António Valdemar admite ter errado ao apontar Pedro da Silveira como informador da PIDE

O jornalista e o semanário Expresso retractaram-se esta quarta-feira da notícia publicada na Revista do passado dia 9, que confundia o poeta açoriano com um “bufo” que usava o pseudónimo “Pedro da Silveira”.

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O jornalista António Valdemar reconheceu esta quarta-feira na edição online do Expresso que se enganou ao acusar o poeta açoriano Pedro da Silveira de ter sido informador da PIDE. Num texto intitulado O Expresso errou. Em defesa da honra de Pedro da Silveira, jornalista e semanário reconhecem que o artigo que Valdemar publicara na edição em papel de sábado passado confundia o intelectual anti-fascista e colaborador da Seara Nova “com um informador da PIDE que utilizava o mesmo nome”.

O dito informador, como o PÚBLICO explicava esta segunda-feira no artigo Pedro da Silveira, “Pedro da Silveira” e a PIDE: história de um provável equívoco, era Duarte de Gusmão, um professor de Braga várias vezes preso pelo regime, e que, pouco depois de ter sido libertado do seu último encarceramento, em 1959 — possivelmente terá sido nessa ocasião que foi recrutado pela PIDE —, rumou ao Brasil, onde se infiltrou em círculos da oposição portuguesa no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Segundo António Valdemar agora relata, terá sido um investigador e “docente de uma das mais conceituadas universidades de Lisboa”, que não nomeia, quem lhe terá chamado a atenção “para a existência de denúncias no acervo da PIDE/DGS feitas por um colaborador efectivo da Seara Nova”. A corroborar a informação vinha a cópia de um manuscrito, “dactilografada na PIDE”, com informações relativas à oposição portuguesa no Brasil após a chegada de Humberto Delgado. O dactiloscrito, que o jornalista diz ter recebido em Maio, tinha a assinatura, também dactilografada, de Pedro da Silveira.

“Passaram-se meses sem nunca ter possibilidade de estabelecer quaisquer contactos com quem inicialmente me alertara”, conta Valdemar. Assim, em Setembro, tentou obter mais informações na Torre do Tombo, onde obteve fotocópias de relatórios assinados com o nome de Pedro da Silveira relativos ao exilado político Roberto das Neves. Avançou então com o artigo Pedro da Silveira: informações para a PIDE, que saiu graficamente integrado numa evocação, também da sua autoria, do centenário da Seara Nova.

A acusação gerou de imediato uma polémica nas redes sociais e um conjunto de “amigos e admiradores” de Pedro da Silveira publicou esta quarta-feira no jornal Correio dos Açores um abaixo-assinado manifestando o “mais vivo repúdio por este artigo desinformado e indigno que vem caluniar a memória de um homem que nunca se identificou com o regime salazarista”. 

A par de um grande número de funcionários e ex-funcionários da Biblioteca Nacional, onde Pedro da Silveira foi director dos Serviços de Investigação e de Actividades Culturais até se aposentar, subscrevem o documento dois antigos presidentes socialistas do Governo Regional dos Açores, Carlos César e Vasco Cordeiro, escritores como Álamo Oliveira, Ernesto Rodrigues, Luísa Ducla Soares ou Joel Neto, dois editores do poeta açoriano — João Soares e Carlos Bessa, presidente do Instituto Açoriano de Cultura —, os jornalistas José Carlos Vasconcelos e Eugénio Alves, a presidente do PEN Club Português, Teresa Martins Marques, e ainda, entre muitos outros nomes, as investigadoras Helena Buescu e Heloísa Paulo, esta última autora de um estudo que identifica o informador da PIDE que usava o nome da Pedro da Silveira com o já referido Duarte Gusmão.​ 

Valdemar explica que só depois de ter escrito o artigo para a Revista do Expresso veio a ter conhecimento da existência deste Duarte Gusmão, cuja identificação com o informador em causa ele próprio agora pôde confirmar documentalmente ao consultar na Torre do Tombo o processo 4016-CI2 do Arquivo da PIDE, que contém, diz, “elementos indubitavelmente esclarecedores acerca de Duarte de Vilhena Coutinho Feio Ferreri de Gusmão, o falso ‘Pedro da Silveira’”.

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