mais. Temos de aumentar a resiliência dos territórios e das populações.” Dos 85 quilómetros de linhas de água da cidade – distribuídos entre quatro rios e 13 ribeiras –, “82% estão entubados”. E isso não facilita a resolução dos grandes problemas existentes: aluimentos, inundações e descargas indevidas (com origem industrial, obras e águas residuais).

O PVRLA – que deverá ser concretizado nos próximos dois anos – não define que percentagem de ribeiras ambiciona desentubar, diz o vereador da Inovação e Ambiente, Filipe Araújo, questionado pelo PÚBLICO. Mas o trabalho de casa principal está feito no Plano Director Municipal (PDM), “pela primeira vez criado com base na estrutura ecológica”: “Temos cadastradas as linhas de águas que existem na cidade e as que queremos potenciar.”

Como se constroem os parques?

É com esses dados que a Câmara do Porto tem definido onde criar os novos parques urbanos da cidade. O PVRLA, inserido na estratégia municipal de adaptação às alterações climáticas, define a “estratégia” para esses espaços. Além do Parque Central da Asprela, com seis hectares, a autarquia tem as suas grandes apostas no Parque da Alameda de Cartes (que avança ainda este ano), no parque da Lapa (que arranca em 2023) e no parque da Ervilha, na Foz – tudo zonas onde existem linhas de água. Neste momento, os parques da cidade já não têm, por exemplo, colectores de águas pluviais. O que é um passo importante para a cidade-esponja que se ambiciona: “No parque da cidade, por exemplo, toda a água que cai corre para zonas que fazem infiltração directa no solo.”

Um projecto abandonado foi o de desentubar um troço de 700 metros da ribeira de Aldoar na Avenida de Boavista. A intervenção prevista para 2018 caiu por falta de financiamento, disse Filipe Araújo questionado sobre a empreitada, admitindo que essa ideia não irá avançar.

O PVRLA, já em fase de cadastro, vai definir as metodologias a usar na reabilitação das ribeiras da cidade, em que pontos isso será feito ou em que geografias essas alterações são mais urgentes. Criar mais bacias de retenção, apostar cada vez mais em soluções de base natural e intervir na impermeabilização dos solos são algumas das apostas, adiantou Rúben Fernandes durante a apresentação do plano.

Também os cidadãos, “os principais guardiões das nossas ribeiras e rios”, devem ter uma palavra a dizer. E os guarda-rios têm sido também importantes, elogiou Filipe Araújo: “Temos uma equipa que percorre todas as ribeiras e vai monitorizando a qualidade da água, tentando perceber se temos alguém a prevaricar.”

Os episódios de chuva intensa serão cada vez mais frequentes. E apesar de o Porto ter uma rede separativa de água centenária - com uma rede para saneamento e outra para águas pluviais – “nem sempre os tubos que estão debaixo da terra para encaminhar essas águas conseguem aguentar essas chuvas”. Para responder a isso, a Câmara do Porto tem “vários planos”, diz Filipe Araújo: além da reabilitação das linhas de água, é preciso acalmar a velocidade com que a água cai, com mais árvores e telhados verdes. No final, os “custos elevados” – com impactos sociais e económicos – podem também ser reduzidos.

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