Estudo sobre o fado vale prémio para investigadores de História a Cátia Tuna

A investigadora venceu o Prémio Victor de Sá de História Contemporânea 2020, depois de ter recebido o Prémio Fundação Mário Soares. Tese debruça-se sobre as ambivalências culturais e religiosas do fado.

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O Conselho Cultural da Universidade do Minho (UMinho) distinguiu Cátia Tuna com o Prémio Victor de Sá de História Contemporânea 2020, destinado a jovens investigadores daquela área, anunciou hoje a academia. Em comunicado, a UMinho refere que a vencedora concorreu com a obra Não sei se canto se rezo: ambivalências culturais e religiosas do fado (1926-1945), que também recebeu há dias o Prémio Fundação Mário Soares.

No valor de 3500 euros, o prémio nasceu em 1991 com base numa doação do historiador e humanista Victor de Sá e foi reconhecido como sendo de manifesto interesse cultural pela Secretaria de Estado da Cultura.

Citada no comunicado, Cátia Tuna sublinhou o “peso historiográfico, rigor científico e décadas de tradição” do prémio, mas confessou que não tinha muita esperança de o conquistar. “A minha esperança em vencer era limitada, porque o objecto do meu trabalho era algo periférico aos considerados grandes temas da História, como política ou tensões sociais. Por outro lado, tenho formação inicial em Teologia e não em História”, referiu Cátia Tuna.

A autora concorreu com a sua tese doutoral e concluiu que, nas duas décadas iniciais do salazarismo, “o fado passou de uma clandestinidade e subversão social para um patamar de moralização, integrando-se de algum modo na lógica do regime”. Segundo Cátia Tuna, a religião emergiu nesse trajecto: “Nas letras das músicas, alude-se à cruz, ao ‘ai meu Deus’, à ‘santa da minha mãe’ (figura redentora). Diz-se também que o fado é uma oração e usa-se metáforas da guitarra e da voz fadista”, elencou. Já as letras anticlericais foram diminuindo com o reforço da censura.

Cátia Tuna analisou ainda os gestos no fado, como olhos fechados e olhos revirados (remetendo para o êxtase ou sobrenatural), o impacto retórico para o público do choro e da dor, bem como a centralidade ideológica do destino e da saudade, entre outros aspectos.

A vencedora é doutorada em História e Cultura das Religiões pela Universidade de Lisboa, professora da Universidade Católica Portuguesa e investigadora do Centro de Estudos de História Religiosa.

Foram ainda atribuídas menções honrosas a Bruno Madeira, pela obra Homens entre ruínas? Ideias, narrativas, mundividências e representações das Direitas radicais portuguesas (1974-1985), e a Júlia Korobtchenko, pela obra O Ministério dos Negócios Estrangeiros. A reforma administrativa e o corpo social (1834-1910).

O júri da 29.ª edição do Prémio Victor de Sá foi presidido por Viriato Capela, professor catedrático da UMinho, tendo como vogais os professores Maria Fernanda Rollo, da Universidade Nova de Lisboa, e Luís Alberto Alves, da Universidade do Porto.

Em edições anteriores, foram laureados com o prémio investigadores como Fernanda Rollo, Miguel Cardina e Cláudia Ninhos.

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