A próxima austeridade será ecológica?

Em Portugal, num contexto agravado pela guerra económica sino-americana, com a Alemanha em recessão e com a nossa contínua dependência da importação de petróleo, devemos exigir aos partidos políticos que dêem prioridade máxima a este assunto.

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O crescimento económico não costumava ser aquilo que é hoje. A abundância e o conforto que damos como garantidos só se tornaram possíveis graças ao preço do petróleo ser infinitamente mais baixo que o do trabalho humano. Na versão moderna do jogo, o crescimento económico e o consumo de energia andam lado a lado.

Para compreender onde isto nos leva, precisamos de perguntar se o planeta terá abundância energética fóssil suficiente para alimentar este ritmo de crescimento. Em 1971, foi feita uma simulação para perceber de que maneira este jogo de crescimentos económico e populacional a ritmos exponenciais se comporta a longo prazo, sabendo que os recursos fósseis do planeta são limitados e que o planeta tem uma capacidade também limitada de digerir a poluição. A conclusão da simulação é que mantendo as condições actuais, de maneira genérica, o sistema colapsa.

No modelo, isto resulta:

  • do aumento não linear dos custos da tecnologia de extracção à medida que progredimos nas reservas;
  • do facto de que, em regime de crescimento, cada nova reserva representar cada vez menos tendo em vista as novas necessidades proporcionadas pelo crescimento;
  • do aumento não linear dos custos de tratamento dos efeitos da poluição e de recuperação dos solos;
  • do tempo de recuperação do planeta face à exploração excessiva e poluição resultantes;
  • dos nossos próprios atrasos em ler esses sintomas, a produzir consensos e a desenvolver tecnologia, pouco lucrativa, de resposta.

Passados 50 anos, os registos históricos impedem que fechemos os olhos a este cenário, até porque os sintomas da poluição são evidentes e com consequências económicas avassaladoras. Mas mais do que com o tipo de final, devemos preocupar-nos com a rapidez a que se desenrola. Podemos compreender isto em exemplos simples: a maior parte do crescimento dá-se de forma explosiva o que nos deixa sem margem de manobra se não fizermos o diagnóstico a tempo. Perante isto, temos dois tipos de reacção:

  • a negação da matemática e dos sintomas;
  • medidas de crescimento sustentável com base em energias alternativas.

Apesar de os governos mostrarem as linhas gerais de uma vontade de transição, são pouco transparentes sobre os custos financeiros e ecológicos, sobre os desafios dos novos recursos naturais e, como o caso alemão revela, sobre a inconsequência do processo de transição, se se insistir em crescer. Face às perspectivas pouco animadoras dos cenários e ao nosso estágio de desenvolvimento avançado, temos o direito de questionar: não será o crescimento sustentável uma falácia aritmética? Não será a sustentabilidade uma forma de austeridade energética (e portanto, económica) à qual nos teremos que habituar? E se for, a menos que o ITER (Reactor Internacional Termonuclear Experimenta) ​comece a funcionar, não será esta a única solução?  Face a tantas desigualdades, parece razoável que estejamos pouco dispostos a prescindir do nosso nível de consumo energético. Mas será que desta vez temos escolha?

Em Portugal, num contexto agravado pela guerra económica sino-americana, com a Alemanha em recessão e com a nossa contínua dependência da importação de petróleo, devemos exigir aos partidos políticos que dêem prioridade máxima a este assunto. Para além disso, não podem cometer o erro de omitir os custos sociais da sustentabilidade. Cada um de nós deve votar consciente da urgência da situação e deste dilema. E, se necessário, devemos exigir políticas e mecanismos de resiliência que nos protejam. 

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