Um Trump sozinho no Canadá e com pouca vontade de "receber lições"

O Presidente norte-americano disse aos seus conselheiros que a passagem pela cimeira do G7 é "uma distracção" da histórica reunião com o líder norte-coreano, Kim Jong-un.

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Donald Trump Reuters/KEVIN LAMARQUE

O grupo das economias mais avançadas do mundo começou com cinco parceiros em 1973, mas rapidamente se alargou a seis e sete, com as entradas da Itália e do Canadá. Mais tarde, e enquanto a Rússia, os Estados Unidos e a Europa conseguiram falar a mesma língua, o grupo passou a ser conhecido como G7+1. Mas agora, com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, chovem propostas para uma designação mais em linha com os tempos modernos.

"Este G7 é duro e tem momentos de grande tensão – eu diria que tem sido muito mais um G6+1 do que um G7", disse no fim-de-semana o ministro da Economia e Finanças francês, Bruno Le Maire.

"Lamentamos que o nosso trabalho em comum ao nível do G7 esteja a ser posto em causa por decisões da Administração americana sobre comércio e taxas alfandegárias", acusou o ministro.

A sensação de que o Presidente dos Estados Unidos deixou de ser um aliado fiável – poderoso mas também previsível – nas reuniões do G7 não é de agora. No ano passado, à entrada para a sua primeira reunião desde que chegou à Casa Branca, Donald Trump já levava uma má notícia para os seus seis parceiros: ainda não tinha a certeza absoluta, mas em princípio iria tirar os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre a redução da emissão de dióxido de carbono.

Quando a decisão chegou, poucos dias depois, foi recebida com fúria, com indignação, com desalento – com tudo, menos com surpresa. Apesar dos vários sinais que já vinham da campanha eleitoral nos Estados Unidos, a saída do Acordo de Paris foi a palavra transformada em acto – as promessas de campanha, talvez apenas slogans para ganhar votos, deram lugar a uma realidade que o mundo já não conhecia há muitas décadas: no meio dos seus velhos aliados, o Presidente dos Estados Unidos era visto por muitos como um novo adversário.

E as previsões de que Trump acabaria por cair em si quando desse conta de que estava sozinho também parecem não ter resistido ao teste do tempo – não só o Presidente norte-americano tem relações cada vez mais complicadas com a maioria dos líderes estrangeiros, como é ele próprio quem tenta limitar os contactos ao mínimo.

Esta quarta-feira, a apenas dois dias do arranque da cimeira do G7, o jornal Washington Post deu conta do estado de espírito do Presidente norte-americano. Para Trump, a passagem pela região canadiana de Charlevoix, este fim-de-semana, é "uma distracção" da histórica reunião com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, marcada para terça-feira em Singapura.

"Em particular", relata o Post, "o Presidente disse na terça-feira a vários conselheiros que teme que a sua participação na cimeira do G7, no Quebec, seja um mau uso do seu tempo, porque tem posições diametralmente opostas aos seus parceiros em vários assuntos fundamentais – e não quer receber lições deles".

Por tudo isto, as expectativas para as conclusões da cimeira dificilmente poderiam ser mais baixas – se não houver guerra esta sexta-feira, o sábado será celebrado como se tivesse sido assinado um tratado de paz.

"Nestas circunstâncias, esta cimeira será um sucesso se não provocar uma ruptura aberta entre os Estados Unidos e os seus aliados. Tudo o resto será lucro", disse ao site da Deutsche Welle o professor de Relações Internacionais Roland Paris, um antigo conselheiro do primeiro-ministro do Canadá.

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