Cesária Évora homenageada em Lisboa com palavras e música dez anos após a sua morte

A um mês de se cumprirem 80 anos sobre o seu nascimento, a lendária cantora cabo-verdiana vai ser homenageada em Lisboa, com música e e um livro biográfico, Cesária Évora. Esta sexta-feira, no Grémio Literário, a partir das 10h.

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Cesária Évora DR

A cantora cabo-verdiana Cesária Évora, umas das figuras máximas da música de Cabo Verde, vai ser homenageada esta sexta-feira em Lisboa, dez anos após a sua morte, numa iniciativa a repetir em Paris e no Mindelo, com a promotora da iniciativa a considerar que há ainda muito do legado de Cize por valorizar. 

O evento, organizado conjuntamente pela editora cabo-verdiana Rosa de Porcelana, a Associação Caboverdeana de Lisboa e o Grémio Literário (onde decorrerá, a partir das 10h), vai contar com a apresentação do mais recente livro sobre a “diva dos pés descalços” e um apontamento musical que reúne músicos que privaram com Cesária, como o guitarrista Armando Tito.

Após a realização em Lisboa, o evento deverá repetir-se em Paris, onde o sucesso de Cesária Évora se internacionalizou, nos anos 90 do século XX, e também na sua terra natal, a cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente.

Um novo livro biográfico

Sobre o fascínio que ainda hoje Cesária Évora parece exercer em vários cantos do mundo, Márcia Souto, da editora Rosa de Porcelana, disse à agência Lusa que isso advém de vários factores, como “a enorme potencialidade vocal e de interpretação, mas também de traduzir como poucos a crioulidade, que é a matriz da cultura cabo-verdiana, e de veicular uma música que, fruto da fusão de vários povos, se presta à identificação de não cabo-verdianos”.

“Há sempre muito por descobrir sobre Cesária Évora, sobretudo a sua origem, genealogia, que ajuda a entender de onde veio e os dramas, assim como os encantos de Cabo Verde”, afirmou a editora. E recordou que Cize, como era carinhosamente chamada, “teve uma vida de duras privações e provações, mas manteve-se como uma mulher extraordinária”. Por esta razão, Márcia Couto considera que “continua a haver muito por descobrir dessa mulher que projectou Cabo Verde no mundo mais do que qualquer outro cabo-verdiano”.

Parte dessa história consta da biografia Cesária Évora, da autoria de Elzbieta Sieradzinska, que será apresentado durante esta homenagem. Trata-se de um livro que apresenta Cesária para além das luzes da ribalta, nos bastidores, no dia-a-dia e na intimidade, numa “preciosa contribuição da crítica genética sobre esta grande artista”, conforme a editora (Rosa de Porcelana) o apresenta.

A autora de Cesária Évora, a polaca Elzbieta Sieradzinska, é romanista, tradutora do francês, bibliotecária, cantora, compositora e letrista e, por Cesária e a música de Cabo Verde, “traiu” Provença e as montanhas. É autora do guia de Cabo Verde em polaco e tradutora das canções de Cesária Évora para as edições polacas da Sony-BMG de vários álbuns da cantora.

Um legado a valorizar

Para Márcia Souto, ainda há muito a fazer para o legado de Cesária Évora ser devidamente valorizado. Mas regozija-se com o facto de o aeroporto internacional de São Vicente, a sua ilha natal, ter o seu nome e que esteja em curso a criação de uma Casa-Museu Cesária Évora. “A maior valorização do legado de Cesária Évora veio indirectamente pela UNESCO, quando em 2019 classificou a morna como Património Cultural Imaterial da Humanidade, um género tornado planetário pela Cize”, disse.

Mas a editora defende que a grande homenagem venha do Estado de Cabo Verde, “criando prémios e bolsas criativas em nome de Cesária Évora e promovendo um instituto em que figurassem os nomes dela e de Eugénio Tavares, para articular centros culturais na diáspora e em Cabo Verde”. E gostaria igualmente que cidades capitais como a Praia (ilha cabo-verdiana de Santiago), Lisboa (Portugal) e Paris (França) homenageassem a artista através da toponímia (nomes de ruas).

Cesária Joana Évora nasceu no Mindelo no dia 27 de Agosto de 1941, ali falecendo em 17 de Dezembro de 2011. No funeral, ouviram-se mornas entoadas por cantores que haviam dividido o palco com a artista e por muito populares que participaram no cortejo entre o Palácio do Povo e o cemitério, na cidade do Mindelo, onde Cize nasceu e desde muito nova começou a cantar.

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