Uma Caixa sem surpresas

Sem apelo nem agravo: PS, PCP e BE quiseram branquear o que foi a gestão da CGD nos tempos da governação Sócrates

Na última semana sucederam-se os comentários - uns mais envergonhados do que outros - sobre os desmandos que foram levados a cabo na CGD, nos anos da governação socialista de Sócrates. Vem isto a propósito da auditoria realizada ela Ernst & Young à CGD, tendo como foco os anos de 2000 a 2015. Confesso que nenhuma surpresa me assaltou com o resultado. 

Mas vale a pena começar pelo início e lembrar como surgiu esta auditoria. Em 2015, o Governo Costa decidiu anunciar ao país, com pompa política, que a CGD estava perto do descalabro financeiro, aparentando que o governo anterior - que tinha resgatado Portugal e o sistema financeiro da bancarrota - não tinha cuidado da banca em Portugal. Para que o melodrama encenado fosse maior, Costa e Centeno acenavam com uma necessidade de recapitalização do banco público na ordem dos cinco mil milhões de euros. Ora, face à pressão política do PSD, que exigiu uma explicação para aquele montante que implicava tão grande esforço dos portugueses, o Governo nunca explicou. Esteve sempre latente a verdade: os administradores escolhidos pelo PS queriam "gerir em facilidade" e cinco mil milhões de euros era o preço a pagar pela ambição do acionista Estado. Preço demasiado alto para os contribuintes. 

A verdade é que para garantir a solvabilidade e cumprir todos os rácios impostos pelas normas europeias era bastante metade daquele valor. Ao invés de assumir a sua ambição desmedida à custa do contribuinte que até o levava a contratar, com leis feitas à medida e salários elevados, vários novos gestores, o Governo de António Costa procurava - como sempre faz - atirar para o Governo Passos as responsabilidades.

Foi, pois, neste caldo político, que o PSD fez saber que iria exigir escalpelizar as várias gestões da CGD. Anunciámos e pedimos uma auditoria forense. Anunciámos e conseguimos - pese embora todas as artimanhas de todos os partidos de esquerda, a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito. E foi isto que provocou ao Governo a necessidade de anunciar a auditoria da qual agora se começa a conhecer resultados. Conclusão primeira: o Governo de António Costa apenas ordenou a auditoria à gestão da CGD entre 2000 e 2015 porque se viu obrigado politicamente a fazê-lo.

E assim começou um dos episódios mais tristes da democracia parlamentar: a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à Recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e à Gestão do Banco.

Nesta comissão parlamentar de inquérito, PS, BE e PCP deram as mãos e decidiram fazer uma barragem completa à descoberta da verdade. Mais: decidiram reduzir as audições ao mínimo, decidiram prescindir de documentos que os tribunais sucessivamente diziam que a CPI tinha direito a conhecer, decidiram votar contra a audição de depoentes essenciais (lembro que votaram contra a audição de Armando Vara!), decidiram contra a vontade de um presidente da comissão que se viu obrigado a demitir-se, decidiram impedir o uso de direitos potestativos, e, por fim, colocaram um fim extemporâneo à CPI.

Sem apelo nem agravo: PS, PCP e BE quiseram branquear o que foi a gestão da CGD nos tempos da governação Sócrates. Recordo-me bem da impotência que eu próprio, como coordenador do PSD, e o deputado João Almeida, como coordenador do CDS, sentíamos face a uma maioria silenciadora, mas musculada, de esquerda. Lembro bem o ar atónito dos jornalistas que acompanhavam aquela CPI perante as posições tantas e tantas vezes descaradas, sobretudo do PS e do BE, para silenciarem a verdade. Sim: esta CPI funcionou para a esquerda como uma espécie de "lavandaria" para "lavar branco" a vergonha que foi a aparente concessão de crédito de favor, os favores políticos, os financiamentos contra parecer, o controlo político partidário pelo PS e pelo governo Sócrates da gestão da CGD.

Valeu tudo e foi uma vergonha.

Conclusão segunda: a esquerda procurou branquear as gestões ruinosas da CGD e boicotou propositadamente a CPI.

Não me vou ater no comportamento hipócrita do BE em todo este processo. Ele é tão patente que dispensa comentários. Para o BE, tem valido a pena engolir todos os sapos a troco de migalhas de influência de poder e de implantação de uma agenda ideológica de extrema-esquerda na nossa sociedade. Também não vou perder tempo com o comportamento errático do PCP naquela CPI. Fez os equilíbrios possíveis entre a sua coerente ortodoxia e o apoio ao Governo, a troco da subsistência de um punhado de sindicatos à custa do Estado. Aliás, ainda hoje, tenho para mim que todo o processo da CPI à CGD teve muita influência na renúncia ao mandato de deputado do Miguel Tiago. Mas quero centrar-me no PS: porque é o adversário do PSD e porque é o responsável primeiro e último pela governação.

Este PS quis branquear o outro PS. Este PS quis que o país soubesse o menos possível do outro PS. Daquele que nomeou as administrações da CGD que permitiram financiamentos ruinosos para o banco público e para os contribuintes. Daquele PS que quis controlar partidariamente o banco público e, a partir do dinheiro da CGD, controlar também o BCP. Daquelas administrações que - segundo agora se sabe - atribuíram créditos ruinosos sem colaterais suficientes e sem pareceres favoráveis. Este PS, para ser conivente com o outro PS, fez o jogo jurídico para que não se conhecessem os principais devedores; boicotou o acesso à informação; desrespeitou os portugueses e quis esconder a verdade. Este PS não quis que os portugueses soubessem a vergonha que foi a gestão da CGD nos tempos do Governo Sócrates. Conclusão terceira e última: o PS que quis branquear o outro PS é o mesmo PS.

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