Legislativas: votar com um médico de saúde pública: regras chegam, difícil é que as cumpram todas

O coordenador da Unidade de Saúde Pública de Santo Tirso/Trofa votou sem receio. Medidas em vigor tornam o voto seguro, refere, considerando que o mais difícil é mesmo fazer com que as pessoas cumpram as regras estabelecidas

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Luciano Santos chega para votar um pouco antes das 15h30. Coordenador da Unidade de Saúde Pública de Santo Tirso/Trofa, esteve de serviço de manhã, e só pela tarde teve oportunidade de exercer o direito de voto para as eleições legislativas deste domingo, numa escola em São Mamede do Coronado, Trofa. O processo foi rápido, só havendo um pequeno compasso de espera para entrar na secção de voto que lhe coube na sorte, a 9. No final, feito o balanço, diz que se sentiu seguro, e que as medidas em vigor são suficientes. Desde que as pessoas as cumpram. E isso é o mais difícil.

As secções de voto instaladas nesta escola estão todas dentro do mesmo edifício, pelo que, a haver filas, elas se fazem num espaço interior, o que aumenta a necessidade de cumprir a distância de segurança. E também que se cumpram os circuitos de entrada e saída definidos, o que nem sempre acontece. Quando Luciano Santos vai a subir as escadas, há quem venha a descer por elas, o que não devia acontecer. “Nunca devia haver cruzamentos de entradas com saídas, e há uma saída posterior”, indica o médico, que referirá, pouco depois: “Cada um deve dirigir-se à saída indicada, mas é difícil de controlar, porque as pessoas, normalmente, vão sair por onde entraram.”

No interior, há setas no chão, que definem o lado pelo qual se deve circular, e que já fazem parte do dia-a-dia do estabelecimento de ensino. Um auxiliar também para quem ali vai num dia de domingo, exercer o direito de voto, e que no entender do médico de saúde pública, poderia ter sido complementado com mais um apoio. “Não diz a distância a que devo ficar da pessoa que está à frente ou atrás”, refere, lembrando que isso poderia ser resolvido com a simples colocação de algumas marcas temporárias no chão.

Há desinfectante na entrada do edifício (que ele utiliza), um tapete de desinfecção dos pés (que não é essencial, considera o médico), avisos bem visíveis a indicar a secção de voto destinada a cada um e, para quem ainda tem dúvidas, está alguém pronto a ajudar. Tudo para que se perca o menos tempo possível no processo - e é assim que deve ser, diz o especialista. “Há sempre dificuldade para que os utentes cumpram. A maior dificuldade é mesmo essa, porque as pessoas podem estar informadas, mas acabam por permanecer no local e não sair de imediato, o que é lamentável. Essa parte irá ser mais importante entre as 18h e as 19h [hora recomendada para o voto de pessoas infectadas ou confinadas], aí sim, a obrigatoriedade de cumprir as normas será mais importante”, diz.

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Luciano Santos leva uma máscara cirúrgica, mas se alguém menos avisado aparecesse com máscaras comunitárias, em vez das obrigatórias máscaras cirúrgicas ou FFP2, a junta de freguesia tinha disponíveis as primeiras para garantir o cumprimento das normas. E, já agora, faz sentido que, pela primeira vez numa votação, desde que a pandemia começou, se exija que sejam estas máscaras a ser utilizadas? “Faz sentido, porque estão certificadas. A máscara comunitária pode ser feita em qualquer confecção, com qualquer tecido, tem um desenho que parecer ser de uma máscara com segurança, mas não está testada nem certificada”, justifica.

À porta da secção de voto há um compasso de espera. Luciano Santos mantém a segurança de cerca de dois metros, mas um homem que chega entretanto passa-lhe à frente, antes de se aperceber que talvez tenha avançado rápido de mais. “Já votou?”, acaba por perguntar. O médico explica que está na fila, e o homem coloca-se atrás dele, mas não a dois metros de distância. Há separação entre cada pessoa, mas não tanta assim.

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Quando chega o momento de votar, o processo é rápido: Luciano Santos levou a sua própria caneta, entrega o cartão de cidadão, recebe o boletim de voto, preenche-o e coloca-o na urna. Em poucos minutos está cá fora. O ideal, diz, é que os membros da mesa não tivessem de tocar no cartão de cidadão dos eleitores, mas há coisas que é difícil de evitar. “Eu deveria mostrar o cartão e a pessoa lia [sem tocar], mas entendemos facilmente [que não seja assim]. O cartão de cidadão tem letras pequeninas e as pessoas têm necessidade de o aproximar [do rosto] para ler. Em relação ao boletim de voto, as pessoas da mesa fazem a sua higienização, eu também faço, e é colocado pelo próprio eleitor dentro da urna. Há a necessidade e a recomendação de higienizar quer a mesa, quer a urna, regularmente, o que é sempre saudável”, descreve.

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Uma das pessoas que se encontram na mesa tem uma bata descartável protectora, mas as outras não. Em várias mesas de voto pelo país, havia quem usasse luvas ou estes fatos de protecção - que são particularmente recomendados para a votação entre as 18h e as 19h. O uso destes equipamentos protectores não tem a mesma eficácia em todos os casos, diz o médico. “As luvas são uma forma mais prática de conseguir higienizar as mãos e proteger mais quem está na mesa, mas não quer dizer que haja a indicação do seu uso por parte da Direcção-Geral da Saúde. O que se tem de fazer é a higienização regular das mãos. Se tem luvas, tem que desinfectar as luvas, por isso pode ter as mãos [nuas], desde que estejam devidamente desinfectadas e lavadas”.

Já o fato protector, recomendado para a última hora da votação do dia, é “mais uma barreira de protecção” para quem está na mesa de voto, e que, no seu entender se justifica, face aos casos com que os que se encontram ao serviço das eleições irão lidar. “É um ambiente diferente”, conclui.

Votação concluída, Luciano Santos segue as setas de “Saída” e está, imediatamente, no exterior do edifício. Sentiu-se seguro? “À vontade, à vontade”, garante. O ideal, agora, é que não se fique por ali a conversar, e se possa seguir imediatamente para casa. “O objectivo é sempre evitar as concentrações”, lembra, enfatizando: “Para bem de todos.”

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