Zoo de Santo Inácio reabre a visitas: acabou-se o silêncio, voltaram as gargalhadas

O Zoo de Santo Inácio reabriu esta quinta-feira aos visitantes. O espaço garante a segurança, com medidas redobradas para cumprir as normas . E para voltar a ver os animais, até houve quem saísse pela primeira vez de casa após semanas de isolamento.

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Zoo de Santo Inácio, reabertura após a quarentena Nelson Garrido
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Zoo de Santo Inácio, reabertura após a quarentena Nelson Garrido
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Zoo de Santo Inácio, reabertura após a quarentena Nelson Garrido

Ao aproximarmo-nos da entrada do Zoo de Santo Inácio, em Avintes, o espaço parece vazio. A natureza invade os sentidos e, apesar de uma imensidão de sons flutuar pelo ar, existe também um silêncio absoluto. Foi exactamente assim que o espaço esteve desde 16 de Março, data em que encerrou ao público, tal como outros espaços similares, caso do Zoo de Lisboa, que reabre esta sexta-feira.

Teresa Guedes, directora do Zoo, diz que o silêncio foi o que mais estranhou ao longo das últimas semanas. “Até as folhas das árvores conseguia ouvir a caírem no chão.” Nesta quinta-feira, o silêncio foi quebrado. Avançando pelo caminho de terra, o riso de uma criança junta-se ao chilrear dos pássaros. Mais à frente, um casal conversa animado enquanto aponta para o grande tigre da Sibéria. Adiante, um bebé chora deitado no carrinho e assusta os lémures, que parecem ter-se esquecido dos sons humanos.

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Zoo de Santo Inácio, a reabertura: muitas famílias e crianças aproveitaram o dia Nelson Garrido

“Acho que notam alguma diferença mas não consigo perceber se os animais se sentem tristes”, diz a directora, que tem porém uma certeza: Se “falhassem os tratadores”, os animais sentiriam falta – afinal, “são quem lhes dá tudo”. Relativamente aos visitantes, não sabe responder. “Durante estas semanas, mantivemos tudo igual. Todos os dias preparámos alimentos frescos, limpámos os habitats e fizemos o que chamamos ‘abrir e fechar os animais’ (colocá-los no habitat exterior e ao fim do dia recolhê-los).” A grande dificuldade, admite Teresa Guedes, foi manter a empresa – a nível emocional e a nível financeiro. “Foi muito complicado de gerir, as pessoas estavam cheias de medo de serem contaminadas e do que ia acontecer a seguir. Tudo isto foi um choque enorme e não é nada fácil sentir a responsabilidade das vidas de 40 colaboradores e das suas famílias.”

A questão financeira também foi outra dor de cabeça: “estamos a falar dos salários dos colaboradores e da alimentação dos animais - em que gastamos cerca de 15 mil euros por mês - que tivemos de suportar sem receitas nenhumas”. Mas conseguiram aguentar estes dois meses com receitas do ano passado e a ajuda da campanha de apadrinhamento de animais e, agora, têm “Maio inteiro para recuperar”. Mesmo contando com uma quebra de visitantes entre 50% a 70%, Teresa sente-se positiva: as portas abriram às dez da manhã, já tinham “gente na bilheteira à espera e as famílias dizem que estavam ansiosas por poderem passear ao ar livre”.

Passear ao ar livre é um alívio para qualquer pessoa depois deste tempo de isolamento. O “voto de confiança gigante” dado pelos visitantes neste primeiro dia é muito importante para a directora, que sente que as pessoas “confiam no Zoo como um espaço amplo e seguro”. Casa de 600 animais de 250 espécies diferentes, o espaço está idealizado para que as pessoas os possam conhecer verdadeiramente. “Queremos que as pessoas conheçam bem os nossos animais, que se aproximem, que se apaixonem e que nos ajudem a preservá-los - essa é a nossa grande missão”, diz.

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Zoo de Santo Inácio, a reabertura: e o que pensarão os animais da quarentena e do regresso às visitas? A pergunta impõe-se, mas infelizmente não há resposta. Nelson Garrido

Estendendo-se por 15 hectares em Avintes, Gaia, o parque reabriu com cartazes novos: cuidados recomendados aos visitantes, como o uso de máscara, a manutenção do distanciamento social e a desinfecção constante das mãos nos “imensos postos espalhados por todo o Zoo”, e aviso de espaços temporariamente encerrados - Reptilário, Casa dos Animais Nocturnos, Mundo Tropical, Restaurante do Zoo e parques infantis.

O bar funciona apenas em formato de take-away e inclui marcações de distanciamento. José Alves, chefe dos tratadores, explica que durante o estado de emergência trabalharam “em equipas e por turnos”, sempre equipados com máscaras e com desinfecção de mãos regular. “Trabalho aqui há 20 anos e tenho muito gosto em fazê-lo - estar ao ar livre é do melhor que há na vida. Se tiver de acontecer, acontece, mas falta de cuidado não há.” Lamenta, no entanto, que o uso de máscaras não seja obrigatório em todas as circunstâncias. “Abrimos o Zoo hoje e já temos algumas pessoas sem máscara. Não deviam facilitar.”

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Zoo de Santo Inácio Nelson Garrido

Num ano normal, os meses de Verão são muito importantes para o Zoo, que recebe milhares de crianças e turistas. Não podendo contar com ambos, Teresa Guedes decidiu dar uma nova força à campanha de apadrinhamento de animais, conseguindo nas duas últimas semanas cobrir cerca de um terço dos custos da alimentação com o valor angariado. Quem quiser, pode apadrinhar um animal por 4,17€ por mês (50€ anuais) e visitá-lo sempre que quiser. O espaço celebra a 1 de Junho o seu 20º aniversário, mas os festejos já foram adiados para o próximo ano.

Pelo meio-dia, os felinos descansam à sombra, mas os macacos-aranha não param um segundo. Ao ver o tratador a aproximar-se com comida, as lontras soltam uns ruídos que podem ser considerados de felicidade e saltitam a duas patas no seu habitat. Mais à frente, encontramos uma família a admirar as cabrinhas. Ana Cabral conta que o Zoo é um dos seus locais de eleição para visitar em família e que hoje “está um dia excelente porque muita gente ainda não tem conhecimento de que abriu, então consegue-se andar à vontade sem correr tantos riscos”.

“Depois desde período longo de isolamento, a melhor saída para ele seria vir a um sítio de que goste”, afirma a mãe, referindo-se ao filho de 5 anos. “Esta é a nossa primeira saída.”

Texto editado por Ana Fernandes

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