Os jornalistas, a campanha e as redes sociais

Na hora de decidir, ninguém se lembra do “like” que fez ou das brincadeiras do “gerador de cartazes”

Foto
DR

A campanha eleitoral está há muito no terreno e são vários os comentadores, os pretendentes a fazedores de opinião (quem quer casar com a Carocinha?), que pregam acerca da futilidade dos argumentos dos candidatos partidários para nos convencerem a todos da sua bondade para votarmos neles.

Glosam com isso, ao mesmo tempo que nos puxam para a idiotice da polémica acerca dos cartazes, como se qualquer cidadão com dois dedos de testa votasse no Passos ou no Costa por causa de uns metros quadrados de papel… Que é ridículo que os dois grandes blocos candidatos tenham "entourages" de campanha tão medíocres, lá isso é, mas foquemo-nos no essencial.

Estão aqui em causa vários pontos. A saber: de um modo geral, as redacções estão cada vez mais curtas de profissionais com memória, capazes de utilizarem o “saber fazer” de quem não se deixa levar por argumentos melífluos na hora de os assessores políticos venderem o seu peixe; caso contrário, por que razão se deu tanta importância ao episódio dos cartazes, que não passa disso mesmo, um momento de diversão, quando as análises aos programas eleitorais mereceram tão pouca atenção?; basta ler com um bocadinho de atenção os trabalhos que são publicados acerca de como as equipas de assessores manipulam a informação que é tornada pública, para se perceber que o espírito crítico não medra nas redacções; insisto: quantos debates já foram feitos sobre os programas eleitorais e quantos espaços informativos houve sobre os cartazes?

Daqui resultam factos curiosos. O aligeirar da informação política está gradualmente a ganhar raízes, como comprovam os “tweets” a que meios como a TVI dão voz, sem cuidar de informar o telespectador quem é o “Silva” que o escreve e, mais ainda, se o palpite acrescenta alguma coisa de útil ao dever de informar.

Utilizar o argumento dos "novos tempos", em que as redes sociais são escolhidas como o ás de trunfo para ganharem eleições, é uma treta para desresponsabilizar quem tem a obrigação de ser objectivo e prestar informação de qualidade. Mais a mais, como diz o David Bowie, “isto não é a América”. Podem ajudar, mas ainda não a marcar o golo da vitória em cima do apito do árbitro. Desiludam-se os que pensam que as redes sociais ganham votos: na hora de decidir, ninguém se lembra do “like” que fez ou das brincadeiras do “gerador de cartazes”.

E se queixas há acerca da pobreza franciscana dos programas dos principais partidos, não esmoreçam, porque os boletins de voto vão ter direito a versão revista e aumentada, devido à miríade de candidatos. São mais do mesmo? Esperem um bocadinho e deixem-nos decidir pela nossa própria cabeça.

Jornalistas, campanha eleitoral e redes sociais pode até ser uma mistura complicada de gerir. Mas com um pouco de boa vontade e um bocadinho mais de sentido crítico a coisa até vai lá. 

Sugerir correcção
Comentar