O medo de ficar desactualizado

Não vale a pena exagerarmos no medo, muito menos no medo de sermos obsoletos. Ser desactualizado é muito relativo, pois nunca saberemos o que trará o futuro

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Arko Datta/Reuters

O mundo roda como sempre rodou, mas as pessoas mexem-se muito mais agora. Mesmo parados somos pressionados para sair da zona de conforto, nunca parar de aprender, estar sempre a acompanhar e a consumir as novas tecnologias. Dizem-nos que a velhice é o maior dos males ao mesmo tempo que nos tentam vender tudo e mais alguma coisa para a disfarçar e evitar. Os equipamentos tecnológicos que usamos, consumimos e descartamos espelham a sociedade que construímos. A vida é vertiginosa e nós os equilibristas que a desafiam sem vertigens, correndo pela corda-bamba da novidade.

É comum o desconforto das gerações mais velhas para com todas as mudanças tecnológicas, sociais e outras. O conflito de gerações sempre aconteceu e as vagas de inovação e modernização, capazes de grandes mudanças, são factos históricos. Mas suspeita-se que nunca ocorreram a esta velocidade, especialmente na tecnologia. Poderíamos relativizar, só que a tecnologia de vanguarda está cada vez mais presente na vida das pessoas, das empresas e das instituições.

As anteriores gerações não foram directamente preparadas para estas mudanças, por muitos motivos. Para além das questões culturais e outras, nos antigos sistemas de ensino e educação, formais e informais, valorizava-se muito a aquisição do conhecimento enciclopédico. Agora, cada vez mais, tenta-se reforçar a criatividade e a capacidade para analisar, testar e criticar o conhecimento e a novidade.

Então e será que as actuais gerações têm sido melhor preparadas para as incertezas e exigências do futuro? Será que, apesar da sua disponibilidade e valor que dão à novidade, conseguirão evitar ser velhos descartáveis? As actuais gerações são as mais bem preparadas para lidar com esse desafio, mas o futuro é imprevisível e a velhice inevitável.

Diz-se que as profissões mais bem pagas das próximas décadas podem ainda nem ter sido inventadas, então que esperar de um futuro tão incerto? Só resta estarmos minimamente preparados, mas sem exageros obsessivos.

A frenética busca pela constante novidade aprofunda o medo de perder a corrida da actualização e de ficar velho. Este ciclo e busca, que aparentemente pretende evitar a obsolescência natural, contribui para alimentar o medo da inutilidade. Em última análise, alimenta-se também, directa e indirectamente, o maior dos medos: o medo da morte.

Não quero acabar com pessimismos. A morte é assustadora, por isso remato falando de vida. Não vale a pena exagerarmos no medo, muito menos no medo de sermos obsoletos. Ser desactualizado é muito relativo, pois nunca saberemos o que trará o futuro. Importa é sermos e fazermos os outros felizes enquanto nos actualizamos e desactualizamos.

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