Nem o agronegócio está com Bolsonaro

Alceu Moreira, líder da bancada ruralista afirma que “tudo é recuperável, mas só para os vivos”. Governador de Goiás pede medidas para dar alimentos às pessoas em isolamento antes que haja distúrbios.

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As posições de Bolsonaro sobre a pandemia estão a fazê-lo perder o apoio dos seus principais aliados UESLEI MARCELINO/Reuters

O deputado federal Alceu Moreira, presidente da Frente Parlamentar Agro-Pecuária, afirmou esta segunda-feira que defende as medidas de isolamento social ditadas pelo ministro da Saúde brasileiro, Luiz Henrique Mandietta, salientando que a sua posição não deve ser vista como uma crítica ao Presidente Jair Bolsonaro, que tem insistido nos últimos dias para que as pessoas continuem a trabalhar e mantenham a economia a funcionar.

“Tudo é recuperável, mas só para os vivos. Quando tudo passar, trabalharemos duas horas a mais, cancelaremos as férias em 2020, vamos estudar o que fazer. Mas isso só será possível se as medidas passadas pelo Ministério da Saúde forem respeitadas”, afirmou o líder da bancada ruralista no Congresso, habitual apoiante do chefe de Estado, citado pela Folha de S.Paulo.

Para o deputado, existe actualmente “uma crise retórico-política” que não justifica apontar o dedo ao Presidente, apesar de este domingo Bolsonaro ter desrespeitado as ordens do seu próprio Governo, e da Organização Mundial de Saúde, e tenha ido para a rua visitar mercados e gerar aglomerações de pessoas ao seu redor.

“Quem quiser ler por um viés ou por outro, vai da cabeça de cada um. Não jogaremos lenha na fogueira neste momento. Nossa preocupação é com a nossa área de trabalho, o agronegócio”, salientou Moreira, para quem este “Governo tem o mérito de ter colocado ministros técnicos” em áreas fundamentais, como a da Saúde.

Outro grande apoiante de Bolsonaro desde a primeira hora, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que também foi contra as indicações do Presidente e mandou fechar o comércio e disse às pessoas ficar em casa, classificou de insensata a campanha “O Brasil não pode parar”, lançada pelo Governo federal. Caiado referiu que está a ser pressionado pelo sector privado para levantar as medidas de restrição e deixar abrir o comércio no seu estado, mas que não vai recuar na sua posição.

O governador pediu ao Executivo federal que tome medidas para garantir que as pessoas em isolamento continuem a poder comer ou poderá haver revolta e distúrbios: “As empresas vão ter diferimento de imposto? Muito bom. Mas isso tem como adiar, prorrogar. Agora o que não dá é para dizer ao cidadão ‘daqui a cinco dias vou fazer a comida chegar na sua casa, tá?’”, disse, citado pela Folha de S.Paulo.

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