Gabriela foi morta e os colegas convocaram uma vigília por ela e por todas as vítímas de violência doméstica

Desde o início deste ano, já houve pelo menos 27 vítimas de homicídio num contexto de violência doméstica – 21 do sexo feminino e seis do sexo masculino.

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Daniel Rocha/ARQUIVO

Chamava-se Gabriela Monteiro. Tinha 46 anos. Nesta quarta-feira à noite, perto das 22h, junto ao Tribunal de Braga, foi degolada pelo homem com quem se casara e de quem já se tinha separado. O Theatro Circo, onde trabalhava há uma década, convocou uma vigília para as 21h30.

Não é um caso que ofereça grande dificuldade à Polícia Judiciária, que está a investigar este crime. O homem entregou-se numa esquadra da Polícia de Segurança Pública, dizendo que tinha ferido “a companheira com uma arma branca”, na Rua Professor Machado Vilela. Ainda foram accionados os meios de emergência, mas já só foi possível declarar o óbito.

“Viemos trabalhar de manhã e soubemos que a nossa colega tinha sido morta pelo ex-marido”, conta Paulo Brandão, director artístico do Theatro Circo. Ficaram todos em choque. Todos os dias a viam por ali a tratar de assuntos relacionados com a gestão quotidiana do teatro. “Sempre muito simpática, disponível, prestável.” Sabiam que “se tinha separado há pouco” do homem com quem se casara havia “dois ou três anos”, mas poucos sabiam que era vítima de violência doméstica ou que era alvo de perseguição e ninguém imaginava tal desfecho.

A proximidade mostra-lhes o quão transversal é o crime de violência doméstica. “Isto é uma coisa que nos afecta a todos”, salienta Paulo Brandão. “Temos 17 mulheres a trabalhar aqui. Somos uma estrutura de cultura, mas também uma instituição que quer marcar a diferença, que quer levar a sociedade a pensar.”

Não abriram as portas do teatro. Em solidariedade, a Companhia de Teatro de Braga – CTB cancelou o espectáculo que estava agendado para esta noite. Pelas 21h30, realizar-se-á uma vigília mesmo em frente ao velho edifício. Quem ali trabalha quer prestar homenagem a “Gabriela e a todas as vítimas de qualquer tipo de violência doméstica”. “Convidamos a cidade a juntar-se a nós, vestindo de branco e trazendo consigo uma flor”, lê-se num comunicado que emitiram à hora do almoço desta quinta-feira.

Gabriela não é a única vítima desta história. Há três crianças envolvidas. Gabriela tinha dois filhos de uma relação anterior. O suspeito de homicídio também tem um filho de uma relação anterior. 

Segundo a Procuradoria-Geral da República, “o coordenador do grupo de trabalho para a definição de uma estratégia contra a violência doméstica tem efectuado uma monitorização permanente dos homicídios em contexto de violência doméstica”. Atendendo apenas a este ano, já há “indícios seguros de morte ocorrida em contexto de violência doméstica” de 21 pessoas do sexo feminino, incluindo uma criança, e seis do sexo masculino. “Existem outros casos, designadamente com vítimas mulheres, que ainda não é possível assegurar com a necessária segurança que ocorreram em contexto de violência doméstica, aguarda-se que as investigações esclareçam os exactos contornos”, refere ainda o gabinete de imprensa do Ministério Público.

Permanece elevado o número de queixas apresentadas nos postos da GNR e nas esquadras da PSP. Conforme o Relatório Anual de Monitorização de 2018, naquele ano as forças de segurança registaram 26.432 participações de violência doméstica. Lisboa (5981), Porto (4614), Setúbal (2458), Aveiro (1804) e Braga (1801) foram os distritos com mais queixas.

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