Metrobus de Coimbra vai partilhar via com carros em três pontos da cidade

Ligação complementar à alta universitária está a ser estudada. Linha do Hospital deve começar a funcionar em 2023

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O metrobus será um complemento ao serviço dos SMTUC Paulo Pimenta

Nos 3,5 quilómetros que ligam a beira-rio de Coimbra ao Hospital Pediátrico, os autocarros eléctricos do Sistema de Mobilidade do Mondego vão partilhar a via com outras viaturas em três trechos: o primeiro, é entre a Câmara Municipal de Coimbra e o Mercado, na rua Olímpio Nicolau Medina; o segundo é na rua Augusto Rocha, antes da Cruz de Celas; o último é já depois dos Hospitais da Universidade de Coimbra, a caminho do Hospital Pediátrico, numa extensão de 203 metros.

A informação está Relatório de Conformidade Ambiental do Projecto de Execução (RECAPE)da Linha do Hospital, que pode ser consultado e comentado na plataforma Participa (https://participa.pt/pt/consulta/metro-mondego-adaptacao-a-uma-solucao-brt-metrobus-linha-do-hospital) até dia 20 de Janeiro. O documento adapta a avaliação de impacte ambiental desenhada para o metropolitano ligeiro de superfície (que chegou a ser projecto, mas cuja instalação na cidade nunca avançou) ao sistema de autocarros eléctricos também conhecido por metrobus ou bus rapid transit (BRT). Esta opção tecnológica, segundo os documentos, é justificada pelo “baixo custo de investimento e manutenção para a capacidade obtida”, mas também pela “pontualidade” e “benefícios ambientais”.

O trajecto da linha que atravessa o centro histórico da cidade já tinha sido apresentado em Setembro, pelo presidente da Infraestruturas de Portugal, numa sessão pública que teve lugar na Câmara Municipal de Coimbra. As duas principais alterações em relação ao anterior projecto do metropolitano são a utilização da Rua Augusta e a passagem pelo interior dos HUC, para se ligar ao Pediátrico. No entanto, os documentos agora em consulta pública mostram o percurso em detalhe.

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Ainda que grande parte da Linha do Hospital, ao longo da qual há nove paragens, seja feito em canal dedicado, o centro da cidade apresenta dois pontos mais sensíveis: no intervalo entre câmara e mercado e na rua Augusto Rocha, onde a circulação deixa de ser em via segregada. Ao PÚBLICO, o presidente da CMC, Manuel Machado, admite que possa vir a haver “alguns constrangimentos” com a circulação de automóveis nestes pontos, mas garante que está prevista a instalação de “um conjunto de dispositivos de racionalização dos fluxos de automóveis” que ajudará a fazer essa gestão.

Além disso, o projecto prevê que “todas as intercepções” do canal de metrobus com arruamentos rodoviários sejam semaforizadas, para garantir a prioridade do transporte público, que terá velocidades entre os 10 e os 50 quilómetros por hora. A largura dos canais dedicados que tenham circulação nos dois sentidos é de 7,30 metros e de 3,5 metros para apenas um sentido.

Redesenhar o movimento na cidade

Abandonada que foi a passagem pelos Arcos do Jardim e a construção de um túnel subterrâneo, que permitiria passar sem constrangimentos pelo nó da Cruz de Celas, que entope constantemente em horas de ponta, ficavam dois problemas por resolver. O metrobus contorna a Praça da República e sobe pela rua à esquerda do Jardim da Sereia. Divide-se depois em dois: quem vem do Hospital fá-lo através da Rua Augusta até à entrada da Maternidade Bissaya Barreto; quem vai no sentido inverso fá-lo pela rua Augusto Rocha. Os dois sentidos encontram-se pouco depois, no Largo de Celas, o Largo de Celas vai ser transformado numa rotunda para o trânsito normal, sendo atravessada pelo canal de metrobus. Este é só um exemplo de como a entrada em funcionamento dos autocarros eléctricos vai obrigar à re-organização da circulação rodoviária do centro de Coimbra.

No entanto, há outros pontos que ainda estão por definir. Falta demolir três edifícios em frente à CMC, para que possa ser aberta de facto a Via Central e o metrobus ali passe. A futura intervenção na rua da Sofia é ainda uma incógnita. O projecto do metropolitano ligeiro previa que a rua classificada em 2013 como Património da Humanidade pela UNESCO ficasse apenas com uma via de circulação, no sentido sul-norte, reservada a transportes públicos e ao acesso local. No entanto, Machado diz que “só dará para avaliar qual a procura e necessidade real de intervenção na Sofia quando o sistema estiver a funcionar”.

Um dos aspectos mais criticados pela oposição camarária tem sido a ausência de uma paragem na Alta universitária, um dos pontos de maior procura de quem vive na cidade, mas também por parte dos turistas. Esta necessidade está igualmente a ser estudada, diz o autarca. Embora seja certo que o percurso do metrobus não vai sofrer um desvio, está em análise uma solução que ligue a base das escadas monumentais ao topo. Manuel Machado aponta uma de duas hipóteses: ou umas escadas rolantes ou um elevador, à semelhança do que existe hoje no Mercado D. Pedro V.

O governo prevê que a Linha do Hospital esteja a funcionar em 2023 o que, podendo ajudar o problema de mobilidade de Coimbra, levanta outra questão: o sistema fica com algumas das linhas que, por terem maior procura, garantem maior receita aos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC), suportados pela CMC. Manuel Machado espera seja dado a Coimbra “um tratamento igual a outras áreas do país”, ou seja, que o governo possa contribuir para o financiamento dos SMTUC, à semelhança no que se passa nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.

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