Mulher teme pela vida após tribunal retirar pulseira electrónica a alegado agressor

“Se calhar, vou ser mais uma para as estatísticas [das vítimas mortais de violência doméstica]”, alertou mulher. Advogado diz que decisão do juiz se deveu a “falha processual”.

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RICARDO SILVA

O julgamento de um caso de violência doméstica em Braga ficou marcado, na quarta-feira, pela ordem do juiz para retirar a pulseira electrónica ao arguido, por já ter expirado o prazo para a aplicação daquela medida de coação.

A vítima, uma mulher de 45 anos, disse esta quinta-feira à Lusa que a decisão a deixou “ainda mais apavorada” e “literalmente entregue” à sua sorte. “Se até aqui, mesmo com pulseira, ele já me fazia a vida num inferno, a partir de agora temo muito pelo que possa vir a acontecer, a mim e à minha filha. Se calhar, vou ser mais uma para as estatísticas [das vítimas mortais de violência doméstica]”, referiu.

O advogado da vítima, João Magalhães, explicou à Lusa que a retirada da pulseira electrónica se ficou a dever a uma “falha processual”. “O prazo para a medida cautelar expirou, o Ministério Público não pediu outra e o tribunal teve de mandar retirar a pulseira”, referiu.

Esta semana, o advogado da vítima já requereu a aplicação de nova medida de coação, concretamente a mais gravosa, prisão preventiva. “Mas a verdade é que, entretanto, a vítima está completamente desprotegida”, acrescentou João Magalhães.

O processo em causa já foi julgado uma primeira vez, em Vila Verde, tendo o arguido sido absolvido. No entanto, a vítima recorreu para a Relação, que mandou repetir o julgamento, desta vez em Braga. Na quarta-feira, ia realizar-se mais uma audiência mas a sessão acabou por não se realizar, por causa do incidente da retirada da pulseira electrónica ao arguido. Foram contactos os serviços prisionais, que retiraram a pulseira ao arguido e o botão de alerta à alegada vítima.

Estou literalmente entregue à minha sorte. Se já andava apavorada, agora mais apavorada fico”, referiu a mulher. O casal viveu em união de facto durante 24 anos, tendo a mulher decidido pôr fim à relação em Outubro de 2016.

A mulher diz que foram 24 anos de práticas de violência doméstica, sobretudo psicológica. O arguido nega o crime e processou a ex-companheira e um filho, por injúrias.

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