“Olh’á bolinha!”

A bola de Berlim é um alvo a abater. Mas não pelo creme de pasteleiro e muito menos pela quantidade incomensurável de gorduras saturadas. É um alvo a abater fruto de vontades fiscais no pináculo da “silly season“

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PÚBLICO

Afinal, esqueçam lá os ciganos, o terrorismo, o “ÉfeÉmeÍ“ ou a Troika, porque ela ai está, a verdadeira culpada disto tudo, do desemprego, da precariedade, do aumento da idade de reforma, da emigração e do insucesso escolar, do aumento do IMI e das viagens pagas pela GALP aqueles três Secretários de Estado, com creme ou sem creme, com doce de morango ou nutella, ela mesmo, já adivinharam: a bola de Berlim!

 

A bola de Berlim é um alvo a abater. Mas não pelo creme de pasteleiro ou pelo açúcar generosamente polvilhado ao seu redor, e muito menos pela quantidade incomensurável de gorduras saturadas, todos eles responsáveis pelo aumento exponencial dos diagnósticos de “diabretes“ em conjunto com um sem número de casos de foro cardíaco em pleno areal. Não. A bola de Berlim é um alvo a abater fruto de vontades fiscais no pináculo da “silly season“.

 

Assim, para todos quantos queiram habilitar-se a calcorrear os areais doze horas por dia, por debaixo de um sol inclemente e sem direito a almoço, descanso, folga ou um mergulho no mar, preparem-se para apresentar atestado de robustez física e psicológica passado pelo médico de família, vacinas em dia, análises clínicas, licença de sanidade e higiene alimentar, exame aos dentes, prova de esforço, recipientes certificados pela ASAE (de fibra ou ventilados, forrados com papel vegetal e selo de inspecção à vista), braços e pernas depilados (pelo menos de acordo com a Capitania de Tavira) e as unhas arranjadas. E vá lá, vá lá, não se queixem por não serem precisos o domínio falado e escrito de sete línguas, sem esquecer o suaíli e os seus 11 dialectos, não menos de dez anos de experiência e um doutoramento em Filologia Românica e Germânica.

 

Agora a sério, quem vende bolas de Berlim na praia trabalha, por norma, por conta própria. Trabalham o dia inteiro para venderem 50 bolas e 20 garrafas de água, tendo de pagar ao pasteleiro, ao nadador-salvador para dar um olhinho ao caixote enquanto vai atender um cliente, à autarquia para ter a licença de vendedor, às Finanças a taxa de empresário individual e no fim à Segurança Social pela reforma que é sua por direito. De caminho, prepara-se agora para ser autuado por não ter em sua posse um balcão frigorífico, uma caixa registadora electrónica com ligação directa ao terminal das Finanças, pagamento multibanco e três casas de banho portáteis, uma para as senhoras, outra para os senhores e a terceira com apoios para cadeira de rodas e um fraldário.

 

Ora, estivessem os vendedores a trabalhar por conta dos Jardins Gonçalves ou dos Soares dos Santos deste mundo e, estou convencido, não teríamos o mesmo problema. E mesmo esses que se acautelem, ou não estivessem milhões de McBolas de Berlim já a caminho, hoje de Portugal, amanhã do mundo. 

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