Mais de mil crianças presas por ligações ao terrorismo no Iraque

ONU denuncia que entre os detidos há crianças de nove anos. Os menores denunciam que são torturados pelas forças de segurança para que confessem ligações ao terrorismo.

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Crianças iraquianas num autocarro à porta de um campo de refugiados em 2017 SUHAIB SALEM/Reuters

As autoridades iraquianas mantinham detidas no final do ano passado mais de um milhar de crianças (1091), algumas delas com apenas nove anos, acusadas de serem ameaças à segurança do Estado e de pertencerem ao Daesh, denunciam as Nações Unidas.

A Human Rights Watch (HRW) garante que muitas destas crianças nem sequer estavam envolvidas na organização jihadista, nem participaram em quaisquer acções violentas: “Alguns disseram que trabalhavam como cozinheiros ou condutores”, sem intervir em combates, disse a directora para os direitos da criança da organização não-governamental, Jo Becker.

Na sua avaliação desta semana sobre os menores no Iraque, a ONU revela uma descida substancial dos casos de violações graves contra a população infantil entre Agosto de 2019 e Junho de 2021 (de 2114 para 317), “possivelmente atribuível ao progresso logrado na luta contra” o grupo jihadista, no entanto, o número de crianças detidas continua demasiado alto.

“A maioria das crianças foram objecto de abusos por parte das autoridades iraquianas”, diz a HRW, salientando que grande parte dos testemunhos recolhidos dão conta da violência que sofreram às mãos das autoridades: “A maioria das crianças disse que foi torturada pelos seus interrogadores para obter confissões. Descreveram agressões com tubos de plástico, cabos eléctricos ou varas, às vezes durante horas. Quase todos disseram que acabaram por confessar a sua associação ao Estado Islâmico [Daesh] por acreditarem que não tinham outra opção”, explica Jo Becker.

As Nações Unidas criticam as forças iraquianas por manterem 1091 crianças detidas por questões ligadas à segurança nacional. “As crianças menores de 18 anos realmente ou presumivelmente ligadas a grupos armados, incluídos aqueles que a ONU designa como terroristas, como o Estado Islâmico [Daesh], devem ser considerados e tratadas sobretudo como vítimas”, explica a representante especial do secretário-geral para a Infância e Conflitos Armados, Virginia Gamba.

“As crianças retidas por esses motivos devem ser libertadas de imediato e entregues a actores civis. A sua detenção deve utilizar-se apenas como último recurso e pelo mais breve período de tempo possível”, acrescentou a diplomata argentina.

O relatório da ONU refere ainda que o repatriamento de crianças estrangeiras do Iraque prosseguiu no período referido, com um total de 627 enviadas para o seu país. A que se junta o repatriamento inicial de famílias iraquianas do acampamento de Al Hol, na Síria, de que faziam parte 245 crianças.

As forças iraquianas declararam em 2019 a sua vitória contra as forças do Daesh no Iraque, no entanto, a luta recrudesceu na segunda metade de 2021. Segundo o cálculo das autoridades, o número de membros do grupo terrorista na Síria e Iraque está entre 6 mil e 10 mil que agora se concentram em operações de guerrilha, sobretudo em áreas periféricas.

De acordo com o Meir Amit Intelligence and Terrorism Information Center, instituição israelita que recolhe e divulga informação sobre organizações terroristas, os líderes do Daesh continuam a manter a capacidade de angariar fundos para a sua causa fora da Síria e do Iraque e têm actualmente uma quantia de entre 25 milhões a 50 milhões de dólares. com Europa Press

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