Apple investiga fábrica chinesa por trabalho forçado de estudantes

Estudantes de ensino vocacional eram obrigados a trabalhar na fábrica responsável pela montagem do Apple Watch, sob pena de verem os seus certificados retidos.

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Apple recorre a fornecedores chineses para montar os seus equipamentos Reuters/Issei Kato

A Apple está a investigar uma fábrica no sudoeste da China por alegadamente forçar dezenas de estudantes a trabalhar “como se fossem robots” na montagem do Apple Watch. A denúncia partiu de uma organização não-governamental, a SACOM, que acusa o fornecedor da Apple de obrigar os estudantes a trabalhar inúmeras horas e a fazer turnos durante a noite, sob pena de lhes reterem os certificados do curso vocacional.

A SACOM, organização com sede em Hong Kong que tem desenvolvido várias iniciativas contra o comportamento abusivo das empresas em relação aos estudantes e formandos, entrevistou 28 jovens que trabalharam na fábrica de Chongqing durante o Verão e todos disseram que não estavam ali voluntariamente e que foram obrigados a trabalhar horas extras e a fazer turnos durante a noite para poderem obter o seu certificado.

De acordo com o relatório da SACOM, publicado na semana passada e divulgado pela AFP, os jovens estudantes trabalhavam como estagiários, uma prática que, segundo vários grupos de defesa de direitos humanos, é muito utilizada na China. Na prática, os fabricantes aliam-se a escolas de ensino vocacional para suprir a falta de trabalhadores e preencher as carências de mão-de-obra quando é preciso responder à produção de novos modelos ou ao aumento da procura na época do Natal.

A legislação laboral chinesa permite os estágios nas fábricas em casos específicos, mas a SACOM descobriu que o trabalho “não tem nada a ver com a aprendizagem” e viola a lei.

"O nosso certificado seria retido pela escola se nos recusássemos a vir [trabalhar para a fábrica]", disse à SACOM um estudante que se especializou em comércio electrónico.

“Somos como robots nas linhas de produção”, relatou um outro estudante de 18 anos. “Repetimos o mesmo procedimento centenas e milhares de vezes todos os dias, como um robot”, acrescentou.

Outros estudantes disseram que foram colocados no turno da noite, das 20h às 8h, com intervalos mínimos e que a prática se generalizava em toda a fábrica.

A fábrica de Chongqing é operada pela Quanta Computer, fabricante de componentes electrónicos de Taiwan que também produz para outras marcas além da Apple. De acordo com a AFP, a empresa não respondeu às questões colocadas.

Já a porta-voz da Apple, Wei Gu, afirmou que o gigante norte-americano está a investigar, com carácter de urgência, “o relatório que dá conta de que os estagiários admitidos em Setembro estão a fazer horas extras e turnos durante a noite”.

Wei acrescentou que a Quanta Chongqing é um novo fornecedor da Apple e que já tinha sido auditada três vezes entre Março e Junho, sem que tenham sido detectados estagiários.

Porém, os estudantes entrevistados garantiram à SACOM que o trabalho dos estagiários é generalizado em toda a fábrica e que as linhas de montagem dos relógios da Apple que falharam no controlo da qualidade eram quase inteiramente compostas por estudantes.

A SACOM exigiu que a Apple investigasse e harmonizasse as práticas laborais com as políticas da empresa e com as do governo chinês local e central.

As denúncias da utilização de estagiários e estudantes para responder aos picos de produção em fábricas na China não é inédita. Ainda recentemente, o Financial Times dava conta de problemas semelhantes numa fábrica responsável pela montagem no novo iPhone X da Apple.

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