Os jovens, a música e as bandas filarmónicas

A importância das bandas filarmónicas na vida dos jovens nas regiões mais desfavorecidas e a dinâmica cultural que a banda tem, na capacidade de criar na sociedade onde está inserida, devem ser encaradas por parte dos decisores políticos locais e centrais como um património a preservar.

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ADRIANO MIRANDA

Por este país fora existem certamente centenas de bandas filarmónicas, das quais fazem parte várias gerações das mais variadas vertentes profissionais. Em regra, as bandas filarmónicas, “o diamante em bruto da cultura local”, animam festas locais: os seus membros percorrendo as ruas das vilas e aldeias do nosso país com instrumentos aos ombros.

A intervenção dos municípios no apoio a esta forma de integração dos mais jovens na aprendizagem da música é francamente diminuta. Tudo isto é ainda olhado como mais uma actividade cultural. Se na verdade o é, um facto inegável é que as bandas filarmónicas podem ter um papel decisivo no futuro de muitos jovens que acabam por seguir de forma mais profissional a aprendizagem da música.

A importância das bandas filarmónicas na vida dos jovens nas regiões mais desfavorecidas e a dinâmica cultural que a banda tem, na capacidade de criar na sociedade onde está inserida, devem ser encaradas por parte dos decisores políticos locais e centrais como um património a preservar. Delas, em grande parte, depende o único garante da vitalidade cultural de uma determinada região, permitindo igualmente o acesso de forma quase gratuita à educação musical.

Se os dados da influência da música no desenvolvimento dos jovens são conhecidos, sobretudo nos resultados escolares, então as bandas filarmónicas devem ser vistas não como um grupo de jovens que se juntam para tocar uns instrumentos e passar o tempo, mas sim como uma instituição local que deve ser preservada para continuar a fazer crescer a comunidade que vê na sua banda a única oportunidade de vivenciar cultura.

O estigma do amadorismo foi diluído pelo tempo na capacidade de devoção, há que dizê-lo de forma clara, em manter activas as bandas filarmónicas. E a formação mais profissional na área musical dos seus dirigentes é prova disso mesmo, o que aumenta significativamente a sua qualidade.

Em muitas regiões do nosso país, é pela frequência em bandas filarmónicas que os jovens possuem a única hipótese de culturalmente se desenvolverem.

A sua extinção, pela falta de apoios e com a continuação da desvalorização, contribui para que os mais novos sintam que a sociedade não responde de forma eficaz ao acesso à cultura nas regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos.

A ideia de um país cosmopolita, evoluído em vários aspectos sociais e culturais, não é tão real como se possa pensar.

Não percebo nada de música, mas é com orgulho que vou vendo, aqui e ali, o desfile alinhado de jovens e menos jovens a animar as ruas em épocas de festas. Só o amor a tudo isto pode justificar a racionalidade da existência de muitas bandas filarmónicas, devendo-se olhar para o conceito com uma visão patrimonial e imaterial que dá a muitos jovens o gosto por um caminho mais profissionalizante.

Se para muitos dos nossos jovens é aqui que tudo começa, não apoiar este património secular de forma mais concreta e robusta pode significar o caminho para o fim de uma não descoberta.

Por muitas e diversas razões, os municípios devem perceber, de forma inequívoca, que há instituições culturais nas nossas pequenas freguesias que são essenciais manter, sob pena de uma desertificação cultural total, onde os jovens têm um papel fundamental pela apelação na sua continuação.

No entanto, o papel importante das bandas filarmónicas não se esgota no pré-ensino voluntário da música e dos desfiles nas ruas em épocas festivas; também deve servir para que possam dinamizar os muitos coretos cada vez mais degradados, com uma importância histórica inclassificável que se teima em esquecer, não se percebendo que ao redor do coreto, como outrora, também se pode assistir a maravilhosos concertos.

Não valorizar isto é não perceber da cultura que também se faz aliada às tradições e à história. E todos conhecemos o que significa passar ao lado da história de um povo.

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