Espanha quer Canárias e Baleares entre destinos seguros. Reino Unido equaciona restrições a França e Alemanha

Decisão britânica tem sido criticada e dificulta o despertar da economia espanhola. Portugal está na lista de países que impõem um isolamento de 14 dias após chegada a solo britânico. O aumento de casos na Alemanha (inferior ao britânico) e em França também pode ditar restrições por parte do Reino Unido.

Las Palmas, Canárias
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Las Palmas, Canárias BORJA SUAREZ/Reuters
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ALBERT GEA/Reuters

Muitos turistas britânicos que estavam em Espanha ou que tinham viagem marcada foram apanhados de surpresa pela medida do Governo britânico, anunciada no sábado, que desaconselha viagens para Espanha e obriga a uma quarentena de 14 dias à chegada ao Reino Unido, à semelhança do que acontece com Portugal. São muitas as pessoas que podem ser afectadas por esta medida: entre 26 de Julho e 31 de Agosto, há 9835 voos que estão marcados para sair do Reino Unido com destino a Espanha – e a medida dificulta ainda o despertar da economia espanhola. Agora, o país tenta negociar a permanência das ilhas Baleares e Canárias na lista britânica de destinos seguros até porque a incidência de covid-19 nas ilhas é inferior à do Reino Unido.

A medida, que entrou em vigor na madrugada de domingo, atinge em cheio o turismo espanhol e toda a actividade económica que dele depende, como agências de viagens e companhias aéreas, já afectadas desde o início da pandemia. Se não cumprirem a quarentena, os viajantes regressados de Espanha ficam sujeitos a uma pena de multa de até mil libras (1072 euros).

“Espanha é segura, é segura para os espanhóis, é segura para os turistas”, reagiu a ministra dos Negócios Estrangeiros espanhola, Arancha Gonzalez Laya. Os governantes das ilhas Baleares e Canárias têm pedido para ficar de fora destas medidas e o Governo espanhol está a tentar negociar uma excepção para estes destinos, argumentando que a incidência da doença nas ilhas é inferior à do Reino Unido. “Somos ilhas, é muito mais fácil controlar as entradas e saídas. Vivemos do turismo”, realçou a governante das Baleares, Francina Armengol, citada pelo jornal El País.

A negociação não está a ser bem-vista pela Costa del Sol. O governante Francisco Salado pede que o aeroporto de Málaga continue aberto e que a região seja incluída nesta tentativa de criar corredores aéreos seguros, excluídos de quarentena obrigatória. A região de Málaga recebe anualmente cerca de três milhões de turistas provenientes do Reino Unido. Tanto os responsáveis da Andaluzia (a que pertence Málaga) como de Valência pedem para ser integrados nas negociações para ficarem de fora da lista restritiva britânica. Os turistas britânicos correspondem a cerca de um quinto do total de visitantes estrangeiros em Espanha, segundo dados do ano passado.

“Temos de tomar estas medidas para travar o risco de reinfecção no Reino Unido, dado o aumento sério de surtos em Espanha”, justificou o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab. O embaixador britânico em Espanha, Hugh Elliott, explica que a decisão se deve ao aumento de novos casos na última semana. “Compreendo que isto é prejudicial para os viajantes que já estão em Espanha ou a pensar ir, mas tivemos de agir rapidamente para proteger a saúde pública no Reino Unido”, comentou Eliott, citado pela Reuters.

A medida apanhou muitos turistas de surpresa. “É mau porque aconteceu assim de repente, não deu tempo para preparar e agora está toda a gente a entrar em pânico”, comentava a turista britânica Emily Harrison, a embarcar num voo de Madrid para Londres. No aeroporto de Barcelona, o londrino Rich Lambert referia que tudo isto era “um bocado louco”. “As restrições em Espanha são muito boas, com máscaras, desinfecta-se tudo, lava-se as mãos com sabão nas lojas. Ficaria mais preocupado em apanhar coronavírus em Londres do que em Espanha”, disse.

A companhia aérea de baixo custo Ryanair já anunciou que não irá cortar os seus voos entre o Reino Unido e Espanha e considera a atitude britânica “lamentável”. “Não tenho dúvidas de que começaremos a ver outros surtos localizados e precisamos de ser flexíveis o suficiente para lidar com eles, quando os casos crescerem nas próximas semanas ou meses”, argumentou o director financeiro da empresa de aviação, Neil Sorahan, dizendo estar “desiludido” com a postura do Governo britânico.

França e Alemanha “em análise”

Além de Espanha, o Reino Unido equaciona juntar França e Alemanha à lista – ainda que a Alemanha tenha tido menos novos casos na última semana do que o Reino Unido. “Temos de manter a situação em análise e acho que é isso que os cidadãos esperam que façamos”, reagiu a secretária de Estado da Saúde, Helen Whately, quando questionada pela Sky News sobre a possibilidade de os viajantes que regressem a solo britânico vindos de França ou Alemanha terem de fazer quarentena. Espanha registou 12.166 novos casos na última semana; França teve 5858 novas infecções no mesmo período; o Reino Unido contou 4662 novos casos semanais e a Alemanha 3932, segundo os dados da universidade norte-americana Johns Hopkins.

A Comissão Europeia apelou nesta segunda-feira à aplicação da regra da não-discriminação nas restrições, devido ao aumento de casos de covid-19 nalgumas regiões, adoptadas pelos países europeus às viagens dentro da União Europeia (UE).

“Se um Estado-membro decidir aplicar [a imposição de] quarentena para o retorno de determinadas regiões, essa medida é possível, mas esperamos que seja respeitada a regra da não-discriminação entre regiões com a mesma situação epidemiológica”, declarou o porta-voz do executivo comunitário para as áreas da saúde pública e transportes, Stefan De Keersmaecker.

Portugal é também um dos países que estão na lista de quarentena obrigatória após regresso a solo britânico. O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, argumentou que “o Governo lamenta [esta] decisão não fundamentada nos factos e dados que são públicos”.

Os britânicos têm apontado cinco critérios: nível de testagem, taxa de letalidade, índice de reprodução da infecção, resposta dos serviços de saúde e casos por 100 mil habitantes. Sem o especificar, o ministro português deu a entender que foi este quinto critério que não permitiu a entrada de Portugal na lista de países seguros para turismo. Os Açores e a Madeira não estão incluídos na lista.

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