Quando os azulejos encontram a Vira Retro

A Vira Retro nasceu em Maio de 2013 e permitiu que a sua criadora pusesse mãos à obra num projecto que alia artesanato com a sua paixão pela arte portuguesa

Foto
Luís Octávio Costa

O papel de parede na casa da avó, os azulejos e o mosaico hidráulico que forravam (e forram) o exterior e o interior de muitas casas. Estas são algumas das inspirações da Vira Retro, um regresso ao passado.

Adriana Santos, natural de Viana do Castelo, após uma Licenciatura em fotografia e um Mestrado em Artes Visuais e Intermédia, começou a pensar em criar um projecto que lhe permitisse debruçar-se sobre o seu interesse por artes gráficas. “Sempre gostei muito de material de escrita (de canetas, borrachas, lápis, cadernos, etc.). Gostava muito de os coleccionar; muitas vezes nem os usava, só os queria ter.”

Surgiu então a ideia: já que gostava desses materiais, que começaram a perder uso e impacto com o desenvolvimento e popularidade das novas tecnologias (nomeadamente dos computadores e dos tablets), Adriana pensou em “voltar às origens”, regressando à criação de cadernos e outros materiais de escrita. Nessa ideia esteve também presente o seu interesse pelas artes populares e tradicionais portuguesas.

Foto
Caderno com a imagem da Igreja de Nossa Senhora da Agonia Vira Retro

Assim, em Setembro de 2013, foi apresentado ao público a Vira Retro, uma marca focada no fabrico desses materiais com um toque especial debruçado, nomeadamente, nos azulejos e mosaicos portugueses. A CEO acredita que cada rua no Porto “tem cor e vida” graças às cores que decoram estas peças de cerâmica. De facto, é no Porto, mais especificamente nas Galerias Lumière, onde o P3 foi encontrar a pequena loja com os trabalhos de Adriana Santos.

Foto
Existem ainda marcadores da Vira Retro Vira Retro

Além do fabrico de cadernos, lápis e borrachas, todos estes materiais fabricados à mão, a Vira Retro lançou recentemente sacos 100% feitos de algodão. Estão a ser, ainda, desenvolvidos dois artigos novos: o azulejo em vinil autocolante decorativo e um pisa papéis em que Adriana está a trabalhar juntamente com Iva Viana.

Foto
Os cadernos têm vários tamanhos Vira Retro

Cadernos cosidos à mão

Foto
Lápis e borrachas são outros dos materiais produzidos na Vira Retro Vira Retro

Adriana gosta de desafios e desde o começo da Vira Retro que lhe têm surgido propostas que exigiram o máximo de si. “O maior desafio que tive foi uma encomenda gigantesca em que tive fazer três mil cadernos, todos cosidos à mão. Foi de doidos. Aceitei e fiz isso tudo sozinha.” Desabafou a própria, ainda assim, com um sorriso nos lábios. Outras propostas que tem recebido estão relacionadas com encomendas de cadernos com capas específicas, com frases de autores, ou mesmo cadernos para casamentos. A Vira Retro também tem recebido alguns pedidos do género vindos do estrangeiro.

Foto
O azulejo é um elemento inspirador no trabalho de Adriana Vira Retro

Apesar de estar neste momento sozinha a gerir o Vira Retro, Adriana revelou manter um espírito otimista ao pensar no que conseguiu pelas suas próprias mãos. “Eu procuro o contacto directo com as pessoas. Tenho cada vez mais lojas a procurarem o meu produto e, como faço muitas feiras de artesanato, tenho tido um bom feedback.”

A criadora da Vira Retro lembra-se bastante do papel de parede que era utilizado em casa da sua avó e do quanto aprecia esse estilo de decoração. Pode-se mesmo dizer que foi esse elemento que inspirou uma grande parte do seu trabalho. “Desde a minha infância que me lembro que as casas eram todas forradas com papel de parede e mosaico hidráulico. A minha avó ainda mantém a casa como era de origem: ainda tem o papel de parede e ainda tem o azulejo. Acho que foi quando olhei para o papel de parede e para os azulejos que pensei: ‘São estes os temas e grafismos que eu quero trabalhar!’”

Quando o P3 perguntou à Adriana qual seria o tipo de desafio gostava de receber um dia, a resposta deu-lhe que pensar. Ainda assim, aproveitou para nos falar de outro dos seus interesses: a moda. “Gosto muito de moda. Talvez um dia, se aceitarem os meus padrões para fazer tecidos, poderiam, mais tarde, passar a ser peças de roupa”.

Em relação ao futuro, Adriana imagina-se a fazer várias coisas. “Eu imagino-me a fazer quinhentas mil coisas, mas acho que esta [a Vira Retro] é daquelas que quero levar para sempre; é um projecto que adoro e que espero ter a oportunidade de trabalhar nele durante anos, e anos e anos.”

Texto editado por Luís Octávio Costa 

Sugerir correcção
Comentar