Uma violinista, um DJ e uma câmara que permite ver “o interior de um músico”

A câmara termográfica permite detectar discrepâncias de temperatura e "diagnosticar lesões e auxiliar também o treino de atletas”

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“Com esta máquina, há a possibilidade de detectar lesões e preveni-las” DR

Ianina Khmelik não é só russa, é “lusa-russa”, mas é também uma violinista experiente que executou um concerto de contornos psicadélicos e pedagógicos esta quarta-feira à noite, no salão nobre da reitoria da Universidade do Porto.

Se a música que debitou para o auditório lotado oscilou entre o clássico e o contemporâneo, já a temperatura corporal da violinista, projectada em tempo real sobre o seu corpo, com recurso a uma câmara termográfica, proporcionou um espectáculo de som e cor tornado ainda mais interessante à luz das aplicações médicas e científicas desta tecnologia.

“Achámos que poderia ter interesse para o diagnóstico de doenças ou lesões musculo-esqueléticas”, disse à Lusa Joaquim Gabriel, professor na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e mentor do projecto, que “atraiu a atenção dos artistas, neste caso de Ianina.

“Esta tecnologia tem sido, nos últimos anos, utilizada sobretudo em ambiente militar, mas cada vez mais encontramos outros nichos de mercado em que pode ser potencialmente útil, seja em isolamento de edifícios, na área de manutenção industrial ou na área médica”, explicou o docente na FEUP.

Para esta violinista da Orquestra Sinfónica do Porto, que tocou assistida pelo DJ Yur, “o principal objectivo foi mostrar o interior de um músico”. “Isto é o que realmente acontece dentro de nós quando começamos a tocar músicas cada vez mais difíceis, o percurso desde o aquecimento dos músculos até à apoteose, quando já ardemos por dentro”, relatou.

“Este concerto foi precisamente para isso, para todo o tipo de público perceber e ver que, com esta máquina, há a possibilidade de detectar lesões e preveni-las”, explicou a natural de Moscovo, de dupla nacionalidade.

De acordo com o mentor do projecto, a câmara termográfica permite detectar discrepâncias de temperatura na ordem dos 0,06 graus, pelo que, com este tipo de resoluçã,o é possível “diagnosticar lesões e auxiliar também o treino de atletas”.

Joaquim Gabriel acredita que “há sempre mais aplicações a descobrir” e, por isso, tem realizado “trabalhos na área de novos materiais, nomeadamente com outras universidades do país e com algumas empresas privadas”, de modo a aprofundar as aplicações desta tecnologia.

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