Quando nem todos os estúpidos são ricos, mas todos os ricos são estúpidos

Nunca confiar num homem que passa mais tempo a disfarçar a careca do que o mau carácter

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Brendan McDermid/Reuters

Não é de todo surpreendente que Donald Trump esteja em risco de ser o próximo presidente dos Estados Unidos da América, um país em que, para muito boa gente, a liberdade de expressão vale menos do que o direito de posse de arma. Porque afinal é isso que Trump é: uma arma. Daquelas velhas em que o canhão encrava e que oferece elevadas probabilidades do tiro sair, literalmente, pela culatra, tornando ainda mais perigoso o facto dele ser uma Arma de Estupidificação cheia de Massa. Ou não tivesse a América do Norte sido o país que elegeu Ronald Reagan para o pomposo e auto-proclamado cargo de Líder do Mundo Lívre. Ronald, que não só partilha o mesmo primeiro nome do palhaço do McDonalds, mas cujo protagonismo do seu filme mais famoso, “Bedtime for Bonzo”, era dividido com um macaco a quem Reagan tentava ensinar moral. E falando em macacos necessitados de educação moral e ética, não esqueçamos George W. Bush, o epítomo do jock da típica comédia adolescente americana, com todos os defeitos agravados e nenhuma das suas qualidades redentoras. O mesmo Bush que, à semelhança de Passos Coelho, conheceu como primeiro emprego sério a liderança de um país, estágio pelo qual somos todos directa ou indirectamente responsáveis.

Independentemente do carácter político dos presidentes americanos, ou falta dele, há que reconhecer que, tal como Kim Jong-Un ou Vladimir Putin, o seu valor de entretenimento é astronómico o suficiente para ombrear com o carisma de Hitler, a raça de Churchil ou a influência de Ghandi. Quem não se recorda ainda de momentos charneira de W. (como ficou carinhosamente conhecido), como a vez em que deixou as ancas gingarem livremente numa angariação de fundos para a malária, quando massajou o pescoço desse grande e sexy icone da democracia europeia que é Angela Merkel ou simplesmente quando um peru o felaciou à força em público.

Assim, também Donald Trump funciona como a caricatura suprema do labrego gringo que há um século atrás dedicaria o tempo livre a passear de toga branca pendurando numa árvore o pescoço de todo cidadão cujo tom de pele pertencesse ao pantone errado e cujo poder de reflexão tende a ser inversamente proporcional ao seu saldo bancário. Isso vê-se quando envia do seu Iphone um Tweet a apelar ao boicote dos produtos da Apple, quando quer erguer um muro fronteiriço para impedir os mexicanos de entrarem num país fundado exclusivamente por imigrantes à custa do sangue dos nativos ou ainda quando afirma que o aquecimento global é necessário porque está frio em Nova Iorque.

Como dizia Einstein, apenas o universo e a estupidez humana seriam infinitas, e no respeitante à primeira, ainda não haveria certeza absoluta. E essa é precisamente a característica que torna Trump e os seus acólitos perigosos, a sua ilimitada estupidez tão próxima do poder, ou não fosse esse mesmo poder tão mais corruptivo quanto mais próximo estiver do estado absoluto, senão basta apreciar a Experiência de Prisão de Stanford do psicólogo Philip Zimbardo para perceber como isso é verdade.

Mas antes que nós, portugueses, nos consideremos politicamente mais afortunados, inteligentes e sensatos do que os norte-americanos, convém não esquecer que não só vivemos placidamente sob uma ditadura durante praticamente meio século, como saímos dela para abraçar uma outra quase de imediato, desta feita de carácter económico, mesmo que disfarçada de democracia de consumo.

Porque seja quem for o palhaço no palco, o rodeo continua e nós ficamos sentados a aplaudir.

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