Autocarros eléctricos no Ramal da Alfândega é solução rápida, barata e flexível

Debate sobre uma infra-estrutura que é um “diamante em bruto” valoriza a sua utilização como transporte colectivo em detrimento de uma ecopista.

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Adriano Miranda / PUBLICO

Num debate sobre o futuro do Ramal da Alfândega, no Porto, o catedrático em Transportes José Manuel Viegas defende o aproveitamento daquela infra-estrutura para uma linha de autocarros eléctricos movidos a bateria que ligaria a Ribeira a Campanhã. Tal serviço poderia ser efectuado com uma frota de apenas quatro veículos de 30 lugares cada um, dos quais dois estariam a operar e dois em carregamento.

O especialista entende que esta solução é barata, rápida de implementar (menos de três anos) e é reversível porque os autocarros podem ser aproveitados para outro local, caso o projecto não se revele viável. Por outro lado, caso se verifique um elevado crescimento da procura, esta solução pode migrar para o modo ferroviário, o qual tem mais capacidade.

“Acredito que possa haver uma procura interessante entre Campanhã e a Alfândega/Ribeira”, disse José Manuel Viegas, alertando, porém, para a necessidade de se fazerem estudos de mercado para aquele eixo.

O orador partilha da opinião do GARRA (Grupo de Acção para a Recuperação do Ramal da Alfândega), que organizou o debate, de que aquela infra-estrutura é um “diamante em bruto” que deve ser recuperado e posto ao serviço da cidade. E para não se perder demasiado tempo com estudos em soluções pesadas e irreversíveis, o especialista entende que a sua proposta é a mais versátil e barata. “Com autocarros eléctricos, o custo de uma asneira é muito pequeno”, afirmou.

Jorge Mayer, do GARRA, contou que o Ramal da Alfândega foi inaugurado em 1888 para transporte de mercadorias e que funcionou durante 101 anos até ser desafectado em 1989. Desde então aquela linha de quatro quilómetros (dos quais 1300 metros em túnel) está há 30 anos desaproveitada. Um “diamante em bruto”, chamou-lhe, porque, se fosse construída hoje, custaria entre 80 e 90 milhões de euros e, no entanto, já existe “e tem um potencial que muita gente desconhece”.

No mesmo debate participou o arquitecto paisagista Paulo Farinha Marques, que disse não simpatizar com uma solução de ecopista para o ramal, e o também arquitecto Paulo Calapez, autor de vários estudos sobre o Nó Ferroviário de Campanhã, que reforçou o “potencial muito grande do Ramal da Alfândega para o transporte colectivo”.

A decisão de que Campanhã será o terminal da futura linha de alta velocidade entre Lisboa e o Porto foi também um dos argumentos que robustecem a ideia de aproveitar o canal ferroviário do ramal para chegar à zona ribeirinha da cidade. Por isso, José Manuel Viegas disse que a Câmara do Porto deveria bater-se para que não se destruísse “a futura conectividade do terminal de Campanhã com o Ramal da Alfândega”.

Nos anteriores três debates organizados pelo GARRA, tinha sido veiculada a ideia de ligar aqueles dois pontos da cidade através da rede de eléctricos. Não os eléctricos históricos do Porto, mas veículos eléctricos modernos que circulariam pelo antigo túnel entre a Ribeira e Campanhã. Porém, neste debate, foi apresentada a solução dos autocarros eléctricos devido à sua maior versatilidade e baixo risco de investimento.

Até à data, todos os oradores destes eventos se manifestaram contra o projecto de se fazer uma ciclovia naquela infra-estrutura, que é a ideia defendida pela Câmara do Porto. Pedro Pardinhas, do GARRA, disse que já várias vezes convidaram os vereadores do executivo da cidade para participarem nos debates, mas estes recusaram.

O presidente da autarquia, Rui Moreira, tem-se mostrado favorável a uma solução para bicicletas, mas prometeu um debate público sobre o Ramal da Alfândega organizado pelo município para Setembro, o qual foi adiado para Novembro e agora para Dezembro.

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