Portugal é terceiro país com mais casos de covid-19 na UE, mas é também o terceiro com menos restrições

Portugal segue apenas atrás da Dinamarca e da Eslovénia em termos de casos por milhão de habitantes, mas é também dos países com medidas mais ligeiras da UE. Vacinação e dominância de uma variante com menor gravidade fazem com que a incidência elevada já não seja sinónimo de medidas mais severas.

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PAULO PIMENTA

Portugal é nesta altura o terceiro país da União Europeia (UE) com mais casos de infecção relativamente à população, mas é também o terceiro Estado-membro com menos restrições em vigor.

De acordo com os dados do site estatístico Our World in Data (OWiD), Portugal está apenas atrás da Dinamarca e da Eslovénia na lista de países com mais casos diários de contágio pelo SARS-CoV-2 por milhão de habitantes, com um registo de 4990 casos por milhão de habitantes a sete dias – a Dinamarca apresenta 7486 e a Eslovénia 7303. Logo atrás do registo português surgem a Estónia e os Países Baixos com 4787 e 4630 casos por milhão de habitantes a sete dias, respectivamente.

Destes cinco países que lideram a UE neste indicador, Portugal é o único que apresenta uma tendência de diminuição da incidência, com a Dinamarca a mostrar uma aparente estabilização dos contágios e os outros três países a apresentarem curvas crescentes de casos diários.

Invertendo a tabela, Malta é nesta altura o país da UE com a incidência mais baixa, com 414 casos por milhão de habitantes a sete dias, a quem se segue a Irlanda (994), a Polónia (1286), a Roménia (1570) e a Hungria (1630).

No entanto, o número elevado de casos, tanto em Portugal como em outros países com incidência alta, não se traduz numa maior severidade das medidas em vigor nos países.

Incidência alta não significa mortalidade elevada

Mesmo a atravessar uma fase em que está com a incidência mais alta desde o início da pandemia, Portugal é apenas o terceiro país da UE com as medidas menos severas, de acordo com o índice de severidade das medidas aplicadas pelos governos (Goverment Stringency Index) também divulgado pelo OWiD. E nem sequer é o exemplo mais evidente da actual desconexão entre a incidência e as medidas em vigor que se verifica em alguns países: a Dinamarca, que tem a incidência mais alta da UE, é também a nação que apresenta o valor mais baixo no índice de severidade, depois de ter levantado todas as restrições no início desta semana.

Dos cinco países com a incidência mais alta da UE, a Eslovénia é a única que apresenta um valor alto de severidade das medidas, com 75 – o suficiente para estar em terceiro entre os Estados-membros, atrás da Alemanha (84,3) e da Itália (76,9). Em relação a estes países com níveis altos de severidade, é importante ter em conta que, para a avaliação de cada país, é tida em conta a medida mais dura aplicada em termos regionais. Isto significa que, se um país ordenar um recolher obrigatório para apenas uma região, a pontuação global do país sai afectada.

Do lado oposto do espectro, a Dinamarca tem um índice de 16,7, seguido da Irlanda (23,2), de Portugal, com 31,5 e da Espanha e Croácia (37,96). À Dinamarca deve juntar-se em breve a Suécia, que também anunciou o levantamento de todas as restrições.

Se antes uma elevada incidência era prenúncio de sobrecarga dos sistemas de saúde, devido a internamentos graves e consequente aumento da mortalidade, esta passou agora para um segundo plano nos indicadores da pandemia, em particular em países com elevadas taxas de vacinação. Isto graças à protecção concedida pelos esquemas vacinais, principalmente com a dose de reforço, aliada à prevalência da variante Ómicron, que apresenta um risco de internamento menor que a variante Delta.

Uma prova disso mesmo é que nenhum dos cinco países com a incidência mais alta da UE (Dinamarca, Eslovénia, Portugal, Estónia e Países Baixos) está no topo da lista de países europeus em relação à mortalidade. Nesse indicador, Portugal tem o valor mais alto dos cinco (4,68 mortes por milhão de habitantes a sete dias), estando no décimo lugar, ligeiramente acima do registo da União Europeia (4,15).

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