OMS avisa que ainda poucas pessoas desenvolveram anticorpos contra a covid-19

Director-geral da OMS citou dados iniciais de estudos que mostram que apenas 2 a 3% da população mundial pode ter sido infectada.

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Profissional de saúde tira amostra de sangue para um teste serológico nos EUA JOHN G. MABANGLO/EPA

Apenas uma pequena proporção da população global parece ter anticorpos no sangue, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Referiu-se ainda que alguns estudos mostram que só 2 a 3% da população parece ter sido infectada.

Ao longo de uma conferência de imprensa desta segunda-feira, Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da OMS, congratulou o desenvolvimento acelerado e a validação de testes para detectar anticorpos da covid-19, o que poderá ajudar a entender a extensão da infecção na população. Através de testes serológicos pretende-se saber qual a percentagem da população que foi infectada e que desenvolveu anticorpos. Em Portugal, por exemplo, cinco institutos científicos já estão a criar um teste que detecte anticorpos contra o novo coronavírus.

Tedros Adhanom Ghebreyesus adiantou ainda que a OMS está a dar apoio técnico, científico e financeiro para “a implementação de testes sero-epidemiológicos em todo o mundo”. E referiu resultados de alguns estudos: “Dados iniciais de alguns desses estudos sugerem que uma percentagem relativamente pequena da população pode ter sido infectada, mesmo nas áreas mais afectadas – não mais de 2 a 3%.”  

Maria Van Kerkhove, epidemiologista da OMS, disse ainda que se pensava que o número de infectados poderia ser maior, mas frisou que é muito cedo para se ter qualquer certeza. “Vemos uma proporção menor de pessoas com anticorpos do que aquilo que esperávamos”, afirmou.

Para contextualizar as declarações de Tedros Adhanom Ghebreyesus e Maria Van Kerkhove, o jornal britânico The Guardian citou um estudo que ainda não foi revisto por pares e que feito em Santa Clara, um condado na Califórnia com quase dois milhões de pessoas. Nesse trabalho realizado pela Universidade de Stanford refere-se que os números oficiais indicavam 1094 casos confirmados, mas testes aos anticorpos sugeriam que entre 48.000 a 81.000 pessoas terão sido infectadas no início de Abril e que a maioria não desenvolvia sintomas. Embora elevados, esses números significavam que apenas cerca de 3% da população tinha sido infectada e tinha anticorpos. Também num estudo nos Países Baixos com 7000 dadores de sangue viu-se que apenas 3% das pessoas tinha anticorpos.

Mesmo assim, Maria Van Kerkhove diz que é preciso tomar atenção à forma como os estudos estão a ser feitos e que muitos ainda nem foram publicados ainda em revistas científicas. Também se deve salvaguardar que uma boa parte da população mundial está em confinamento. E, embora muitos países estejam a usar os testes serológicos, a epidemiologista alertou na semana passada: “Até agora, não há provas de que o uso de testes serológicos possa mostrar que um indivíduo tenha imunidade ou esteja protegido de uma reinfecção.”

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