Costa confirma renovação do estado de emergência: “Vamos adoptar medidas mais claras”

O primeiro-ministro esteve esta manhã no Programa da Cristina para falar sobre coronavírus. No programa mais visto das manhãs, António Costa avisou os portugueses de que este será “o mês mais difícil”.

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António Costa avisa que este mês vai ser o mais difícil e perigoso LUSA/HUGO DELGADO

Na véspera de renovação do estado de emergência, o primeiro-ministro adiantou que o próximo pacote de medidas de restrição e combate à propagação do novo coronavírus trará “medidas mais claras”. Sem concretizar quais serão as alterações que o Governo poderá propor na quinta-feira, António Costa afirmou que uma das preocupações será restringir a circulação durante as férias da Páscoa. 

Vamos adoptar medidas mais claras para que as pessoas percebam que no período da Páscoa não podem mesmo andar a circular e devem ficar na sua residência permanente. Acho que vamos ter de apertar um bocadinho, dando um sinal mais claro de que não é mesmo época para andarmos de um lado para o outro”, disse o primeiro-ministro no Programa da Cristina, na SIC. E acrescentou: “O vírus não anda sozinho. Somos nós que o levamos. Se nós não formos, ele não vai.”

Logo no início da conversa, o primeiro-ministro português disse estar ali para “passar uma mensagem”. No programa das manhãs mais visto pelos portugueses, António Costa insistiu repetidamente na importância de manter as medidas de restrição social e avisa que Abril vai ser o pior mês, não só devido às férias da Páscoa e à chegada de emigrantes, mas também porque há o risco de o cansaço da população no cumprimento das restrições sociais trazer um relaxamento e consequente perigoso aumento de casos.

“O sonho que todos temos é que no final do mês de Abril possamos começar a abrir um pouco as portas. Mas não sabemos se isso vai acontecer e ninguém sabe dizer”, declarou António Costa sobre a incerteza da evolução desta pandemia. “Temos um vírus novo que os próprios cientistas não conhecem ainda”, acrescentou. Por isso, apelou ao esforço e contenção individual. “Não conseguimos ter uma polícia em cada rua. Tem de haver disciplina. As pessoas não podem ir à terra. Não podem ir visitar os seus familiares”, avisou.

“Hoje sabemos que muitas das pessoas estiveram infectadas com o vírus e não tiveram sintomas. Mas podem ter infectado [outras]. Por isso, mais do que [pensar nos] equipamentos, é fundamental cumprirmos as regras de distanciamento social.”

“Ainda estamos na fase em que estão a aumentar os casos”, disse, antes de adiantar que nesta quarta-feira foram confirmados mais 808 casos de doentes com covid-19. Por isso, “este mês é perigosíssimo”, disse. “Vamos ter de ver a Páscoa de forma radicalmente diferente.”

António Costa não esconde a sua preocupação face às próximas semanas e apela aos emigrantes portugueses que não venham passar as férias da Páscoa à sua terra natal. “Este ano, não venham. Fiquem. Até porque, se vierem, não podem sair de casa”, vincou. “As famílias numerosas vão ter de estar juntas separadas: cada uma na sua casa.”

Barbearias e esteticistas não podem ter portas abertas

Face à crescente preocupação sobre o possível endividamento das famílias, António Costa explicou que as medidas de restrição, que levaram ao encerramento de vários estabelecimentos, foram planeadas para “uns meses, tinham mesmo de ser impostas”. Sobre o funcionamento de barbearias, centros de estética e cabeleireiros, António Costa também dissipou dúvidas: “Não podem, não devem receber clientes.”

António Costa avançou que nesta terça-feira existiam já “cerca de 76 mil trabalhadores abrangidos em regime de layoff em dois dias que esteve disponível o requerimento", o que reduz o salário dos trabalhadores a dois terços. “O apoio do Estado é a fundo perdido, não é a crédito”, ressalvou.

“Temos todos de fazer um esforço para que as empresas não fechem e para que os rendimentos sofram a menor quebra possível. Mas essa é aquela esperança que eu não devo incutir. Vamos sair. Mas ainda não é tempo de dizer que estamos no início da saída. Este vai ser o mês mais difícil”, insistiu.

Reabertura de escolas é decidida a 7 de Abril

O primeiro-ministro afirma que só no próximo dia 7 de Abril haverá uma reunião com especialistas e líderes partidários para decidir se as escolas irão ou não reabrir. O primeiro-ministro adianta que o Governo está a trabalhar em soluções para reforçar o acompanhamento escolar à distância, garantindo que irá ser assegurada “a justiça” das avaliações, uma vez que as desigualdades económicas das famílias não asseguram as mesmas ferramentas a todos os alunos. Uma das medidas será apostar na transmissão de conteúdos através da televisão (Televisão Digital Terrestre), adiantou.

“Para todos os níveis educativos, estamos a trabalhar numa solução de rede de segurança, porque sabemos que muita gente não tem acesso aos conteúdos e às aulas que têm estado a ser ministrada online por computador”, afirmou. Mas é uma coisa muito difícil. Quando havia tele-escola [décadas de 70 e 80] havia meia dúzia de disciplinas, mas agora há dezenas de disciplinas e é muito difícil organizar grelhas.

António Costa garantiu ainda que “ninguém irá perder o ano lectivo”, mas que só no dia 9 de Abril será anunciada uma decisão. “A escola não é só avaliação. É sobretudo aprendizagem”, argumentou.

88% dos doentes estão em casa

Sobre a preparação dos serviços de saúde, Costa garante que estão a ser feitos esforços para garantir que existirá capacidade de resposta a um pico da epidemia. “Temos 88% de doentes diagnosticados com coronavírus em tratamento domiciliário. E não estão em casa por incapacidade do sistema hospitalar: é porque não é necessário. Felizmente, ainda não chegámos a nenhuma situação de ruptura no sistema”, afirma.

No entanto, o primeiro-ministro ressalvou que o tempo de cura do coronavírus “é muito superior” ao que estamos habituados com outros vírus e que por isso, quando alguém é internado, “a mesma cama está ocupada durante pelo menos duas semanas”. “Por isso, é importante termos os serviços preparados” para um volume elevado de casos, explicou.

Para tentar evitar essa ruptura, o primeiro-ministro pediu que se sigam as directrizes dos especialistas. “Eu quando vou ao médico faço o que ele me manda. O nosso médico é a Direcção-Geral da Saúde. Quando estamos doentes, temos sempre um primo que nos diz que faria outra coisa, mas eu ouço sempre o médico”, vaticina.

Face aos relatos de que existem idosos a desvalorizar o vírus e “sem medo de morrer”, o primeiro-ministro insiste na importância de impedir a propagação do vírus, não só para a protecção da saúde individual, mas também por uma questão de saúde pública. Dirigindo-se justamente à população mais idosa e mais susceptível de ser contaminada, Costa pediu “um grande esforço” de estarem “mais sós, para se protegerem a si e aos outros”, incluindo profissionais de saúde.

No futuro, diz o líder do Governo, teremos de “chegar a um nível de contaminação em que possamos viver com o vírus”, exemplificando que outrora fizemos o mesmo com o sarampo. “Mas ainda não estamos nessa fase. Ainda conhecemos muito pouco desse vírus para poder fazer isso”, concluiu.

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