Trump ameaçou enviar tropas para Seattle — meta-se na sua vida, disseram-lhe o governador e a presidente da câmara

Presidente dos EUA ameaçou fazer avançar tropas para o quarteirão da cidade onde, há semanas, se pede justiça para George Floyd. O governador do já pacificado quarteirão respondeu que um “homem incapaz de governar” não se deve meter.

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O ambiente é, agora, de festival em Chaz NICK WOOD/Reuters

As autoridades estaduais do estado norte-americano de Washington disseram ao Presidente Donald Trump para não se meter nas suas decisões quanto a uma área da cidade de Seattle onde decorre um protesto anti-racista e foi declarada “zona sem polícia”.

Trump escreveu no Twitter que a área conhecida por Chaz tinha sido tomada por “terroristas internos” e ameaçou mandar avançar as tropas. O governador Jay Inslee disse que o Presidente não se deve meter em assuntos estaduais e a presidente da câmara de Seattle acrescentou que qualquer intervenção na cidade será ilegal.

Chaz é a sigla para Capitol Hill Autonomous Zone (zona autónoma do Capitólio), ocupa uma extensão de seis quarteirões e é o centro dos protestos a exigir justiça para George Floyd, o homem assassinado por um polícia em Minneapolis, crime que fez eclodir a revolta contra a violência policial e o racismo nos EUA e fora dele. 

A zona foi palco de confrontos violentos, até a polícia ter sido retirada, na segunda-feira, mantendo-se desde então um protesto pacífico — como a ocupação é permanente, com os manifestantes organizados, realizando discursos, discussões e outros programas de debate, os media já lhe chamaram “a comuna de Chaz”. O ambiente, segundo os jornais locais, é agora de um festival de rua.

Os manifestantes exigem uma reforma na polícia, em concreto uma diminuição das verbas para armamento a serem aplicada em programas sociais, uma melhor educação da polícia perante a comunidade e a retirada de todas as acusações feitas contra manifestantes detidos. Nos piores dias dos confrontos, a polícia usou gás lacrimogéneo e cães contra os manifestantes, e foi imposto o recolher obrigatório que foi sistematicamente quebrado.

“O meu avô esteve numa marcha e lançaram-lhe gás e cães”, disse, citado pela BBC Francis Van, um manifestante de 15 anos. “O gás não me vai ferir, não me vai parar”, acrescentou. “Sou jovem e quero mudança.”

Numa série de tweets, Trump atacou as autoridades democratas da cidade. “Recuperem a vossa cidade AGORA”, escreveu o Presidente. “Se não o fizerem, faço-o eu.” Noutro, disse que os manifestantes estavam a fazer o governador Jay Inslee “passar por parvo”.

Inslee respondeu: “Um homem que é incapaz de governar devia manter-se fora dos assuntos do estado de Washington”. A presidente da câmara, Jenny Durkan, foi mais ácida: “Volta para o teu bunker”. “Ameaçar invadir Seattle, dividir e incitar à violência, não ajuda e devia ser ilegal.” 

Segundo a BBC, para fazer avançar tropas para Seattle, ou para outra cidade como chegou a dizer que faria se os protestos não fossem controlados pelos governadores, o Presidente teria que invocar uma lei do século XIX que determina em que situações o Governo federal pode intervir nos estados. O que pode acontecer caso estes não consigam garantir a segurança das ruas e da propriedade. A lei foi usada em 1992 durante os motins de Los Angeles, após quatro polícias terem sido absolvidos depois de terem brutalizado Rodney King  e foi a pedido do governador da Califórnia. Nos anos de 1950-60, a lei foi usada durante os levantamentos pelos direitos civis da população afro-americana.

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