Em La Palma, entrou em erupção o turismo do vulcão

As visitas com foco no Cumbre Vieja não param de aumentar. Poderá este novo turismo ajudar a economia da ilha, uma das áreas mais pobres e uma das ilhas menos visitadas de Espanha? E será bem recebido? “O vulcão tem de devolver a esta ilha e aos seus habitantes o que lhes tirou”, diz um dos autarcas locais.

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Cumbre Vieja Reuters/BORJA SUAREZ

A devastadora erupção vulcânica na ilha de La Palma, que durou três meses e foi dada por oficialmente terminada nos finais de Dezembro, pode, afinal, ter o seu lado positivo para esta que é uma das zonas mais pobres de Espanha.

Um cenário com superfícies solidificadas de lava até 70 metros de altura e gases ainda a sair da cratera estão a atrair turistas para a ilha: querem ver com os seus próprios olhos as consequências de uma erupção que durou 85 dias.​

A procura de excursões sob o mote do vulcão disparou e as autoridades estão a investir fortemente na promoção de La Palma – uma das menos visitadas das Ilhas Canárias, arquipélago tradicionalmente muito dependente do turismo para reconstruir a sua economia.

Mas têm de equilibrar as suas visões de futuro para a ilha com as necessidades mais urgentes dos milhares de pessoas, cujas casas e meios de subsistência foram destruídos, e para quem ver estes turistas à volta da destruição poderá ser profundamente insensível. Sem esquecer que é necessário manter sob vigilância qualquer nova actividade vulcânica.

Cumbre Vieja REUTERS/BORJA SUAREZ
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Cumbre Vieja REUTERS/BORJA SUAREZ

“Apesar de desencadear tanta destruição, o vulcão criou oportunidades e o turismo é uma delas”, diz Mariano Hernandez Zapata, que lidera o Governo da ilha.

A Islândia e o Havai assistiram a um aumento similar de visitantes após terem sofrido erupções vulcânicas.

Em La Palma, por exemplo, o número de navios de cruzeiro que param na ilha aumentou, diz Zapata, que defende que trazer mais turistas poderia ajudar La Palma a diversificar a economia muito baseada na agricultura.

O Governo espanhol anunciou na semana passada um plano de 9,5 milhões de euros para promover o turismo em La Palma depois da quebra em mais de 50% de chegadas de turistas nos últimos quatro meses de 2021.

"O vulcão tem de devolver a esta ilha e aos seus habitantes o que lhes tirou”, diz Sergio Rodriguez, presidente da câmara de El Paso, uma das cidades mais devastadas, com áreas cobertas por intermináveis montes de cinzas e fracturadas por riachos de lava.

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REUTERS/Borja Suare

Rodriguez está optimista quanto a potenciais projectos que procurem explorar a erupção – percursos em redor do vulcão, um centro de convenções centrado na ciência ou um teleférico com vista sobre áreas devastadas.

O turismo do vulcão em expansão

O negócio já está em expansão para a empresa Get Holidays, que propõe uma viagem de 11 horas à volta do vulcão para turistas da ilha vizinha de Tenerife a 125 euros por adulto.

Há um ano, cerca de 30 pessoas por semana chegariam a La Palma vindas de Tenerife para um tour geral. Esse número subiu para 1200 durante a erupção e é agora de cerca de 150 por semana, diz o fundador italiano da empresa Basso Lanzone.

“Embora o vulcão tenha parado, é muito impressionante”, disse a turista alemã Ulrike Wenen durante um passeio recente. “Se as pessoas que aqui vivem não se importarem, o que é o mais importante, é fantástico vê-lo”.

Os visitantes foram levados de autocarro para uma área rodeada por montes de cinzas e onde um riacho de lava engoliu várias casas. Vários turistas posaram para fotografias.

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Ana Garcia em Mazo REUTERS/Borja Suarez

A astrofísica e residente de La Palma Ana García, 47 anos, costumava fazer quatro passeios por semana antes da pandemia, mostrando aos visitantes os céus nocturnos limpos da ilha. Agora está a considerar fazer um curso de vulcanologia. “Temos de pensar como sobreviver primeiro. E pensar como podemos mudar o nosso negócio”, diz.

García está a ganhar menos de 10% das suas receitas pré-pandemia e esforça-se para reunir pessoas suficientes para um passeio de turismo astronómico por semana, mas espera que a atracção do vulcão possa ajudar a reavivar o negócio.

O desespero dos residentes

As línguas do vulcão de rocha derretida – até 4 quilómetros de largura espalharam-se por 1219 hectares, destruindo cerca de 3000 edifícios e terras agrícolas. Dos 84.000 habitantes da ilha, 7000 tiveram de ser evacuados. La Palma também perdeu 690 das suas 16.400 camas turísticas.

A professora Esmeralda Martín, 39 anos, teve apenas dois minutos para fugir da casa onde vivia há dez anos anos, com o seu marido e dois filhos pequenos. A casa está agora enterrada sob 40 metros de lava. A casa dos seus pais e os bananais também desapareceram.

Ela está frustrada por as autoridades terem excluído a reconstrução de casas em lava por agora, pois poderá levar anos a arrefecer e a área carece agora de água e electricidade.

“Muitas famílias perderam tudo e é muito difícil começar do zero”, diz Martín, olhando para o cobertor negro de lava que cobre a sua casa.

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Enrique Perez e Esmeralda Martin no miradouro de Tajuya REUTERS/Borja Suarez

O seu marido Enrique Perez, 36 anos, diz que o vulcão poderia ajudar a impulsionar o turismo, mas ele acredita que não deve ser uma prioridade.

“As vidas das pessoas que perderam tudo são mais importantes”, diz ele.

“Temos de superar o vulcão e procurar formas de as pessoas terem novamente esperança, sonhos e um futuro”, diz a sua esposa.