De que vale ter um Vasco no bolso?

Numa altura em que há várias aplicações de tradução gratuitas, a Vasco Electronics pede 289 euros por um pequeno “tradutor de bolso” que traduz voz, imagens e chamadas. Fizemos o teste.

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Vale a pena investir num “tradutor de bolso”? Em 2022, parece redundante comprar um aparelho para traduzir conversas quando há aplicações gratuitas a prometer o mesmo, mas o Vasco Translator M3 (289 euros) tem algumas vantagens relativamente a um smartphone. O tradutor não depende de uma ligação Wi-Fi ou da compra de dados móveis para funcionar, é “fluente” em mais de 70 línguas e não gasta a bateria do telemóvel. Estes são alguns dos pontos fortes do pequeno aparelho que o PÚBLICO testou durante alguns dias; desde Fevereiro que é possível encontrá-lo fisicamente em lojas da iServices em Portugal. O nome — Vasco — é uma homenagem ao explorador português Vasco da Gama.

“Quando algo é grátis, nós somos o produto. As apps não são grátis, geralmente pedem uma subscrição mensal. Ao comprar o Vasco M3, nós oferecemos os dados móveis para fazer as traduções. Paga-se uma vez”, explica ao PÚBLICO o responsável pela marca em Portugal, João Fernandes.

A marca, que nasceu em 2008 na Polónia, tem subscrições anuais de pacotes de dados com várias operadoras internacionais (em Portugal, o acordo é com a Vodafone) para os seus aparelhos mais recentes funcionarem, sem custos adicionais, em 200 países. O tradutor liga-se automaticamente a uma rede nova depois de passar uma fronteira; o Wi-Fi é uma opção quando não há rede disponível.

A utilização é simples. Ao ligar o aparelho, que lembra um colorido iPod nano dos anos 2000, escolhe-se um par de idiomas através do ecrã de toque: por exemplo, português (Portugal) e francês (Canadá). Os algoritmos foram treinados para reconhecer variações idiomáticas e sotaques de diferentes países. As línguas que não lêem as traduções em voz alta aparecem com um ícone de um pequeno altifalante riscado.

Depois, para traduzir uma frase, basta dizê-la mantendo pressionado um dos dois botões na parte da frente do aparelho (neste caso, um activa o tradutor português e o outro o francês). Quando se larga o botão, o aparelho repete a frase noutra língua. O processo é bastante rápido e as vozes que o PÚBLICO testou (Português, Francês, Espanhol e Mandarim) lembram falantes nativos, ainda que com vozes um pouco robóticas. Quando não há um “leitor de voz” disponível, o texto aparece no ecrã.

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O Vasco também é capaz de traduzir chamadas telefónicas e texto que aparece em imagens graças a uma pequena câmara na parte de trás do aparelho — é útil para traduzir menus em restaurantes, por exemplo.

Há uma função para traduzir reuniões onde são falados mais de dois idiomas, mas o sistema não é capaz de compreender quando uma pessoa incorpora palavras de outras línguas numa frase. O sistema tropeça quando uma pessoa em inglês tenta pedir direcções para o Mosteiro dos Jerónimos (“How do I get to Mosteiro dos Jerónimos?").

O aparelho também tem alguma dificuldade em compreender palavras mais complexas: por exemplo, otorrinolaringologista (o Vasco traduziu “shopkeeper language” — algo como “linguagem do lojista”).

Tal como outros sistemas de tradução automáticos, o Vasco funciona graças a algoritmos que estudam extensas bases de dados de materiais traduzidos para fazer essa tarefa automaticamente. É uma área da inteligência artificial que está em expansão e deve atingir os 203 milhões de euros até 2026, a uma taxa de crescimento anual (CAGR) de 7,1%, segundo dados da analista de mercado Mordor Intelligence.

Usado por governos e militares

Quanto à privacidade: as traduções do Vasco dependem de Internet, mas a marca explica que as informações são encriptadas. “A voz dos utilizadores não é transferida. O aparelho converte a mensagem áudio numa mensagem escrita. É isso que é encriptado e enviado para os nossos tradutores onde é traduzido”, esclarece João Fernandes, da Vasco Electronics.

A marca diz que não considera sistemas de tradução gratuitos como concorrentes directos. “Somos um aparelho dedicado à tradução. Não se pode comparar um smartphone que serve para várias coisas com um aparelho que só se foca em traduzir”, salienta João Fernandes, da Vasco Electronics, que nota que os aparelhos são utilizados por governos, instituições militares e de saúde. “Isto é um aparelho que ajuda a criar laços entre pessoas de todo o mundo e pode ajudar pessoas que estão a aprender línguas novas.”

Apesar de alguns lapsos, o aparelho é fácil de utilizar, cabe confortavelmente no bolso e vem com uma bateria que aguenta facilmente vários dias. É uma boa opção para quem precisa de um tradutor profissional para o trabalho ou viaja frequentemente. Se apenas precisa de traduzir menus ou aprender a pronunciar palavras noutras línguas ocasionalmente, pode valer mais a pena recorrer a apps gratuitas ou aos tradutores incorporados nos smartphones de marcas como a Samsung, a Apple e a Pixel (da Google).

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