Autarquia diz que Paredes de Coura “praticamente restabeleceu níveis de emprego pré-pandemia”

O município do Alto Minho, que prevê acolher três novas unidades industriais até ao final do ano, atribui a contra-corrente destes resultados à maturidade do investimento, ao carácter maioritariamente exportador da sua indústria e à diversificação dos sectores como meio de assegurar a sustentabilidade económica.

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Nelson Garrido

Em Outubro passado, um estudo realizado pela NOVA Information Management School (NOVA IMS) da Universidade Nova de Lisboa em parceria com a COTEC Portugal estimava que Paredes de Coura terminaria 2020 com uma taxa de desemprego de 14%, valor superior à média nacional prevista de 11%. Na altura, o presidente da Câmara Municipal de Paredes de Coura, Vítor Paulo Pereira, manifestou à Rádio Vale do Minho a sua surpresa e optimismo perante estes dados, afirmando que o aumento substancial de desemprego no concelho tinha ocorrido em Março, no início da pandemia, e que já havia sinais de recuperação. “Enquanto o investimento está praticamente parado em todo o país, Paredes de Coura está a implantar novas empresas”, revelou então à rádio local. 

De facto, os níveis de desemprego viriam a ser inferiores ao previsto, ficando-se pelos 13,3% de uma média nacional de 10,2% divulgada pela investigação em Dezembro. O autarca socialista assegura ao PÚBLICO que, neste momento, “o desemprego [no concelho] não é preocupante, para não dizer residual” e arrisca dizer que “os níveis de emprego anteriores à pandemia quase foram restabelecidos”, em boa parte devido ao passo lento, mas decidido e consistente a que se move o sector industrial da região.

Foi o que aconteceu na Doureca, empresa de plásticos ligada ao sector automóvel há 30 anos em Paredes de Coura, que depois de sofrer uma ruptura abrupta de fornecimentos e encomendas em Março começou a recuperar no último trimestre do ano. “Em Outubro e Novembro já estávamos ao nível de Janeiro e Fevereiro”, revela Rui Lobo, director da empresa. À semelhança de muitos outros empregadores, inicialmente foi forçado a colocar a maior parte dos funcionários em lay-off e dispensar outros que tinham contratos de trabalho temporário, mas actualmente conta com cerca de 350 trabalhadores.

Apesar das quebras acentuadas na produção e facturação – os índices de crescimento que deveriam ter sido alcançados em 2020 foram “atrasados em quatro anos pela pandemia” –, o cenário não é totalmente negro, já que em contexto pandémico a Doureca sofreu uma descida de apenas 18% comparativamente aos 30% globais da indústria automóvel.

Conhecido, sobretudo, pelas indústrias do calçado e automóvel, Paredes de Coura é “um concelho muito exportador”, descreve Vítor Paulo Pereira, exemplificando com o caso da marca britânica Fly London, que ali tem quatro fábricas. A presença de “empresas sólidas pertencentes a alguns grupos internacionais e bem posicionadas no seu sector” no tecido industrial courense, bem como a consolidação dos investimentos feitos anteriormente, ajudam a explicar a moderação do impacto da pandemia no desemprego. “Alguns empresários já tinham perspectivado estes investimentos e a forma rápida como lhes demos resposta e cumprimos prazos tornou impossível revertê-los”, elabora.

A “política de captação de investimento anterior” vai ter novas aplicações até ao final deste ano, já que o Orçamento e Plano Plurianual de Investimentos aprovado em Dezembro incorpora um investimento de dois milhões e 850 mil euros na construção de três novas unidades industriais na zona industrial de Formariz, ligadas a áreas inovadoras como a biotecnologia e a metalomecânica e ao já estabelecido sector automóvel. “Estamos a tentar diversificar os sectores para, de forma muito progressiva, criar algum emprego ligado a sectores mais qualificados e a maior criação de valor”. Essa estratégia “p​ara assegurar sustentabilidade” inclui a disponibilização de um espaço, no antigo mercado municipal, para “acolher empresas de base tecnológica”.

Tal como acontece por todo o país e pelo mundo, o desemprego no concelho afecta sectores como comércio local, restauração e turismo, que representam “milhares de euros que deixaram de entrar nos negócios das pessoas”, nomeadamente devido ao cancelamento de eventos como o festival de música Vodafone Paredes de Coura. Apesar do lugar prioritário que as questões sanitárias, o socialista reitera a necessidade das autarquias e do Governo “trabalharem as outras áreas” para preparar o futuro.

Esta área “sempre foi uma preocupação central” que, a par da criação de habitação acessível, pretende “fixar a população no território” Nesse sentido, o orçamento para 2021 antecipa a construção de 80 fogos a custos controlados para os próximos cinco anos. Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), recentemente divulgados pelo município e relativos ao período entre 2014 e 2018, dão conta de um “crescimento de 14% da população activa do concelho” e de um aumento de 40,3% no número de pessoas ao serviço de empresas courenses.

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