Reunião Infarmed: 14 em cada 15 casos de internamento não tinham o esquema vacinal completo

A maior parte dos internamentos por covid-19 é de pessoas sem esquema vacinal completo. Portugal está “no fim da fase pandémica”. A administração de uma possível terceira dose da vacina contra a covid-19 poderá decorrer de meados de Dezembro até Março, para os maiores de 65 anos.

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Vacinação tem ajudado na diminuição de internados por covid-19 Paulo Pimenta

O novo director de Serviços de Informação e Análise da Direcção-Geral da Saúde (DGS), Pedro Pinto Leite, explicou, esta quinta-feira, em reunião realizada no Infarmed que a maior parte das pessoas internadas com covid-19 não apresentava o esquema vacinal completo. Segundo o especialista, Portugal está já “no fim de uma fase pandémica”.

Na primeira semana de Agosto, a última em análise no estudo apresentado no encontro entre Governo e peritos, “por cada cinco casos de covid-19 admitidos em enfermaria, quatro não tinha o esquema vacinal completo”. “Demonstra e vem reforçar a importância da vacinação”, disse Pedro Pinto Leite. Em relação aos cuidados intensivos, por cada 15 casos de covid-19, 14 casos não tinha o esquema vacinal completo.

“É visível o aumento do número de internamentos após a introdução da variante Delta em Portugal. Este aumento teve um pico entre Julho e Agosto”, disse, explicando que a vacinação tem sido a principal força de mitigação de internamentos por covid-19. Contudo, a descida de internamentos entre os grupos etários mais velhos não tem acompanhado a dos mais novos, ressalva. Isto pode dever-se às também diferentes descidas da incidência do vírus nos grupos etários, ou à tendência para as pessoas mais velhas permanecerem mais tempo sob cuidados hospitalares.

Portugal está no “fim de uma fase pandémica”, diz especialista da DGS

Pedro Pinto Leite frisou que o país se encontra “claramente” no fim da última onda pandémica sentida em Portugal, com uma incidência de 195 casos de infecção por cada cem mil habitantes.

“A incidência tem uma tendência decrescente e já estamos abaixo dos 240 casos por cem mil habitantes”, disse o perito, explicando que esta tendência é observada em todas as regiões. Ainda assim, é no Alentejo que este indicador está mais elevado.

Pinto Leite disse ainda que não existe nenhum concelho acima dos 960 casos por cem mil habitantes (o nível de risco mais elevado) e que há 12 municípios que têm mais de 480 casos por cem mil habitantes. Estes 12 concelhos concentram à volta de 300 mil habitantes, o que corresponde a cerca de 3% da população portuguesa.

Na caracterização da incidência por grupos etários, o especialista da DGS afirmou que esta tem uma tendência decrescente em todos os grupos etários, excepto no grupo até aos nove anos, em que é “estável a decrescente”. “Queria salientar a grande descida que ocorreu nos grupos etários dos 10 aos 19 anos e dos 20 aos 29 anos para valores inferiores a 480 casos por cem mil habitantes. Esta informação é importante uma vez que começam as aulas e a abertura das escolas neste momento”, sublinhou.

O perito disse ainda que a descida da incidência está a ser acompanhada por uma diminuição da positividade (número de testes positivos dentro do total de testes realizados num determinado dia, por exemplo). “É importante porque mostra-nos que mantendo a mesma intensidade de testagem estamos a ter menos vírus em circulação e menos casos confirmados”, explicou.

Na última semana registou-se uma positividade de 2,5%, num universo de cerca de 369 mil testes (de diagnóstico e rastreio) realizados. O valor está abaixo do limiar de 4% definido pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC, na sigla em inglês), sendo que nenhuma região portuguesa ultrapassa este marco. A maior taxa de testagem destaca-se particularmente nas regiões do Sul. Os jovens adultos realizaram menos testes na última semana, mas verificou-se um aumento nos adultos com mais de 40 anos — o que, segundo Pedro Pinto Leite, pode ser explicado pelos rastreios nos estabelecimentos de ensino e em contexto laboral.

Terceira dose da vacina pode arrancar em Dezembro

Portugal já atingiu 86% da população vacinada com pelo menos uma dose e 81,5% completamente inoculada, revelou o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, coordenador da task force responsável pela vacinação. “Da minha percepção, a primeira batalha está ganha e nós, agora com inteligência e todo o cuidado, temos de continuar, porque a guerra ainda não acabou”, anunciou. 

Em Portugal continental já foram administradas 15 milhões de vacinas e existem cerca de 1,1 milhões em reserva, “sem preocupação” — que, eventualmente, poderão servir para a administração de uma dose de reforço contra a covid-19.

A vacinação em massa terminará no dia 26 de Setembro, sendo, depois, dada continuidade às segundas doses. A partir da segunda quinzena de Outubro segue-se a vacinação contra a gripe, que se estende até à segunda quinzena de Dezembro — altura em que poderá arrancar a inoculação dos maiores de 65 anos com uma terceira dose da vacina. Este foco, se se provar necessário, deverá decorrer até meados de Março. 

Na faixa dos 12 aos 17 anos já foram vacinados quase 600 mil jovens, o que corresponde a cerca de 85,6%. Destes, cerca de 56% já foram completamente imunizados com as duas doses, à medida que se avizinha o último fim-de-semana exclusivo para a vacinação desta faixa etária, com a meta traçada de vacinar 85,6% desta população.

A região do Algarve, a Madeira e os Açores estão ligeiramente atrasadas no processo de vacinação por falta de comparência dos utentes, revelou o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo.

Com uma diminuição da incidência do vírus potenciada pelo avanço da vacinação, Gouveia e Melo concluiu que existirá protecção de grupo e, eventualmente, imunidade já com 85% ou 86% da população completamente vacinada — uma meta esperada no final de Setembro. 

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