Recuperação da crise tem de incluir “emprego digno” para jovens

Arranca esta sexta-feira a Conferência de Juventude da União Europeia, subordinada à participação dos jovens na tomada de decisões políticas, nacionais e europeias. “A bazuca europeia que aí vem tem de dar um impulso positivo à contratação jovem”, defende João Pedro Videira, presidente do Conselho Nacional da Juventude.

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Dylan Gillis/Unsplash

Os programas de recuperação e resiliência de resposta à crise causada pela pandemia têm de incluir “não só mais emprego, mas também mais emprego digno”, defende o presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), João Pedro Videira.

No arranque da Conferência de Juventude da União Europeia (UE), sob o tema “Participação dos jovens nos processos políticos e de tomada de decisão a nível local, regional, nacional e europeu” e enquadrada na presidência portuguesa do Conselho da UE, João Pedro Videira destaca à Lusa que a geração “mais bem preparada de sempre” para “enfrentar os desafios do futuro” precisa de ter “as condições para tal.” Isso passa por “estabilidade a nível contratual”, concretiza.

“Estas questões não se podem resolver de forma isolada, é preciso haver uma agenda que permita a prosperidade das novas gerações, o emprego é uma delas”, destaca. Entre as medidas concretas defendidas pelo CNJ está o reforço do Garantia Jovem, iniciativa dirigida a pessoas com menos de 30 anos desempregadas ou que saíram do sistema educativo e formativo.

Ao mesmo tempo, considera João Pedro Videira, “a bazuca europeia que aí vem tem de dar um impulso positivo à contratação jovem, por exemplo através da majoração dos jovens na contratação para a administração pública ou no acesso à habitação.

“Sem darmos condições às novas gerações para terem capacidade para se emanciparem e criarem elas próprias as suas oportunidades, estamos confinados à crise” provocada pela pandemia de covid-19, alerta.

Enquadrada no trio de presidências do Conselho da UE (Alemanha, agora Portugal e a seguir Eslovénia), a Conferência de Juventude, que se realiza virtualmente a partir de Vila Nova de Gaia, é uma “fase intermédia” entre a auscultação de preocupações e a apresentação de medidas.

Paralelamente à conferência, vai realizar-se uma hackathon, na qual se inscreveram “cerca de 120 jovens” dos 27 Estados-Membros da UE. Durante 48 horas, os participantes na maratona Solve the Gap vão ter contacto com mentores e especialistas de várias entidades, entre os quais a comissária europeia com a pasta da Juventude, Mariya Gabriel, e o fundador da WebSummit, Paddy Cosgrave.

O objectivo da maratona é escolher uma ferramenta que facilite e estimule a participação da juventude europeia e assim “deixar algo para futuro, que possa ser utilizado por todos”, explica o presidente do CNJ. “A democracia não pode esgotar-se no dia das eleições. Temos de criar estes mecanismos de aproximar a democracia e de escrutínio ao decisor político em mais momentos”, defende, acreditando que a hackathon poderá ser “um veículo de aproximação entre os jovens e os decisores políticos.”

Recentemente, uma sondagem realizada pela Universidade Católica, em conjunto com o CNJ, revelou que, em média, apenas metade dos 1,6 milhões de jovens portugueses votou nas últimas presidenciais. A abstenção, ficando abaixo da geral, exclui metade de uma geração que tem acesso à informação como nenhuma antes, aponta João Pedro Videira.

“Há uma tendência de os jovens se virem a afastar dos momentos e processos de decisão, nomeadamente eleitorais. Tem a ver com o facto de os jovens não se reconhecerem nos decisores políticos, na forma como se faz política em Portugal, não reconhecem legitimidade aos partidos políticos”, assinala. “É muito premente tirar ilações e concretizar medidas”, considera, reconhecendo que é uma tendência generalizada na Europa, mas realçando que em Portugal os níveis de abstenção são superiores à média europeia. “Isso preocupa-nos, temos de começar a inverter esta tendência”, apela.

As políticas para a juventude e a participação dos jovens na Europa vão ser os temas da conferência que começa esta sexta-feira, co-organizada pelo Instituto Português do Desporto e da Juventude e pelo Conselho Nacional de Juventude.

A sessão de abertura da Conferência de Juventude, agendada para esta sexta-feira, às 16h, contará com o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e com uma mensagem do vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas. Esta manhã, Tiago Brandão Rodrigues e a comissária da Inovação, Investigação, Cultura, Educação e Juventude, Mariya Gabriel, deram o tiro de partida para a hackathon, cujo vencedor será anunciado na segunda-feira, 15 de Março, e receberá um prémio de 10 mil euros.

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