Seguranças do Urban Beach acusados de tentativa de homicídio

“Os arguidos sabiam que a cabeça aloja órgãos vitais e que os ferimentos daí resultantes poderiam determinar a morte dos ofendidos”, refere nota do Ministério Público.

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Daniel Rocha

O Ministério Público acusou três seguranças da discoteca Urban Beach de tentativa de homicídio, na sequência do espancamento de dois rapazes nas imediações do estabelecimento de diversão nocturna, em Lisboa, em Novembro passado.

Tudo se passou na zona das roulottes de comes e bebes do Cais da Viscondessa. Eram 6h30 quando os seguranças atacaram as vítimas com violência, por supostamente estas estarem a roubar clientes do Urban Beach. “Um dos arguidos desferiu num dos ofendidos um soco na face que o fez cair ao solo, local onde o atingiu com um golpe de navalha na coxa. Mal este ofendido se levantou o arguido desferiu-lhe nova chapada na cabeça que o fez cair novamente, local onde lhe desferiu um soco e um pontapé na cabeça”, descreve uma nota informativa da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa. “Juntou-se-lhe, entretanto, um outro arguido que desferiu também, nesse ofendido, um pontapé na parte de trás da cabeça”. Foi nesta altura que um amigo do rapaz que estava a ser espancado tentou socorrê-lo.

“Quando o levantava do solo foi projectado ao chão pelo terceiro arguido, que de seguida lhe saltou, de pés juntos, para cima da cabeça, local onde o atingiu (apesar de este ter protegido a cabeça com os braços)”, prossegue a mesma nota informativa, explicando que as vítimas sofreram vários traumatismos, lesões e fracturas. “Os arguidos sabiam que a cabeça aloja órgãos vitais e que os ferimentos daí resultantes poderiam determinar a morte dos ofendidos”, realça o Ministério Público.

Os três seguranças pertenciam à empresa PSG, que já em 2009 tinha tido problemas do mesmo género, quando um vigilante seu tentou matar também um cliente. Dois deles ficaram em prisão domiciliária na sequência do sucedido, mas graças aos recursos que apresentaram foram colocados em liberdade pelo Tribunal da Relação de Lisboa no mês passado e já neste mês, respectivamente. Uma situação com a qual a advogada de uma das vítimas, Sandra Cardoso, não se conforma: "Face à gravidade dos crimes não se concebe que não estejam em prisão preventiva." 

Já os advogados dos arguidos tencionam pedir a abertura da instrução, uma fase facultativa do processo no final da qual um juiz decide se existem indícios suficientes de crime para levar o caso a julgamento ou se, pelo contrário, o arquiva. 

Um dos jovens agredidos, Magnusson Brandão Gomes contou na altura que estava num grupo com mais três amigos. “Do nada apareceram os seguranças e vieram ter connosco. Perguntaram o que estávamos ali a fazer. Dissemos: ‘Estamos a passear’. Viemos cá mas ainda estamos a decidir se vamos entrar ou não, porque uns tinham dinheiro para pagar a entrada e outros não. Eles perguntaram se viemos curtir ou roubar. Nós respondemos que não. Eles disseram: ‘Vocês vieram foi para roubar’.” De seguida começaram as agressões. Que, como foram filmadas em vídeo e não constituíram caso único no sector da segurança privada, tiveram repercussões ao ponto de o Governo estar a alterar  as leis que regem esta actividade. 

O Urban Beach chegou a ser encerrado pelas autoridades na sequência deste episódio, tendo entretanto reaberto. A sua segurança, bem como a de outro estabelecimento nocturno da zona onde se registou um homicídio menos de um mês depois, o Barrio Latino, está agora a cargo da Anthea, empresa à frente da qual está o ex-superespião Jorge Silva Carvalho, condenado em tribunal em 2016 no chamado caso das secretas. 

 

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