Covid-19. Centro Hospitalar de Lisboa Central nega “graves irregularidades” no tratamento de cadáveres

Sindicato dos Médicos da Zona Sul diz que utentes têm de partilhar enfermaria durante horas com cadáveres de pacientes que morreram com o vírus. Centro Hospitalar Universitário de Lisboa central nega acusações.

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Recolha de corpo no hospital Paulo Pimenta/Arquivo

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) denunciou este domingo “graves irregularidades” no tratamento de cadáveres de doentes covid-19 no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC), algo que o agrupamento de hospitais nega.

Em comunicado, o SMZS alega que há casos de cadáveres que ficam durante várias horas nas camas ao lado de outros pacientes, denunciando um atraso na recolha das vítimas provocadas pelo novo coronavírus.

“O SMZS tomou conhecimento desta situação, ao que tudo indica não recente, e aparentemente não só com o conhecimento do Conselho de Administração do CHULC, como também agravada por este, ao admitir a suspensão da recolha de cadáveres durante o período nocturno”, acusa o sindicato.

Em resposta ao pedido de esclarecimento enviado pelo PÚBLICO, o CHULC refuta "qualquer referência a tratamento indigno de cadáveres”, garantindo que o transporte obedece a todas as “normas de higiene, segurança e dignidade exigidas”. Contudo, o centro hospitalar deixa a garantia de que fará uma análise a "eventuais situações que se possam aproximar ao que é relatado”, de modo a avaliar a conformidade com os procedimentos definidos para estes transportes. 

O CHULC integra os hospitais de S. José, S. Marta, D. Estefânia, Capuchos, Curry Cabral e a Maternidade Dr. Alfredo da Costa (MAC). Questionado pelo PÚBLICO, o sindicato não revelou em que hospital ou hospitais aconteceram as alegadas irregularidades.

João Proença, vice-presidente do SMZS adianta ao PÚBLICO que o comunicado assentou em denúncias feitas por médicos do CHULC, admitindo que esta comunicação tem por objectivo principal chamar a atenção das autoridades de saúde para esta questão. “Estamos a falar de coisas verdadeiras. Os cadáveres não são tirados e são os de doentes covid. Conseguimos perceber que isto acontecia há cerca de dois, três dias. Houve situações gravíssimas para se resolver porque as pessoas precisavam das camas e percebeu-se que há algum tempo que não se removiam cadáveres com dez, 12 horas, sobretudo à noite”, explica o vice-presidente. 

Além do conselho de administração deste centro hospitalar, o sindicato diz também que a situação tem sido ignorada pelo Ministério da Saúde, considerando que o impacto para os utentes internados é notório.

“Esta situação constitui uma violação inaceitável das boas práticas em caso de falecimento. Dela resulta uma compreensível perturbação significativa para os doentes que permanecem internados com um cadáver no quarto e uma gravíssima ausência total de dignidade na manipulação dos corpos dos doentes falecidos, mostrando uma atitude desumana para com doentes e os seus familiares”, escreve o SMSZ.

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