Covid-19: hospitais mais pequenos sofrem maior pressão por número de internamentos

Estudo publicado esta terça-feira mostra que a diferença de internados por covid-19 entre hospitais com 300 camas e hospitais com 800 camas é mínima. Taxa de ocupação diária dos doentes ronda os 85%.

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Reuters/BRYAN WOOLSTON

A pandemia de covid-19 tem exigido mais em internamentos aos hospitais mais pequenos, que apresentam uma média diária/mês de doentes internados proporcionalmente maior em relação a unidades de grande dimensão, segundo um estudo divulgado esta terça-feira.

Os dados, a que a Lusa teve acesso, indicam que o número médio de doentes covid-19 internados entre Abril e Outubro em hospitais com capacidade para 300 camas é de 42 doentes/dia/mês, enquanto o dos hospitais com 800 ou mais camas é de 45.

O estudo foi realizado pela multinacional espanhola IASIST para analisar o impacto da covid-19 nas principais linhas de actividade hospitalar e recorreu a dados disponibilizados pela ACSS através do Portal da Transparência, assim como a um inquérito aos hospitais do Serviço Nacional de Saúde.

Os números indicam a taxa de ocupação diária destes doentes nas unidades de cuidados intensivos (UCI) ronda os 85% e que 17% dos doentes com covid-19 internados nas unidades hospitalares precisam destes cuidados especializados.

Mostram ainda que 65% dos doentes admitidos em UCI são ventilados e lembram que alguns hospitais, como aconteceu no Norte do país, nalguns períodos de tempo, tiveram lotação de internamento esgotada.

A suspensão da actividade assistencial não urgente, que fez com que houvesse entre Março e Setembro menos um milhão de consultas médicas, afectou sobretudo as primeiras consultas (-23%), quando o doente ainda não tem a confirmação do diagnóstico. Nas consultas subsequentes a redução foi de 11%.

A pandemia não só obrigou ao cancelamento de consultas e cirurgias, mas fez com que os doentes, por medo de serem contaminados quando a actividade começou a retomar, faltassem.

Os dados a que a Lusa teve acesso indicam que, nas primeiras consultas, a taxa de absentismo foi de 15% a cardiologia e pediatria e 35% em oncologia. Já o cancelamento atingiu os 25% em neurologia e os 34% em psiquiatria.

Nas consultas subsequentes, as taxas de absentismo fixaram-se em 30% na pediatria e psiquiatria, quanto a taxa de cancelamento atingiu os 10% em cardiologia e neurologia.

O estudo indica que entre Março e Setembro houve menos 116.265 cirurgias (-30%). A quebra mais elevada registou-se nas cirurgias de ambulatório (-34%), seguidas das cirurgias programadas (-31%), convencionais (-27%) e urgentes (-13%). O mês de Abril foi o que registou a maior quebra em todas estas categorias.

Outra das categorias analisadas neste estudo foi a dos transplantes, com uma redução a todos os níveis entre Abril e Junho. Segundo os dados divulgados, houve menos 44% de transplantes de coração (menos quatro), menos 57% de rim (menos 75 doentes transplantados), menos 37% de fígado (menos 24) e menos 14% de pulmão (menos dois).

Tendo em conta a pandemia que afectou o 2.º trimestre do ano, a excepção à regra foram os transplantes do pâncreas, mantendo-se entre Abril e Junho deste ano os seis transplantes feitos no período homólogo.

Os dados apontam para um “aumento generalizado” de 7% do número de profissionais em todas as profissões da área da saúde entre Março e Setembro.

No mesmo período, segundo o estudo, os profissionais de saúde faltaram mais ao trabalho (+685.709 dias de ausência, +32%), sobretudo por razões de doença (+55%). Por outro lado, houve menos ausências para assistência a familiares (-11%).

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