Ministro das Finanças rejeita “dramatismo” com fim das moratórias

Em entrevista conjunta com o presidente do Eurogrupo, João Leão demonstra confiança na retoma da economia antes do fim das moratórias e antecipa que PIB português poderá crescer 5% este ano, acima dos 4% previstos.

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LUSA/MÁRIO CRUZ/POOL

O ministro de Estado e das Finanças, João Leão, considera que o fim das moratórias bancárias concedidas no âmbito da covid-19, marcado para Setembro, não deve ser levado com “dramatismo”. Em entrevista à agência Lusa, concedida em conjunto com o presidente do Eurogrupo, o ministro das finanças irlandês, Paschal Donohoe, João Leão recordou que “na Irlanda conseguiram atravessar bem o fim das moratórias, e noutros países também conseguiram”.

“Não tem que ter o dramatismo que muitas vezes se coloca em Portugal”, afirmou o ministro português, frisando que noutros países “a evolução foi menos dramática do que muitas vezes se antecipa”, podendo o mesmo suceder em Portugal.

A adesão às moratórias públicas por parte de empresas e particulares terminou em 31 de Março, permitindo que, no máximo, os encargos com o crédito (capital e/ou juros) possam ser diferidos por mais nove meses. Regra geral, contudo, a moratória pública termina em 30 de Setembro.

“Temos a expectativa de que teremos agora, antes do fim da moratória, uma forte recuperação da economia”, disse o ministro português, alicerçando-se em dados dos “principais indicadores avançados” que demonstram a retoma. João Leão admitiu que o Produto Interno Bruto (PIB) português poderá crescer até um ponto percentual acima dos 4% esperados no Programa de Estabilidade, devido a uma mudança “muito rápida” das condições económicas.

O ministro das Finanças lembrou que “Portugal teve um Inverno muito duro” e que “o primeiro trimestre foi muito intenso” de uma forma negativa, o que levou o Governo a rever em baixa as suas previsões para o crescimento da economia para 4% aquando da divulgação do Programa de Estabilidade, em Abril, quando anteriormente previa 5,4%. Porém, “a mudança está a ser muito rápida”, salientou o ministro, justificando o maior optimismo com o facto de que, com a reabertura da economia nacional, “o número de casos mantém-se muito baixo” e o plano de vacinação contra a covid-19 “está a ajudar”.

“Com os indicadores que temos quer do mercado de trabalho, quer do consumo, quer das exportações, que estão a ser muito mais positivos do que esperávamos, temos a expectativa, se a pandemia continuar controlada e evoluir de forma positiva com a campanha de vacinação, que o crescimento possa ser bastante superior ao que tínhamos previsto”, disse em entrevista à Lusa.

“O exemplo que demos é que os pagamentos do multibanco nas últimas três semanas estão bastante superiores ao que eram antes da pandemia, em 2019”, algo que demonstra que “o consumo está a recuperar de forma muito rápida”, no entender do ministro.

João Leão crê também que os sectores “de retalho e do turismo vão estar mais bem preparados para o momento de quando chegar o fim das moratórias, em Setembro”, devido ao Verão que se avizinha, com uma recuperação “muito forte”. No entanto, o ministro considerou “muito importante” que se olhe “com atenção para o efeito que a crise teve nos balanços” das empresas dos sectores mais afectados, e “perceber como é que elas têm a capacidade para enfrentar a moratória”.

“Por um lado, o Governo já aprovou um conjunto de linhas de empréstimo com garantias do Estado que dão financiamento adicional a estas empresas, que são importantes para enfrentar também esse período, e por outro lado também é importante percebermos como é que chegando ao fim da moratória, onde estas empresas se vão situar”, prosseguiu.

O governante destacou ser necessário avaliar “que mecanismos adicionais o Estado pode trazer” para ajudar as empresas com as suas obrigações “no momento em que, sobretudo nos sectores mais atingidos, passam a ter que fazer a amortização normal que faziam antes da crise”.

O trauma, às vezes, só vem depois

Por sua parte, o presidente do Eurogrupo reconheceu que “poderão existir desafios” em termos de “crédito malparado e riscos bancários”, mas “é por os governos terem intervindo de forma tão forte nas economias para ajudar os empregadores em tempos de dificuldade”, que isso “deverá reduzir o nível do desafio”.

“A mera razão, por exemplo, pela qual os governos estão a gastar tanto dinheiro actualmente, é para que, quando começarmos a recuperar, se reduzam os danos nos balanços de muitos empregadores, particularmente os mais pequenos”, vincou Paschal Donohoe, que está m Lisboa para as reuniões do Eurogrupo e do Ecofin.

O presidente do Eurogrupo admite que as verdadeiras consequências da crise económica provocada pela pandemia só surjam depois da retoma, mas manifesta-se optimista, por estar convencido de que, nessa altura, as economias estarão “a recuperar muito rapidamente”. Pascal Donohoe aponta que à medida que forem reduzidos os actuais “níveis muito elevados de apoio orçamental”, “os desafios podem tornar-se aparentes”.

“O trauma, em muitos acontecimentos importantes, pode por vezes acontecer após o acontecimento, e não durante”, afirma Donohoe, frisando como a actual crise tem sido “incrivelmente difícil para a saúde mental” e “para o bem-estar de tantas dezenas de milhões de pessoas em toda a Europa”, que perderam subitamente o emprego e os rendimentos.

“É por isso que o Fundo de Recuperação e Resiliência é um plano a médio prazo. É por isso que é um plano concebido para fornecer apoio adicional às economias em 2022, 2023 e 2024, e não apenas em 2021, porque reconhecemos que é provável que as réplicas venham depois da retoma”, afirma.

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