Médicos descrevem condições "precárias" no internamento pediátrico do São João

Falta de quartos com condições necessárias e espaço exíguo são algumas das queixas.

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Paulo Pimenta

As instalações são "precárias" e "indignas", os quartos de isolamento não têm "as melhores condições" e os profissionais "atropelam-se" num espaço "exíguo", descrevem vários médicos relativamente aos contentores provisórios do internamento pediátrico do Hospital de São João.

"Recebemos doentes complexos com necessidade de múltiplas especialidades, de todos os outros hospitais do Norte e da Área Metropolitana do Porto. Isto é a realidade nos nossos dias, com condições fisicamente precárias", descreve Maria João Batista, directora do Centro Pediátrico (CP) do Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ).

A responsável esclarece que a Ala Pediátrica aprovada pelo Governo não visa "criar de raiz uma pediatria" mas dotar o centro hospitalar do Porto de "instalações dignas, que permitam receber crianças e famílias de forma humana, enquadrada no século XXI e coerente com o nível de cuidados prestados".

Maria João Gil da Costa, oncologista pediátrica no São João há 30 anos, reconhece que os contentores do internamento, temporários desde 2011, "não têm tantos quartos de isolamento como às vezes são necessários, nem com as condições de que precisam", obrigando a uma "ginástica muito grande para gerir vagas". "Nós, médicos, fomos ao longo destes anos mais passivos, nossa culpa, por não termos insistido mais neste problema. Não temos insistido tanto como devíamos no problema das instalações", admite.

José Carlos Areias, cardiologista pediátrico no São João durante 36 anos, reformado, esclarece que os contentores acolhem "o internamento pediátrico geral, inclusivamente o da cardiologia, em péssimas condições".

"Os profissionais de saúde atropelam-se. A forma como médicos e outros profissionais trabalham é francamente má", diz o também membro da Comissão Nacional da Saúde Materna, da Criança e do Adolescente.

Estevão Costa, director de Cirurgia Pediátrica, assegura que aquele serviço "não tem condições", apesar de estar no hospital. "Estamos num piso que é uma cave, sem luz natural e com um número reduzido de enfermarias e enfermarias com seis ou sete crianças, sem o mínimo de conforto", descreveu. "Os profissionais trabalham em condições indignas", acrescenta.

O espaço "nem foi concebido para ter doentes internados", e está em causa "o serviço que, em todo o Norte, dá assistência às crianças vítima de queimadura". A directora do CP observa que a Ala Pediátrica implica apenas "os "custos inerentes à edificação do novo edifício", pois "não se prevê qualquer acréscimo de custos operacionais a cinco anos".

"Os recursos e a actividade serão os que já estão assegurados", frisou. Maria João Batista nota que o CP é constituído por cinco serviços (Pediatria, Neonatologia, Cuidados Intensivos, Cardiologia Pediátrica e Cirurgia Pediátrica), com valências "únicas" a Norte ou nacional.

Ao nível da oncologia pediátrica, foi "protocolada pela tutela" a "articulação e complementaridade" com o Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto. "IPO e São João são centro de referência em colaboração. A equipa multidisciplinar do São João garante valências que não existem no IPO, como os cuidados intensivos pediátricos ou a cardiologia pediátrica", descreve.

Segundo a responsável, a Cardiologia Pediátrica é "Centro de Referência de Cardiopatias Congénitas", "o único no Norte com capacidade para tratar, por cirurgia ou cateterismo, as crianças com doença cardíaca".

Já o Serviço de Neonatologia "é referência em inúmeras áreas", garantindo "o cuidado ao recém-nascido (RN) crítico, nomeadamente com cardiopatia congénita, a grandes prematuros, com patologia cirúrgica e doença complexa".

O Serviço de Cuidados Intensivos Pediátricos "garante cuidados a crianças com doença crítica com necessidade de suporte ventilatório, hemodinâmico ou de substituição renal". "É o único serviço no Norte que garante cuidados intensivos em crianças com trauma, doença neurocirúrgica e doença cardíaca", afirma.

O parlamento aprovou na terça-feira, por unanimidade, a proposta de alteração do PS ao Orçamento do Estado para 2019, de forma a prever o ajuste directo para a construção da Ala Pediátrica, cuja obra o director clínico do São João prevê arrancar em 2019 e concluir em 2021.