Taliban e EUA assinam acordo para retirada de tropas estrangeiras do Afeganistão

Plano prevê retirada faseada durante 14 meses e segue-se a uma semana de redução de violência no terreno. Poderá pôr fim à guerra mais longa travada pelos EUA.

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Mullah Abdul Ghani Baradar, líder da delegação dos taliban, e Zalmay Khalilzad, enviado dos EUA para a paz no Afghanistan, assinam o acordo em Doha IBRAHEEM AL OMARI/Reuters

Os Estados Unidos assinaram este sábado um acordo histórico com os taliban que pode abrir caminho a uma retirada total das forças estrangeiras do Afeganistão lideradas pelos Estados Unidos, que estão no país há 18 anos.

O acordo pode permitir terminar a mais longa guerra em que os Estados Unidos se envolveram (e em que morreram dezenas de milhares de pessoas), se avançar a retirada faseada durante 14 meses. No entanto, seguem-se agora conversações entre as facções afegãs – e muitos esperam que essa fase seja ainda mais complicada.

O acordo foi assinado em Doha, no Qatar, pelo enviado especial dos EUA Zalmay Khalilzad e o líder político dos taliban Mullah Abdul Ghani Baradar, na presença do secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo.

O secretário da Defesa, Mark Esper, esteve em Cabul numa cerimónia para marcar o acordo, que contou ainda com a presença do secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, e o Presidente afegão, Ashraf Ghani.

A visita de Esper foi vista como um meio para assegurar o governo afegão que os Estados Unidos continuam empenhados na segurança do país. Muitos responsáveis do Governo afegão e dos países à volta temem que os Estados Unidos abandonem simplesmente o país à sua sorte.

O Governo afegão terá agora de formar uma equipa de negociação e levar a cabo uma troca de prisioneiros com os taliban. Os “estudantes de teologia” defendem uma versão especialmente austera da sharia e da lei islâmica. Em zonas que controlaram obrigaram homens a deixar crescer a barba e mulheres a usarem burkas, e levaram a cabo castigos públicos como execuções ou amputações em resposta a crimes. Também não aceitam pintura ou música, ou escolarização de mulheres.

Um responsável taliban garantiu que iriam aceitar direitos iguais para estudar ou trabalhar para as mulheres, o que deixa muitos cépticos, diz a rádio norte-americana NPR.

"Neste momento há um país muito fragmentado, mesmo para além dos taliban e do governo central que estão claramente em guerra”, disse Bahar Jalali, que dirige o programa de mentores de mulheres na Universidade Americana do Afeganistão. 

O acordo entre os EUA e os taliban acontece quando o Afeganistão anunciou finalmente, cinco meses após a votação, um vencedor das eleições presidenciais, dizendo que Ashraf Ghani foi reeleito, contra os protestos do segundo classificado Abdullah Abdullah, que rejeitou os resultados e prometeu nomear um governo paralelo.

"Há muita consternação com os taliban estarem a voltar e reemergir como actores políticos viáveis”, disse ainda Jalali à NPR. “No que é que isso vai dar?”

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