Marcelo, o Presidente de alguns portugueses

Se no Reino Unido estima-se existirem cerca de meio milhão de Portugueses, porque foi o Professor marcar encontro com apenas 300, onde se incluíam artistas, académicos, cozinheiros e empresários?

Foto
Rafael Marchante/Reuters

Adivinhem lá quem veio fazer-nos uma visita? Isso mesmo, o Professor, o Presidente de todos os Portugueses, esteve por terras de Sua Majestade para uma visita de dois dias. Obviamente, lá fomos todos esperá-lo ao aeroporto com a bandeira do Benfica e a caixa de engraxar de sapatos já à espera no riquexó da vassalagem, mas desta vez nem sorrisos, acenos, ou sequer um passeiozinho pelo Soho com direito a selfie e tudo, tão curta era a estadia. Compreensível, tendo em conta o seu propósito de tranquilizar a comunidade portuguesa agora que o Reino Unido se prepara para sair da União Europeia.

Ora, se no Reino Unido estima-se existirem cerca de meio milhão de Portugueses, porque foi o Professor marcar encontro com apenas 300, onde se incluíam artistas, académicos, cozinheiros e empresários? Porque não prolongou o Presidente a sua visita? Não é a presente situação suficientemente grave e complexa e, por conseguinte, merecedora de maior atenção?

Uma coisa é certa, aqueles 300, por quem o Marcelo deu uma palavrinha à Theresa, já estão safos, os restantes 499700 é que eu não sei, e assim não posso dizer ser Marcelo, de facto, o Presidente de todos os portugueses. Meu, não é, nunca me telefonou ou mandou um email, nunca veio cá a casa bater à porta para um cafezinho e dois dedos de conversa, não teve o meu voto e por pertencer ao partido ao qual pertence nunca terá.

Explicou então o Marcelo como a comunidade portuguesa “é prestigiada e querida neste país“ , realçando a aliança histórica com Inglaterra. Infelizmente, não tivesse o Marcelo marcado encontro com a Theresa e talvez ainda escapássemos às carrinhas de deportação. Porquê? Porque agora a Theresa já sabe que existimos e que somos nós quem anda sempre à porrada em Vauxhall. Mas nem tudo é mau, porque assim a Theresa também ficou a saber que Portugal não é uma província de Espanha e o Algarve não é um país à parte, deste modo justificando o porquê de chamarmos Professor ao Professor.

E porque o número de crimes por motivos raciais não pára de aumentar, talvez não precisemos de quaisquer acordos ou benevolências por parte do governo do Reino Unido, pois os próprios ingleses já desde Junho que nos fazem sentir tudo menos queridos e desejados. Isso, sem esquecer a deslocalização de empresas cujos empregos são, afinal, a verdadeira razão da nossa presença aqui, e não o excelente, e sobejamente conhecido, clima britânico.

Mas contra tais forças o Marcelo pouco ou nada procurou fazer, ao invés tratando de proteger quem lhe é mais querido no meio de um Titanic onde ninguém quis embarcar, como se o Marcelo fosse apenas o Presidente de alguns portugueses. Ao mesmo tempo, faz-me lembrar a Edite Estrela aquando da sua visita a Londres há vários anos atrás. Interpelada sobre a situação política do nosso país obtive a seguinte resposta, ainda hoje emoldurada na minha parede: “Mas que posso eu fazer se sou apenas uma deputada do Parlamento Europeu?”...

Já de regresso o Professor ainda teve tempo de chamar velha à Rainha ao recordar tê-la visto quando ainda criança, e aqui confesso, Marcelo, estiveste bem. Mesmo se a rainha não tinha a mínima ideia do que estavas a falar. Ah, e já agora, Marcelo, um presidente eleito não se curva diante de uma rainha nem lhe beija a mão. Para a próxima já sabes. Um abraço e até breve.

Sugerir correcção
Comentar