Coronavírus: Odemira tem 500 lugares para quarentena de imigrantes

Em Odemira a maioria dos imigrantes está a trabalhar na agricultura. Partilha casas onde ficam dezenas de pessoas. Alentejo ainda não teve casos de covid-19 mas autarquia e associações acham que é uma questão de tempo.

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Miguel Manso

O Alentejo está, até agora, sem registo de casos de covid-19. Mas José Alberto Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de Odemira, diz ao PÚBLICO que tem preparado um plano de prevenção para situações de quarentena onde se inclui a disponibilidade de vários espaços no concelho para albergar até 500 imigrantes que estão a trabalhar na agricultura, no caso de haver contaminação. “A autarquia tem disponíveis equipamentos públicos com dimensão e condições para alojamento e banhos, como pavilhões desportivos e multiusos e estamos também a tentar precaver a necessidade de refeições”, afirmou. Os equipamentos ficam em Vila Nova de Milfontes, Odemira, São Teotónio e Boavista dos Pinheiros.

“Não estamos tranquilos pelo facto de o Alentejo não registar casos, sabemos que é uma questão de tempo”, disse. E, se acontecer, prevê-se que afecte vários cidadãos, completou. 

Esta segunda-feira soube-se que um nepalês que trabalha na agricultura em Faro está contaminado com o novo concoronavírus e foi internado no Hospital de Faro. O presidente da autarquia, Rogério Bacalhau, disse que o homem em causa vivia numa casa com mais oito nepaleses, fazia parte de uma comunidade onde estavam cerca de 70 imigrantes que trabalham na agricultura na zona do Rio Seco e por isso ficaram em quarentena no pavilhão da Escola EB 2, 3 de Santo António, em Faro. Esta terça-feira foi revelado que mais três testaram positivo.

Neste momento estima-se que a população imigrante no concelho seja de entre 8 a 10 mil cidadãos, afirmou. Segundo a Pordata, a população do concelho é de cerca de 24.600 em final de 2018.

As empresas da zona transmitiram-lhe que os trabalhadores continuam ao serviço. Ao autarca as empresas garantiram que todos os trabalhadores que vieram do estrangeiro nos últimos dias foram colocados em quarentena. Mas a câmara não tem competência para decidir quais as empresas que se mantêm em funcionamento, isso cabe à Direcção-Geral de Saúde, afirmou. 

Só na Lusomorango, um consórcio de 42 produtores de vários bens agrícolas, e o maior da zona, trabalham duas mil pessoas de mais de 30 nacionalidades. Com cerca de 600 trabalhadores, a Maravilha Farms, uma das suas produtoras, tem casas na Zambujeira e em São Teotónio, que no Verão, quando o PÚBLICO as visitou, albergavam 300 pessoas e estavam distribuídos por 20 casas. Os trabalhadores partilhavam quarto, casa de banho e cozinha, e dormiam em beliches. 

Ao PÚBLICO, a Lusomorango diz que ainda continua em funcionamento, cumprindo as orientações emitidas pelo Governo; a empresa tem também elaborado um plano de contingência que “salvaguardará a operacionalidade das produções”. “Estamos articulados com a Autoridade Local de Saúde e todos os nossos associados estão muito empenhados em evitar casos positivos.” Assim, “não poderá entrar ao serviço das nossas associadas qualquer trabalhador que apresente sintomas respiratórios; e todos os novos trabalhadores (ou trabalhadores regressados de viagens) só poderão iniciar trabalho após quarentena de 14 dias”.

Grupos continuam a juntar-se na rua, diz

“Estou preocupado? Estou”, responde o autarca. Segundo o autarca há várias pessoas que continuam a ir à rua, em grupos, que não falam português nem inglês e “não temos a garantia de que conheçam a necessidade de se recolher”. “Já comunicámos a todas as entidades de segurança e temos feito campanhas de informação através da comissão municipal de integração de migrantes”.

Questionada sobre que planos existem para esta zona que tem assistido a um crescimento exponencial de imigração a trabalhar para a agricultura, a secretaria de Estado para a Integração e as Migrações diz que foi transmitida informação aos Centros Nacionais de Apoio à Integração de Migrantes (CNAIM) e à Rede de Centros Locais de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM), que vão continuar a prestar informação, maioritariamente via telefone, e-mail e redes sociais.

Alberto Matos, da delegação de Beja da Solidariedade Imigrante (Solim), associação de apoio aos imigrantes, acha que o aparecimento de um caso na zona é uma questão de tempo. Lembra que na zona de agricultura intensiva, sobretudo por causa das estufas, na faixa que vai até ao Algarve, muitos dos imigrantes vivem em condições de habitabilidade vulneráveis, “em contentores”. Concentra-se um grande número de pessoas em espaços pequenos, e “pode haver maior potencial de perigo de contágio”, afirmou. “Sabemos que o perigo é maior onde há grande ajuntamento.”

Nas últimas semanas, Alberto Matos tem recebido vários imigrantes que passaram por Itália e Espanha. Neste momento, deixaram de fazer atendimento presencial. 

Ao PÚBLICO o nepalês Nanda Kandel, dono de uma mercearia e mediador da autarquia, diz que na Zambujeira do Mar, onde vive, está tudo tranquilo e a população nepalesa está informada, mas que nenhuma das autoridades foi falar com eles. “As pessoas ainda andam na rua, mas não andamos em grupos”, referiu. 

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