China apenas permitirá entrada de estrangeiros que receberam vacina chinesa contra a covid-19

Governo chinês vai facilitar a obtenção de vistos para as pessoas de países que tenham sido inoculadas com uma vacina chinesa contra a covid-19. Porém, a medida é confusa e levanta dúvidas, uma vez que alguns dos países incluídos na lista não aprovaram ainda nenhuma vacina chinesa.

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O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês nega que as novas regras tenham sido implementadas com o objectivo de pressionar outros países a aprovarem as vacinas chinesas TINGSHU WANG/Reuters

A China irá permitir a entrada a visitantes estrangeiros mas apenas se estes tiverem tomado uma vacina contra a covid-19 produzida em território chinês. O anúncio foi feito na segunda-feira e a medida pretende ser um primeiro passo em direcção à normalização e retoma das viagens internacionais.

No entanto, embora o governo chinês admita facilitar a obtenção de um visto para as pessoas inoculadas com uma vacina chinesa contra a covid-19, a medida não isenta estes passageiros da apresentação de um teste negativo ao novo coronavírus nem do cumprimento de um período de quarentena, tal como está estipulado nas regras actuais.

Os viajantes “deverão cumprir os regulamentos relevantes sobre a quarentena e vigilância após entrada na China”, destacou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros Zhao Lijian, de acordo com uma transcrição oficial de uma comunicação ao país citada pela agência ReutersA transcrição não revela, contudo, mais detalhes sobre a forma como o processo de obtenção de um visto para a entrada no país será simplificado.

Entrada facilitada a viajantes de cerca de 20 países

O anúncio foi feito esta semana pelas embaixadas da China em cerca de 20 países, sendo que as regras variam ligeiramente dependendo do país em questão, de acordo com o diário britânico The Guardian. Ainda assim, em termos gerais, o objectivo é permitir novamente a obtenção de vistos, de acordo com os regulamentos estipulados antes da pandemia, para aqueles que tenham sido já vacinados com uma das vacinas chinesas contra a covid-19, de forma a retomar “as trocas entre pessoas de maneira ordenada”.

Hong Kong, Estados Unidos, Reino Unido, Índia, Austrália, Iraque, Tailândia, Croácia, Israel, Paquistão e Filipinas estão entre os países e territórios cujos cidadãos poderão entrar em território chinês. Os viajantes terão que ter já tomado as duas doses de uma vacina chinesa contra a covid-19 ou uma dose pelo menos 14 dias antes de viajarem.

Segundo o The Guardian, a declaração emitida pela embaixada da China nos Estados Unidos refere que a China irá permitir agora o regresso de “estrangeiros e seus familiares de visita ao continente chinês para retoma do trabalho e produção em diversas áreas”, assim como viagens de cariz humanitário sem carácter de urgência. No país poderão também entrar familiares de cidadãos chineses ou residentes que queiram visitar a China para reuniões familiares, cuidar de idosos ou familiares doentes ou para participar em funerais.

Hong Kong, onde a vacina chinesa contra a covid-19 desenvolvida pela empresa Sinovac está já a ser administrada à população, foi o primeiro a entrar na lista de territórios e países aos quais a China irá facilitar a obtenção de vistos. As vacinas chinesas contra a doença foram também já aprovadas nas Filipinas, Tailândia e Iraque.

Porém, a decisão levantou questões sobre as motivações da China, uma vez que as vacinas chinesas contra a covid-19 não foram ainda aprovadas em vários países cujos cidadãos passarão a poder entrar na China caso cumpram as devidas (e já mencionadas) regras, e visto que o governo chinês não permitirá a entrada a quem tiver sido inoculado com vacinas produzidas noutros países, mesmo que tenham sido aprovadas pela Organização Mundial da Saúde. É o caso, por exemplo, da Austrália, cujos cidadãos estão automaticamente excluídos dos critérios anunciados por Pequim, uma vez que nenhuma vacina chinesa foi ainda aprovada em território australiano.

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RUNGROJ YONGRIT/EPA

A China conseguiu controlar a pandemia de covid-19 desde que o novo coronavírus foi descoberto pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan, em Dezembro de 2019. Para evitar a importação de casos e um ressurgimento das infecções, Pequim proibiu a maior parte das viagens não-essenciais e limitou a entrada de estrangeiros no país apenas em determinadas situações, nomeadamente por questões de trabalho.

Actualmente, a China tem cinco vacinas contra a covid-19 aprovadas para uso comercial ou de emergência, incluindo três que estão também a ser distribuídas para outros países, tendo sido acusada de estar a engendrar uma campanha de “diplomacia das vacinas” e de fazer pressão para se tornar uma distribuidora internacional.

Isto levou já países como os Estados Unidos, a Austrália, o Japão e a Índia a unirem-se e a anunciarem também planos para a distribuição de vacinas na Ásia. Estes quatro países irão formar uma parceria para acelerar a vacinação contra a covid-19, expandir a produção de vacinas e ajudar os países do Indo-Pacífico com a vacinação, tendo os Estados Unidos revelado, na semana passada, que irão financiar e apoiar a empresa farmacêutica indiana Biological E Ltd para que sejam produzidas pelo menos mil milhões de doses de vacinas contra a covid-19 até ao final de 2022.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês nega que as novas regras tenham sido implementadas com o objectivo de pressionar outros países a aprovarem as vacinas chinesas. “A nossa proposta é feita depois de considerarmos cuidadosamente a segurança e eficácia das vacinas chinesas”, disse Zhao Lijian, em conferência de imprensa esta terça-feira, sublinhando que em causa não está o reconhecimento das vacinas produzidas em território chinês.

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