A maior colónia de pinguins-rei diminuiu 88% em 35 anos

Os cientistas não percebem o que causou este declínio, mas fenómenos climáticos e doenças podem estar na sua origem.

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A colónia de pinguins-rei em 1982 Henry Weimerskirch
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Vista aérea da colónia, em Dezembro de 2016 Peter Ryan
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Diminuição gradual do espaço ocupado pela colónia Henry Weimerskirch

A maior reserva de pinguins-rei (Aptenodytes patagonicus), situada na remota ilha Aux Couchons, no Sul do oceano Índico, decresceu 88% ao longo de 35 anos. Nos anos 80, era constituída por 500 mil casais de pinguins-rei, hoje são 60 mil. A descoberta foi feita por investigadores do Centro de Estudos Biológicos de Chizé, da Universidade de La Rochelle, em França, que usaram imagens de satélite de alta resolução para fazer uma estimativa dos casais que restam. O estudo foi publicado na quarta-feira passada na revista científica Antarctic Science.

A ilha Aux Couchons tem uma área de apenas 67 quilómetros quadrados (mais pequena do que a cidade de Lisboa), e situa-se a sudeste da ponta do continente africano. É uma das três ilhas do quase inacessível arquipélago de Crozet, parte dos territórios austrais franceses, que é reserva natural desde 1938. Quando esta colónia de pinguins-rei foi descoberta, identificada e fotografada naquela ilha, em 1962, ganhou automaticamente a distinção da maior colónia da espécie do mundo.

A partir das fotografias, que mostravam a superfície da ilha ocupada pela espécie, estimou-se que a colónia fosse constituída por 300 mil casais. Na década de 1980, a colónia tinha aumentado. Mas hoje, de acordo com as imagens de alta resolução captadas em 2017, que serviram de base para comparação, o número de casais de pinguins-rei é apenas 60 mil.

“Isto foi completamente inesperado e é particularmente significativo porque esta colónia representa quase um terço de todos os pinguins-rei do mundo”, disse Henri Weimerskirch, um dos autores principais do estudo e ecologista no Centro de Estudos Biológicos de Chize, que começou a estudar a colónia em 1982.

Do pico ao declínio

As estimativas dos anos 80 eram bem diferentes. As imagens captadas por um satélite apontavam para um aumento do número de casais: 500 mil. Ao todo, estimava-se que a colónia era então constituída por mais de dois milhões de pinguins-rei. Um pico para este grupo, que passou a ser a segunda maior colónia de pinguins de todo o mundo. Os anos 80 marcam também a última visita de um cientista à ilha Aux Couchons devido à fraca acessibilidade e ao isolamento.

Durante mais de uma década não houve estimativas acerca das alterações no tamanho desta colónia. Os dados sugerem que o número de casais tenha começado a diminuir no fim dos anos 1990 — que coincidiu com um aumento da temperatura das águas do oceano Índico, que empurrou temporariamente os peixes e as lulas (a base da alimentação destes pinguins) para longe do arquipélago. Este fenómeno afectou “negativamente as capacidades de alimentação” dos pinguins na ilha De La Possession, a 100 quilómetros este da ilha Aux Couchons, e os especialistas dizem que os pinguins-rei de Aux Couchons também foram afectados, lê-se no artigo.

“Isto resultou num decréscimo da população e fraco sucesso reprodutivo para todos os pinguins-rei desta região”, explicou Henri Weimerskirch, ao jornal britânico Guardian.

Esta pode ser uma das explicações para este decréscimo brusco, mas os especialistas descrevem outros fenómenos que tornam o caso mais complexo. Em 2005, foi identificada uma segunda colónia, mais pequena e próxima da praia, que não existia em 1962. No entanto, esta nova colónia (estimada em 17 mil casais) tem apenas uma pequena fracção do tamanho da colónia original e, à partida, não parece haver ligação entre o aparecimento da nova colónia e o desaparecimento de um número tão grande de indivíduos da colónia mais antiga. As doenças e parasitas (como as carraças) podem ser outro aspecto da equação, mas os cientistas salvaguardam que é necessário investigar-se mais. E o problema é premente, o declínio desta população “ainda está a acontecer" e as causas "parecem estar activas”, lê-se no artigo.

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