Quando um jogo de tabuleiro é melhor que um jogo de vídeo

Há de tudo e para todos os gostos, militares, de gestão, abstractos, educativos, tudo até onde a imaginação permite. Os jogos de tabuleiro não consomem energia para funcionar e podem ser feitos de materiais reclicáveis

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peddhapati

No momento em que escrevo este texto está a decorrer a maior convenção nacional de jogos de tabuleiro: Leiriacon. Sou um apaixonado pelos jogos de tabuleiro. Isto não resulta de qualquer espécie de saudosismo ou aversão tecnológica. Gosto simplesmente porque proporcionam experiências únicas, coisa que as plataformas de jogos electrónicas nem sempre fazem. Esforço-me por estar tecnologicamente atualizado, mas confesso que as horas de trabalho diárias passadas em frente aos ecrãs incentivam-me a querer distância deles sempre que possível.

Para começar, convém esclarecer que há muito mais vida para além do monopólio e do xadrez. Só a título informativo, só para se ter uma noção, saem mais de 2.000 jogos de tabuleiro novos por ano. Infelizmente este jogos não são muito conhecidos do grande público português. Muitos deles conseguimos apenas comprar em lojas de especialidade online, e quase todos têm de ser importados, à exerção de alguns jogos de criadores nacionais que rivalizam com os melhores do mundo (por exemplo: Madeira, Panamax, etc.). Refiro-me a jogos diferentes e realmente originais: uns onde se elimina completamente o fator sorte e tudo é estratégia; outros são temáticos, mas sem serem infantis; outros ainda são rápidos e capazes de colocar uma mesa de amigos a rir sem parar. Há de tudo e para todos os gostos, militares, de gestão, abstractos, educativos, tudo até onde a imaginação permite.

Então, mas o que os pode tornar superiores aos jogos de vídeo? Há vantagens ambientais, sociais e criativas. Os jogos de tabuleiro não consomem energia para funcionar e podem ser feitos de materiais reclicáveis. São modos de desligarmos dos ecrãs e sociabilizarmos, aproveitando toda a riqueza que a interacção direta e presencial tem, sendo excelentes motes para o convívio entre amigos e familiares em ambiente caseiro. É o modo de experimentar uma ideia original de autor, pois, ao contrário da indústria dos jogos de vídeo ligada às grandes empresas, aqui é possível ao autor propor directamente a uma editora lançar o seu próprio jogo, mais ou menos como acontece com um livro.

Mas existem hábitos sociais que dificultam a entrada dos jogos de tabuleiro na casa dos portugueses. Por exemplo, na Alemanha este jogos são muito populares. A nossa cultura de sociabilização e convívio acontece mais em cafés e espaços públicos que nas nossas próprias casas, e as actividades complementares ao convívio são outras. Podíamos apontar razões históricas, culturais, climáticas para isso. Curiosamente, muitos destes jogos incentivam a lógica, a gestão e a tomada de decisão racional. Pode não haver relação, mas nos países onde mais se jogam este tipo de jogos, entre famílias e amigos, são aqueles mais desenvolvidos e equilibrados. Pelo menos dá que pensar.

Seja como for, os jogos de tabuleiro nunca irão sobrepor-se aos jogos de vídeo, mas, em alguns casos, podem ser melhores opções. Importa é saber que existem e que há mais vida para além do comando, do rato e do teclado no que toca a procurar uma boa experiência de jogo em grupo.

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