O desafio climático herdado por Moedas

Ainda na questão da mobilidade, o sistema de metro de Lisboa é, definitivamente, um dos problemas que Moedas herda para a sua gestão. Ao mesmo tempo que o metro é uma das melhores formas de se substituir os carros, é, hoje, um dos principais motivos pelos quais os cidadãos hesitam em largar o transporte individual para uso diário.

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Nuno Ferreira Santos

A eleição de Moedas como novo Presidente da Câmara de Lisboa apanhou muita gente (nós inclusive) desprevenida. Numa altura onde as sondagens apontavam até mesmo maioria absoluta para Fernando Medina, o anúncio do empate técnico das primeiras sondagens pós-eleição foi a primeira surpresa, e os resultados parciais não demoraram para apontar o vencedor da noite na capital portuguesa. Mas afinal, dias depois da Greve Climática Global (que apesar da modesta participação em Portugal, reuniu mais de 100 mil pessoas apenas em Berlim, e milhares noutras cidades europeias), quais são os desafios climáticos e ambientais que serão herdados por Carlos Moedas, na cidade de Lisboa?

As ciclovias foram um dos assuntos mais quentes nos vários debates. Em 2019, os carros foram responsáveis por 13% das emissões dióxido de carbono dentro da União Europeia. Nesse sentido, a proposta de Moedas de construir uma ciclovia contínua desde Algés até ao Parque das Nações vai ao encontro da necessidade de se repensar a via pública. São precisas mais e melhores ciclovias em Lisboa.

Ainda na questão da mobilidade, o sistema de metro de Lisboa é, definitivamente, um dos problemas que Moedas herda para a sua gestão. Ao mesmo tempo que o metro é uma das melhores formas de se substituir os carros, é, hoje, um dos principais motivos pelos quais os cidadãos hesitam em largar o transporte individual para uso diário. A pouca oferta de carruagens cria dois (grandes) obstáculos para a utilização do metro: um maior tempo de espera e carruagens cada vez mais lotadas, e esses não são problemas de agora.

Autocarros que saem do nada e param em lugar nenhum são, mais uma vez, entraves na hora de escolher entre o transporte privado e o público. Precisamos de mais transportes nocturnos, e que cubram mais regiões da cidade. Uma pessoa que saia tarde do trabalho na Penha de França e queira ir para o Oriente, por exemplo, terá muitos problemas em abandonar seu carro.

Do ponto de vista das habitações, Portugal sabidamente é um dos piores países da União Europeia quando falamos de pobreza energética. É extremamente necessário proceder a uma catalogação completa do estado energético dos prédios da cidade, de forma a realizar todas as manutenções necessárias — oferecendo incentivos necessários a curto prazo, e procedendo à reformas das habitações públicas e privadas. É absurdo que se passe mais frio em Lisboa do que em Estocolmo

Moedas propõe a criação de um “instrumento financeiro vocacionado para minimizar a pobreza energética das famílias”. Apesar de não detalhado, entendemos esse instrumento financeiro como uma medida a curto prazo, que incida directamente sob o preço da energia necessária para o uso de aquecedores. Entretanto, e como mencionamos anteriormente, acreditamos que seja fundamental que essa medida seja seguida de resoluções concretas, que mexam directamente na estrutura dos prédios em questão.

Por fim, resta dizer que os desafios para o novo autarca são muitos. Acreditamos que a mudança na Câmara da maior cidade do país deva reflectir-se numa mudança real no paradigma de governação, que coloque o conforto e o bem-estar de todos os cidadãos no centro de todas as decisões. 

Precisamos de medidas concretas descarbonização da indústria, precisamos de medidas e propostas de apoio e incentivo à indústria verde e precisamos de uma nova proposta sobre Economia Circular, que na sua maior eficiência deve ser defendida e aplicada a nível europeu, visto que a maioria das empresas poluentes não são portuguesas, tampouco lisboetas.

Não só enquanto activistas, mas enquanto cidadãos preocupados com o futuro, esperamos que a crise climática seja uma preocupação de Moedas, e esperamos por mudanças reais. Afinal, com as leis da física não há espaço para negociações partidárias.

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